quinta-feira, 18 de dezembro de 2025

Cervejaria em Belém produz energia com caroço de açaí, FSP

 

Belém (PA)

Em novembro, durante cerca de duas semanas, líderes mundiais e empresários de grandes empresas se reuniram para a COP30, em Belém (Pará). Ali, principalmente na Zona Azul, discutiram sobre formas sustentáveis e, se possível, econômicas para gerar energia —de preferência, longe dos combustíveis fósseis, grande vilão da energia limpa.

A menos de 10 km do Parque da Cidade, que abrigou a COP, essas questões já estão bem resolvidas na Cerpa Cervejaria desde 2023. Por lá o óleo BPF usado na fornalha que gerava a energia para a fábrica foi substituído pelo singelo e onipresente (em Belém) caroço de açaí.

Trabalhador com uniforme vermelho, capacete e máscara protetora monitora grãos marrons sendo despejados de um equipamento industrial em uma esteira dentro de fábrica.
Caroço de açaí usado como fonte de energia na Cerpa Cervejaria - Reprodução/Reprodução

"Eu estava querendo trabalhar com biomassa para gerar a energia. E em fevereiro de 2023 tivemos a ideia de pegar o caroço úmido do açaí, que ficava na rua", lembra Alessandro Palheta, engenheiro e coordenador de manutenção industrial na Cerpa.

Mas o processo não é tão simples. Palheta explica que o caroço segue primeiro para uma limpeza, passando por uma espécie de peneira, que separa grãos, areias e qualquer outra coisa indesejada, que possa ser nociva para a caldeira —essas partes viram algo como um pó do açaí.

Então, o caroço seco vai para a fornalha, gerando energia para toda a fábrica. No fim, as cinzas geradas pelo processo voltam a ser misturadas com o pó que ficou da pré-limpeza para ser transformada em um composto orgânico, que volta em formato de adubo.

Os números também são impressionantes. No início do processo, em 2023, eram usadas cerca de 75 toneladas de caroço de açaí diariamente, ou algo em torno de 2.100 toneladas por mês. "Depois que começamos a compreender os procedimentos de queima e limpeza, esse número foi baixando", conta o engenheiro. Hoje, são usadas mensalmente algo entre 1.600 e 1.700 toneladas de açaí —ou pouco mais de 50 toneladas por dia.

Cinco frascos de vidro com tampa esférica contendo diferentes amostras de solo, alinhados sobre uma superfície branca. Cada frasco tem uma etiqueta com nomes: 'MANGUE', 'AREIA', 'MANGUE SECO', 'ARGILA' e 'MANGUE'. Ao fundo, ambiente industrial com estrutura metálica e pessoa com colete refletivo.
Etapas pelas quais passa o caroço do açaí, usado para produzir energia na Cervejaria Cerpa, em Belém - Sandro Macedo/Arquivo pessoal

E não falta açaí para o processo. A região de Belém produz mais de 200 toneladas de caroço diariamente. Ou seja, não falta açaí para gerar energia.

Todo o processo foi explicado mais de uma vez na própria COP30, em um estande da cervejaria na Zona Verde —Cerpa, aliás, é uma abreviação para cervejaria paraense. Alemães e japoneses precisaram conferir com os próprios olhos e visitaram a fábrica, que funciona desde 1966 às margens da baía do Guajará, e que ano que vem completa 60 anos.

Para completar, a própria cervejaria faz o tratamento da água que, depois, é doada para cerca de 120 famílias vizinhas diariamente.

Tanta energia é necessária para manter uma fábrica que é, sim, de grandes dimensões. A Cerpa tem capacidade para envasar 11 milhões de litros por mês. Atualmente, pouco mais da metade desse número é destinado para as cervejas de linha. O restante é para rótulos da Ambev, com quem mantém uma parceria.

Focada no mercado mainstream, a cervejaria é queridinha dos belenenses, principalmente por rótulos como a Cerpa Export (Cerpinha para os íntimos) e a Tijuca —que ganhou a versão Tijuca Silver, que destaca na embalagem que não tem glúten. As outras também não têm, mas não ganharam a referência por escrito.

A cervejaria busca recuperar o espaço perdido na região Sudeste, segundo o CEO Jorge Kowalski. Enquanto a Tijuca começa a ganhar visibilidade no Rio, a Cerpa Export volta, aos poucos, às prateleiras de São Paulo.

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