sábado, 31 de julho de 2021

Alvaro Costa e Silva - As maldades não podem parar, FSP

 Em recente coluna, ao relatar a agenda vazia do presidente, cheguei a uma conclusão óbvia: ele não trabalha. Ou, por outra, trabalha às avessas, no sentido de destruir qualquer projeto de nação. É um preguiçoso do mal, cujas maquinações têm um único objetivo: submeter os brasileiros a seu plano ditatorial de poder.

Não há como provar um só episódio de fraude nas eleições com urnas eletrônicas nos últimos 25 anos, mas ele quer porque quer —soluça, arrota, interna-se no hospital e mostra o ventre nu— que se volte à cédula impressa, a fim de tumultuar uma eleição que ao que tudo indica será desastrosa para o governo. Sua solução é simples: não haverá pleito. Se não gostar, vá se queixar aos "meus" generais.

Quando ele se cansa de mentir nas lives, usa a caneta Bic da desumanidade. Recentemente vetou, a favor dos planos de saúde, um projeto que facilitaria o acesso a remédios orais contra o câncer.

Como todos os sátrapas, Bolsonaro tem quem faça o trabalho repulsivo por ele. Investigada por divulgar fake news, a deputada Bia Kicis é a paladina do golpismo com voto impresso. Kicis trocou figurinhas com a líder da ultradireita alemã, Beatrix von Storch, e a levou até o presidente. O ministro Marcos Pontes (Ciência e Tecnologia) tirou uma foto com Von Storch, mas apagou o registro de suas redes sociais --para combinar com outro apagão, o do CNPq.

O secretário de Cultura, Mario Frias, esperou de braços cruzados a Cinemateca Brasileira pegar fogo. O coronel da PM André de Souza, chefe da Secom, autorizou uma postagem sugerindo o terror armado no campo. Uma dobradinha —Augusto Aras, da PGR, e Kassio Nunes, do STF, ambos indicados por Bolsonaro— está encarregada de acabar com a liberdade de expressão elegendo como alvo o professor Conrado Hübner Mendes. Nas agências e órgãos de controle, o aparelhamento ideológico é geral. Mãos à obra, patriotas, as maldades não podem parar.

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A deputada alemã Beatrix von Storch, vice-líder do partido de ultradireita AfD, durante encontro com Bolsonaro. - beatrix.von.storch no Instagram

sexta-feira, 30 de julho de 2021

MEI em vez de CLT: FecomércioSP redige proposta para regular trabalho em app, FSP

 

SÃO PAULO

O debate pela regularização do trabalhador que atua em plataformas digitais, como Uber, iFood, Rappi, 99 e Loggi, ganhou novo fôlego. Numa frente, a FecomercioSP preparou uma minuta de projeto de lei sobre o tema. Em paralelo, o Governo Federal avalia a criação de um grupo de trabalho para tratar do assunto, dentro do Ministério do Trabalho e Emprego, recriado nesta semana pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

A proposta da federação, que será apresentada a parlamentares com a expectativa de que seja encaminhada ao Congresso, prevê a obrigatoriedade de que o trabalhador se formalize como MEI (Microempreendedor Individual) ou faça contribuições para a Previdência como autônomo para poder oferecer serviços a partir delas.

A minuta também inclui na CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) a previsão de que o regulamento não diz respeito ao trabalhador que obtém serviços a partir das plataformas digitais.

O texto foi desenvolvido pelo Conselho de Emprego e Relações do Trabalho, presidido pelo sociólogo José Pastore, em conjunto com o Conselho de Comércio Eletrônico.

Durante abertura de evento nesta quinta-feira (29) que discutiu as relações de trabalho em plataformas digitais, Pastore afirmou que o trabalhador do setor não tem um emprego que possa ser enquadrado na CLT, pois sua relação com as empresas não pressupõe jornada de trabalho, pessoalidade ou vínculo a uma só empresa, entre outros pré-requisitos.

Por outro lado, o trabalhador que atua nesse mercado precisa de proteções, desafio enfrentado por diversos países mundo afora, disse.

A advogada e desembargadora federal do trabalho aposentada Maria Cristina Matioli, que coordenou a elaboração da minuta de projeto, diz que o texto apresentado buscou aproveitar as possibilidades que a legislação já oferece, em vez de criar novas figuras jurídicas.

