Um dos problemas da democracia é o desencontro temporal. Políticos, que dependem de eleições periódicas para manter-se no poder, pensam e agem em lapsos temporais de quatro anos. Até funciona para algumas coisas, mas não para tudo. Não são poucas as obrigações do poder público que cobram planejamento e execução em horizontes bem mais dilatados.
O exemplo clássico é o saneamento. O Brasil amarga índices vexatórios de baixa cobertura, entre outras razões, porque construir rede de água e esgoto é um processo lento, caro e que envolve obras debaixo da terra, isto é, de pouca visibilidade. Pior, os benefícios do saneamento, que se medem em redução da mortalidade infantil, melhora da saúde pública, do desempenho escolar, da produtividade e da qualidade de vida, embora transparentes para a ciência, não são tão óbvios para o eleitor. Pouca gente associa o destino de dejetos a esses indicadores sociais.
A estabilidade monetária é outra área em que a diferença de perspectivas pode custar caro ao país. Torrar dinheiro público para assegurar a reeleição é sempre uma tentação. Não é difícil empurrar a conta para administrações futuras. Dirigentes petistas juntam esse apetite natural de políticos com a crença pouco razoável de que equilíbrio fiscal não passa de uma cortina de fumaça da Faria Lima para sacanear os pobres e promovem gastanças pantagruélicas. Ao que tudo indica, a atual gestão de Lula acrescentará nada menos do quer dez pontos percentuais à dívida pública, que ultrapassará os 80% do PIB.
Para tentar conter as pressões inflacionárias decorrentes dessa política, o BC nomeado pelo próprio Lula vem prolongando a vigência da Selic em assustadores 15%. Com uma mão, o petista oferece bondades a pobres e outros grupos que podem ajudar a reelegê-lo e, com a outra, patrocina um formidável programa de transferência de renda para os ricos.
A conta ficaria mais barata e menos contraditória se políticos fossem menos imediatistas e se dobrassem aos interesses de longo prazo do país.

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