sexta-feira, 29 de junho de 2018

Com represas baixas, Santa Cruz das Palmeiras é primeira cidade a racionar água, OESP

SOROCABA – Com o nível dos reservatórios abaixo da média, o abastecimento de água começou a ser racionado, nesta quinta-feira, 28, em Santa Cruz das Palmeiras, no interior de São Paulo. A cidade de 30 mil habitantes é a primeira do Estado a adotar oficialmente o racionamento este ano. O fornecimento está sendo cortado das 8 às 16 horas para reduzir o consumo atual, de 10 milhões de litros por dia.
Moradores que forem flagrados lavando carros, calçadas ou desperdiçando água podem ser multados em até R$ 950, conforme lei municipal. De acordo com o chefe de gabinete Jorge Alberto Galimberti, por enquanto as pessoas estão sendo advertidas. “A ideia é orientar, mas se não houver colaboração, vamos passar a multar.” Das três represas, apenas uma está com o nível aceitável. As outras estão com volume abaixo de 50% - na Represa David, o fundo já está visível.
Segundo o Departamento de Água, este ano choveu 350 mm a menos que no mesmo período de 2017, com a última chuva em 10 de maio. “Estamos entrando em racionamento muito antes do que esperávamos. No ano passado, só foi necessário racionar no início de setembro”, disse o prefeito José Bussaglia, que assumiu a prefeitura na quarta-feira, 27 – a cidade teve eleições suplementares. Segundo ele, o município passa por racionamentos desde 2014 por falta de investimentos para ampliar as captações.
Racionamento de água
Santa Cruz das Palmeiras é a primeira cidade do Estado de São Paulo a anunciar racionamento neste ano Foto: Prefeitura de Santa Cruz das Palmeiras
A comerciante Mercedes Lacerda Felipe, dona do restaurante Avenida, armazena água num depósito próprio para não ficar sem o líquido. “Água é essencial no nosso ramo, mas todo ano, nessa época, acontece isso. Entra prefeito, sai prefeito e ninguém dá um jeito na água”, reclamou. O dono do lava-rápido Washlub, Ronei Souza, instalou um reservatório de 15 mil litros para manter o serviço. “Quando a água chega, a gente enche, senão não dá para trabalhar. Todo ano acontece, mas neste parece mais grave. Se não chover, vamos ter de comprar água”, disse.
Em Itu, região de Sorocaba, a Companhia Ituana de Saneamento informou que pode adotar o racionamento se o consumo continuar elevado. Uma campanha lançada para incentivar o uso consciente da água resultou em economia de 10%, mas a expectativa era de reduzir o consumo em 30%. Consumidores flagrados desperdiçando água estão sendo notificados. Das sete barragens de captação, duas – Itaim e Gomes – estão com nível baixo, em 60% da capacidade.

Conforme o Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (Ceptec) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, os últimos dias foram marcados por baixos índices de umidade do ar no Estado de São Paulo. Nos próximos dias, não haverá mudanças significativas no clima, permanecendo a condição de elevada variação de temperatura e baixos níveis de umidade relativa do ar, fatores que elevam o consumo de água e o risco de queimadas.

Governo de São Paulo recebe autorização para privatizar Cesp, R7


Uma lei estadual obrigava a Assembleia Legislativa a aprovar a venda da estatal paulista de energia



Governo de São Paulo vai privatizar a Cesp

Governo de São Paulo vai privatizar a Cesp

Ueslei Marcelino/Reuters 31.08.2017
A Cesp (Companhia Energética de São Paulo) informa que o estado de São Paulo já dispõe de autorização da Assembleia Legislativa para privatização da Companhia.
O esclarecimento, enviado em comunicado ao mercado, deve-se à decisão liminar do STF (Supremo Tribunal Federal) determinando que a privatização de estatais só pode ser feita com autorização legislativa.
O ministro Ricardo Lewandowski, do STF (Supremo Tribunal Federal) deferiu liminar nesta quarta-feira (27) para determinar que a venda de ações de empresas públicas, sociedades de economia mista ou de suas subsidiárias ou controladas exige prévia autorização legislativa, sempre que se cuide de alienar o controle acionário.
Processo
Segund reportagem do jornal O Estado de São Paulo, em março a previsão do governo era fechar em cerca de R$ 1 bilhão o valor na renovação da concessão da Usina de Porto Primavera, maior ativo da Companhia Energética de São Paulo. Este era um passo importante para destravar a privatização da empresa paulista.
O processo está parado desde setembro de 2017, quando o governo paulista suspendeu o edital por falta de interessados. A privatização da Cesp será feita em uma operação conjunta entre a União e o Estado de São Paulo. Um decreto publicado em janeiro deste ano facilitou o processo, ao permitir a venda da empresa associada a um novo contrato de concessão para a usina de Porto Primavera, que vence apenas em maio de 2028.

