Em 1964, a revista americana Look, com seus seis milhões de exemplares semanais, dedicou a página dupla central a uma ilustração feita pelo artista Norman Rockwell. Na cena, uma menina negra, escoltada por quatro agentes federais a caminho de uma escola pública branca, passa diante de um muro onde se leem as pichações "nigger" e "KKK" (referência à organização supremacista Ku Klux Klan) e se vê a mancha de um tomate escorrendo, atirado contra o muro —ou contra ela. Era o auge do movimento pelos direitos civis nos EUA, cem anos depois de uma guerra civil que se propunha a evitar que tais coisas acontecessem.
A imagem de Rockwell se referia a um fato ocorrido oito anos antes em Clinton, cidade de 4.000 habitantes no racista estado do Tennessee, quando um grupo de doze meninas e meninos negros, aptos a ingressar na escola secundária, foram ofendidos e atacados durante dias pelos brancos da cidade, que não admitiam a integração racial em suas escolas. A essa agressão se juntavam os alunos brancos, ofendendo seus colegas negros, pondo-os a correr e os alvejando com giz e apagadores.
A chegada à cidade de repórteres dos jornais e revistas de Nova York forçou o governador do estado a garantir o direito daquelas crianças à educação, convocando 600 membros da Guarda Nacional em farda de combate e cem patrulheiros rodoviários para conter a ira da majoritária população branca. Com isso, o ginásio de Clinton se tornou a primeira escola integrada do sul do país e Jo Ann Allen, uma corajosa garota de 14 anos, o símbolo daquela luta.
Em 2016, Jo Ann, que seguiria a carreira da enfermagem, teve a glória de ver o quadro de Rockwell, um óleo sobre tela de 91 x 150 cm, ser pendurado pelo presidente Barack Obama numa parede da Casa Branca, com sua presença. Obama lhe disse que, se não fosse por ela, talvez ele próprio não estivesse ali para prestar-lhe aquela homenagem.
Jo Ann Allen morreu na semana passada em Los Angeles, aos 84 anos. Há um memorial em Clinton em homenagem à sua luta.
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