No mesmo evento, Bruno Bianco, secretário-executivo do Ministério do Trabalho, disse que o governo está criando um grupo para tratar do trabalho em plataformas digitais.

A meta é chegar a uma proposta simples, que proteja os trabalhadores e dê segurança jurídica para as empresas, disse Bianco. "Faremos isso com a maior cautela possível para proteger os trabalhadores e as empresas e não inviabilizar a tecnologia."

Questionado sobre como funcionará e quais os objetivos do grupo, a pasta disse que ainda é uma ideia em estudo e, por isso, não comentaria.

O iFood vem se posicionando nas últimas semanas em defesa de uma regulação do trabalho via plataformas digitais.

À Folha, João Sabino, diretor de políticas públicas do iFood, defendeu a criação de um piso mínimo para o trabalho do entregador que não seja menor que o valor por hora do salário mínimo.

Sabino também defendeu um sistema de recolhimento de contribuições para a Previdência que somasse a renda do trabalhador em diferentes plataformas, para que o valor dos benefícios a que ele terá direito seja proporcional a seus ganhos, e maior transparência na relação com os entregadores em questões como exclusão de algum deles do serviço.

Sabino diz que é preciso deixar a ideia de que o entregador é um parceiro empreendedor, ele deve passar a ser tratado como trabalhador.

"Estamos falando aqui de trabalhadores com especificidades bastante claras que impedem a aplicação da CLT, mas que precisam de seguridade social e outros direitos."

Ainda não há consenso no setor a respeito de qual seria a proposta ideal.

Vitor Magnani, que preside o Conselho de Comércio Eletrônico da FecomercioSPe e também a associação ABO2O, que reúne 150 plataformas digitais, afirmou, no evento da FecomercioSP, que é preciso ouvir os trabalhadores, a partir de seus sindicatos e associações, para entender quais suas reivindicações.

"Não é um diálogo simples. Não podemos ter urgência, sob pena de cometer vários erros e impedir o desenvolvimento de um setor que está no minuto um do primeiro tempo."

Magnani também disse que as empresas não devem cair no erro de fazer populismo corporativo, pedindo mudanças sem aplicar as normas que já estão disponíveis.

Ele defendeu que, mesmo antes de qualquer mudança na lei, as empresas adotem imediatamente a figura do MEI como obrigatória para o trabalho em suas plataformas e criem fundos próprios para dar garantias para os prestadores de serviço em casos como acidentes. "Há muita coisa que se pode fazer desde já na iniciativa privada."

O executivo também disse que deve-se evitar propostas que demandem a criação de sistemas complexos para sua viabilização, sob o risco de elas não saírem do papel.

Em nota, a ABO2O acrescentou que que elabora estudos sobre o futuro do trabalho e experiências de outros países e construindo entendimento técnico a respeito do trabalho em plataformas digitais, considerando a realidade de cada aplicativo. Diz estar aberta ao diálogo e que acredita em saídas com instrumentos jurídicos já em funcionamento que garantam a todos a proteção social..

Entre as associadas da entidade estão a Loggi, 99 e Rappi. Outra associação, a Amobitec, que inclui iFood e Uber, não comentou o assunto.

A Loggi afirmou que todos os entregadores de seu serviço são microempreendedores individuais, podendo contribuir com o sistema previdenciáriotendo acesso a aposentadoria e ter coberturas como auxílio-doença.

Gil Almeida Santos, presidente da Febramoto (Federação brasileira dos Motociclistas Profissionais) vê o debate com ceticismo.

Santos diz que as empresas estão buscando artifícios para, indicando demonstrar preocupação com o trabalhador, evitar o cumprimento da lei trabalhista atual. "Se houvesse preocupação com trabalhadores, elas não davam tantas voltas para ficar na mesma situação."

Ele afirma que a legislação trabalhista já oferece instrumentos para permitir um trabalho flexível que dê proteção ao trabalhador, entre elas o trabalho intermitente e a possibilidade de terceirização da atividade principal da empresa.

Na avaliação de Santos, a adoção do MEI para o trabalhador em aplicativos é uma forma de precarização.

