O professor da Faculdade de Medicina Aluisio Segurado, 68, que venceu as eleições para reitor na USP, disse que o resultado traz ao governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) um bom espelho sobre o que a comunidade acadêmica espera para os rumos da universidade.
Segurado venceu com ampla vantagem tanto na consulta aos alunos, docentes e funcionários, quanto na votação da assembleia universitária. Assim, seu nome encabeça a lista tríplice que será enviada ao governador —a quem cabe a decisão final.
"Saímos com muita vantagem na consulta e a assembleia confirmou o resultado. Acredito que com esse resultado, o governador tem um bom espelho sobre o que o rumo que a comunidade acadêmica gostaria de seguir nos próximos anos da universidade", disse Segurado à Folha.
Tradicionalmente, o mais votado pela comunidade universitária da USP é o escolhido, mas já houve casos, como em 2009, quando o então governador José Serra indicou o segundo colocado, João Grandino Rodas.
Também durante a ditadura militar, quando Paulo Maluf escolheu o diretor da Escola Politécnica Antônio Hélio Guerra Vieira, candidatos menos votados foram escolhidos.
A votação online ocorreu na última quinta-feira (27) em uma assembleia universitária. Segurado teve 1.270 votos, seguido da ex-diretora da ex-diretora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Ana Lúcia Duarte Lanna, com 713 votos, e do professor da Escola Politécnica Marcílio Alves, com 340 votos. Os três, portanto, integram a lista tríplice.
Não há prazo para Tarcísio indicar o nome que vai ocupar a reitoria, mas o novo ocupante do cargo vai tomar posse no dia 25 de janeiro do ano que vem e deve ficar no cargo até janeiro de 2030.
Em entrevista à Folha, Segurado disse que o maior desafio a ser enfrentado pela universidade nos próximos anos será a elaboração de um novo formato de financiamento para as universidades estaduais paulistas (consequência da reforma tributária, que acabará com o ICMS).
Por isso, defendeu que o novo reitor precisará ter habilidade para dialogar com todos os espectros políticos e conseguir minimizar os ataques de grupos conservadores e da direita contra a USP.
"Essa discussão vai exigir que tenhamos à frente da reitoria lideranças capazes de fazer essa articulação, com muita escuta e capacidade de fazer a sociedade ficar do nosso lado. Precisamos de um reitor que saiba dialogar com todo o espectro político que vai estar envolvido nesse debate."
Segurado destaca também que o novo reitor precisa estar preparado para lidar com a renovação do quadro político em São Paulo para a discussão do financiamento, já que o próximo ano terá eleição para governador e deputados estaduais.
Segurado foi pró-reitor de graduação da atual gestão do reitor Carlos Gilberto Carlotti Junior. Professor da Faculdade de Medicina e infectologista, ele dirigiu o Instituto Central do Hospital das Clínicas (HC) durante a pandemia de coronavírus.
Ele destacou como a USP foi importante durante a pandemia e teve seu papel reconhecido pela sociedade. Para ele, a universidade precisa encontrar meios de se mostrar atuante e participativa como naquele momento.
"Nós fizemos uma mobilização de guerra e em poucas semanas transformamos o HC para atender exclusivamente os pacientes com Covid. Em um momento tão crítico para o estado de São Paulo, a USP se colocou inteira à disposição da população e não poderia ser diferente, nós servimos à sociedade."
O professor da Faculdade de Medicina diz que os ataques registrados na USP nos últimos meses são consequência de uma sociedade polarizada e avalia que a forma de enfrentá-los é chamar esses grupos conservadores para o diálogo.
À frente da pró-reitoria de graduação, Segurado conduziu um diagnóstico sobre o preenchimento das vagas ofertadas e as taxas de evasão de cada curso.
Ele diz ter encontrado gargalos que precisam ser enfrentados para que mais jovens tenham a oportunidade de entrar, e se formar, na USP e também evitar desperdício de recursos públicos.
Ele explica que, nos últimos quatro anos, a universidade investiu em estimular a revisão dos currículos das graduações —com a mudança de mais de 140 projetos pedagógicos de curso. Segundo ele, a USP vive um momento único para a implementação dessas mudanças já que renovou 20% do seu quadro docente recentemente (foram contratados cerca de 900 professores).
"São professores jovens, dispostos e abertos a fazer as mudanças que os alunos de hoje requerem."

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