Com enorme atraso em relação a seus concorrentes, o SBT estreou nesta segunda-feira (15) um canal na TV por assinatura dedicado exclusivamente a notícias. O SBT News chega para buscar espaço num mercado que vem diminuindo de tamanho há anos e já conta com pelo menos cinco canais dedicados ao mesmo nicho. Quem acompanha tanta notícia?
Não surpreende ninguém que o lançamento do novo canal só tenha ocorrido após a morte de Silvio Santos (1930-2024) –um ano e quatro meses depois, exatamente. Ao longo de toda a sua trajetória como empresário de comunicação, ele raramente fez investimentos significativos em jornalismo.
Silvio achava que o custo do jornalismo e a audiência alcançada não compensavam o investimento. Também entendia que era um fator de aborrecimento, em função das reclamações e pressões que recebia. Diferentemente de outros empresários do ramo, não tinha prazer em usar o noticiário como uma ferramenta de poder. Como sempre deixou claro, Silvio achava mais conveniente elogiar políticos e empresários do que criticá-los.
Seu mantra era: "Jamais, na minha televisão, enquanto eu mandar, enquanto eu for dono, vai ter crítica. Só elogio. Só notícia, o fato. Não gosto que critiquem o presidente, o pedreiro, o farmacêutico, o faxineiro. Por que procurar só defeitos?". Ou, na formulação mais famosa, feita nesta Folha: "Eu sou um concessionário, um 'office boy' de luxo do governo".
Sem Silvio, o SBT está sob o comando de uma de suas filhas, Daniela Beyruti. Foi ela que deu sinal verde ao bem articulado Fábio Faria para desenvolver o projeto do SBT News. Casado com Patrícia Abravanel, outra filha de Silvio, Faria foi deputado federal de centro-direita por quatro mandatos e, em junho de 2020, assumiu o Ministério das Comunicações do governo Bolsonaro.
O então presidente, na ocasião, entregou: "Vamos ter alguém que não é um profissional do setor, mas tem conhecimento até pela vida que tem junto à família do Silvio Santos. É uma pessoa que sabe se relacionar e vai dar conta do recado".
Como se sabe, Silvio Santos cultivou a imagem de apolítico e bajulou, desde Médici, todos os presidentes da República. Mas é fato que manifestou um entusiasmo acima da média com Jair Bolsonaro. Pouco depois da eleição de 2018, falou na TV que esperava oito anos de governo com Bolsonaro e oito anos com Sergio Moro. "O país vai ter 16 anos de um bom caminho. Peço a Deus que isso se realize."
Silvio recebeu Bolsonaro em casa algumas vezes, participou de um Sete de Setembro ao lado do presidente, em Brasília, e abriu o SBT para participações de toda a entourage governista, incluindo largo espaço para os filhos 01 e 02 e todos os ministros.
A festa de inauguração do novo canal, na sexta-feira passada (12), causou espanto pela exibição de um holograma com a imagem e a voz de Silvio, criadas por IA, atribuindo a ele elogios públicos a essa iniciativa de seus herdeiros, algo difícil de acreditar que ele faria: "Hoje, a informação correta e profissional é essencial para ajudar as pessoas a crescerem, a conviverem bem umas com as outras e deixar o país mais forte".
Como ocorre sempre em eventos desse porte, a inauguração do SBT News contou com a presença de autoridades de todos os Poderes. O presidente Lula e o ministro Alexandre de Moraes, vice-presidente do STF, discursaram, fazendo menções a um fato ocorrido naquele dia, a revogação do nome de Moraes da lista de sancionados pela Lei Magnitsky.
Para os bolsonaristas mais fanáticos, a cerimônia causou enorme dor. Foi vista como uma traição do SBT ao ex-presidente. Freud explica. Na verdade, se houve alguma traição, foi a Silvio Santos.
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