"O MEI tinha como prerrogativa inserir os trabalhadores da informalidade na formalidade. E está sendo usado para fazer o contrário."

O debate sobre direitos dos trabalhadores em apps ganhou espaço com paralisações convocadas por entregadores de aplicativo a partir em 2020.

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Um investidor chinês para chamar de seu, Tatiana Prazeres, FSP

 Quando a Ford anunciou neste ano o encerramento das operações no Brasil, governadores olharam para a China em busca de empresas interessadas nas instalações que ficariam para trás.

Quando a Mercedes comunicou o fechamento da fábrica no interior de São Paulo, foi também para os chineses que as atenções se voltaram.

Armazém de grãos da empresa chinesa Cofco, às margens de rodovia entre as cidades de Sinop e Sorriso, em Mato Grosso - Zanone Fraissat/Folhapress

Não sem motivo. Em pouco tempo, a China se posicionou como um dos maiores investidores no Brasil.
O foco das empresas chinesas ampliou-se ao longo dos anos.

A chamada primeira onda de investimentos, até 2010, tinha como objetivo garantir acesso a produtos básicos, como petróleo, minérios e soja.

Num segundo momento, os chineses passaram a enxergar o Brasil também como um mercado consumidor e, assim, vieram investimentos no setor industrial, como em carros, motocicletas e aparelhos de ar-condicionado.

A terceira onda foi marcada por investimentos em serviços, especialmente na área financeira e em transporte por aplicativo. Depois, na quarta fase, ocorreram operações vultosas em energia elétrica e infraestrutura no Brasil.

Apesar de a trajetória sugerir diversificação, os investimentos são concentrados no setor de energia, incluindo eletricidade e petróleo, o que responde por 76% do valor total, segundo um estudo do Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC) que será lançado em 5 de agosto.

Vários analistas esperavam que, com a crise econômica associada à pandemia, a China fosse ampliar seus investimentos no exterior. Foi assim em 2008, quando a crise financeira desvalorizou ativos mundo afora e fez aumentar o apetite chinês por bons negócios.

Agora, no entanto, mesmo com a moeda valorizada, os chineses não foram às compras, para a frustração de muitos. Desde o auge em 2016, a China passou a ser mais criteriosa ao investir no exterior, inclusive em função de novas exigências legais. Em 2020, manteve o fluxo de investimentos no exterior elevado, mas não o expandiu como na crise anterior.

Em vez de investir mais, a China reavalia estratégias e tira o pé do acelerador. Reconsidera projetos inclusive no contexto da Nova Rota da Seda. Ao mesmo tempo, por tensões geopolíticas, o investimento chinês tem encontrado mais resistência em países como EUA, Austrália e mesmo na Europa.

Além disso, empresas de vários setores veem boas oportunidades no próprio mercado chinês —que, em 2020, foi o campeão mundial de atração de investimento externo direto (IED). Enquanto os fluxos globais caíram em mais de 30%, o IED para a China subiu. A percepção de muitas empresas chinesas é de que os bons negócios estão no próprio país.

Quando, em 2019, o governo brasileiro buscava investidores estrangeiros para dois leilões do pré-sal, Bolsonaro usou a visita à China para promover os projetos.

A realização dos leilões logo depois revelaria que, se não fosse pelas empresas chinesas, não haveria estrangeiros interessados no investimento.

Em 2018, o então candidato havia dito que a China não queria “comprar do Brasil”, mas queria sim “comprar o Brasil”. Pois não demorou para que viesse a Pequim buscar mais investimento chinês. As cenas dos próximos capítulos incluem o desenrolar da privatização da Eletrobrás.

Hoje, das 27 unidades da Federação, 23 contam com investimentos chineses, segundo o estudo do CEBC. Atrair investimentos é um grande objetivo de governadores nos seus contatos com a China.

Já era assim antes da pandemia, passa a ser ainda mais agora. O fluxo de IED no Brasil despencou assombrosos 62% em 2020, segundo a Unctad. E é justamente em tempos bicudos que esses investimentos são especialmente necessários.

Todo mundo quer um investidor chinês para chamar de seu —até mesmo Bolsonaro, relutantemente.