Fiasco na gastronomia, FSP

Para brasileiros em Moscou, estrogonofe russo perde de goleada

Estrogonofe servido no Café Pushkin, em Moscou
Estrogonofe servido no Café Pushkin, em Moscou - Una Stefanovic/Divulgação
Leio no meu amigo Carlos Maranhão que os brasileiros na Rússia para a Copa do Mundo estão se queixando do estrogonofe local. Parece que, apesar de inventado pelos chefs particulares de Ivan, o Terrível, o dito estrogonofe não se compara ao que se come no Brasil. É cortado em tiras, não em cubinhos. Não leva ketchup ou creme de leite, nem é servido com arroz e batata palha. E eles não têm as nossas variedades de frango e camarão. Para piorar, chamam-no de “estroganofe”. 
Brasileiros longe de casa vivem se decepcionando com a cozinha dos países que visitam. Outro amigo, perdido certa vez nos montes Tártaros, região a leste dos Urais paralela ao rio Volga, na mesma Rússia, entrou numa estalagem e pediu o que pensava ser o prato da região: o bife tártaro. O garçom solicitou ao meu amigo que o descrevesse. Ao ouvir que se tratava de carne moída crua, temperada com cebola picada também crua e coroada por uma gema de ovo definitivamente crua, ficou horrorizado. Não, os tártaros preferem seus bifes bem passados, explicou. 
Idem, quem pede um bife à milanesa em Milão recebe na mesa uma linda posta de carne cozida, escoltada por um suave molho de ervas, e não aquela carne surrada a martelo, desidratada de seus sucos naturais e condenada à asfixia ao ser empanada, como no Brasil. E cuidado ao pedir um cozido à portuguesa em Lisboa —existe e é ótimo, mas não leva banana, milho ou batata-doce, ingredientes que lhe foram acrescentados aqui.
E não me vá pedir um camarão à baiana em Salvador. Os baianos não o conhecem, nem precisam conhecer —porque, na Bahia, todos os camarões são, não à baiana, mas baianos mesmos, legítimos filhos e netos de camarões baianos. 
Incapazes de ler cardápios em cirílico, há brasileiros em Moscou que já teriam morrido de inanição se não fosse o limão na única receita que conseguiram ensinar aos garçons russos: a caipiroska. 
Ruy Castro
É um dos maiores biógrafos brasileiros, já escreveu sobre Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues.

Guerra intestina, FSP


Decisões desencontradas corroem o que resta de credibilidade ao Supremo Tribunal Federal



Da esquerda para a direita, os ministros do Supremo Tribunal Federal Marco Aurélio Mello, Cármen Lúcia (presidente da corte) e Ricardo Lewandowski
Da esquerda para a direita, os ministros do Supremo Tribunal Federal Marco Aurélio Mello, Cármen Lúcia (presidente da corte) e Ricardo Lewandowski - Pedro Ladeira/Folhapress
Na percepção popular, o Judiciário ainda é o menos avariado dos Poderes da República, mas o STF (Supremo Tribunal Federal) dá a nítida impressão de que está se empenhando em alcançar os outros dois nas avaliações negativas.
Pesquisa Datafolha deste mês mostrou que o Congresso Nacional é objeto de desconfiança de 67% dos brasileiros, seguido da Presidência, que é desprezada por 64%. O Judiciário em geral é reprovado por mais modestos 31%. Considerando apenas o STF, a taxa sobe para 39%.
É difícil até imaginar por que a Justiça ainda goza de certo prestígio. Boa parte das disfuncionalidades do país pode ser ligada a decisões tomadas nos tribunais. Para citar um caso recente, o TST acaba de alterar os termos de um acordo coletivo firmado em 2007 entre a Petrobras e trabalhadores, impondo do nada um prejuízo de mais deR$ 15 bilhões à estatal.
Quaisquer que sejam os motivos por que 67% dos brasileiros ainda confiam muito ou um pouco no Judiciário, a guerra intestina que integrantes do STF travam à vista de todos não ajuda a instituição. As decisões desencontradas de juízes singulares e turmas, tomadas em posicionamentos estratégicos e politicamente motivados, corroem o que resta de credibilidade à corte e minam a ideia de estabilidade jurídica, pela qual o Supremo deveria zelar.
Do jeito que estão as coisas, não são mais as leis e a jurisprudência que definem o destino de réus em casos de corrupção, mas o sorteio. Quem cai com a Primeira Turma se dá mal e quem fica com os ministros da Segunda tira a sorte grande.
Diferenças hermenêuticas e doutrinárias são legítimas, mas só enquanto não há um entendimento do colegiado. Depois que o plenário tomou uma decisão, ela precisa ser seguida por todos. Tentar contornar a posição majoritária recorrendo a estratagemas lembra a atitude de crianças mimadas, não a de juízes da mais alta corte do paísincumbidos de fazer cumprir a Constituição.
Hélio Schwartsman
É bacharel em filosofia e jornalista. Na Folha, ocupou diferentes funções. É articulista e colunista.