Blecautes repetidos em 2023, 2024 e 2025 na Grande São Paulo? Simples: basta cancelar a concessão do serviço porco prestado pela Enel. Raciocínio infantil, pensamento mágico, manobra diversionista, mas vingou como único debate na praça.
O governador Tarcísio de Freitas e o prefeito Ricardo Nunes foram os primeiros a esbravejar. Cantando de galo, pediram cancelamento do contrato com a empresa de origem italiana, que assumiu a distribuição de energia em 24 municípios da metrópole em junho de 2018.
Solução fácil e errada. Só com muita ingenuidade dá para acreditar que a dupla bolsonarista tem o bem-estar da população em mira, e não transferir o ônus para o governo federal, ou seja, para o pré-candidato mais bem-colocado nas pesquisas eleitorais para presidente.
Não menos simplório é vociferar contra a privatização do setor elétrico, como se todo o mal do mundo nascesse da busca de lucro privado, usurpador do monopólio natural e benevolente do Estado. Quem defende essa tolice deve ter saudades da Telesp e de pagar milhares de dólares para comprar uma linha telefônica fixa.
Escorraçar a Enel não resolve nada. Não há empresa no mundo com capital suficiente para pagar conta da omissão de sucessivos governos, de todos os níveis e orientações ideológicas, diante da mais que prevista crise climática.
Tarcísio e Nunes militam no campo político sempre pronto a duvidar do aquecimento global, como faz o presidente do país cuja bandeira levam para a avenida Paulista. Seus correligionários do direitão rural-negacionista estão aí para não deixá-los sozinhos, enquanto desfilam com a boiada do marco temporal e do PL da devastação no Congresso.
O bloco estatizante não faz melhor. Enche a boca para prometer transição energética justa, sem enrubescer, usando a renda da exploração de combustíveis fósseis para pagar a conta do agravamento do efeito estufa provocado pela queima de... combustíveis fósseis.
Entendeu? É o carbono, estúpido.
Tempestades e vendavais que se abatem mais e mais sobre a região metropolitana são resultado da mudança do clima. Simples assim. Agora até ventania de 100 km/h sem chuva, algo inédito por aqui, derruba árvores, postes e cabos elétricos.
Quanto custa essa destruição para a economia, a vida cotidiana, as famílias que perdem parentes? Cabeças-de-planilha, à direita e à esquerda, não fazem o cálculo prudencial. E não vão fazer, porque aí teriam de encarar o elefante na sala e tomar providências com enorme custo social.
Fala-se em enterrar a fiação em São Paulo. Dependendo da área considerada na metrópole paulista, estimativas variam entre R$ 90 bilhões e R$ 320 bilhões. À quantia estratosférica se contrapõem prejuízos que parecem modestos, como R$ 2 bilhões perdidos pelo comércio no último apagão.
E sua repetição? E as horas de trabalho desperdiçadas no trânsito, nos estabelecimentos fechados, na limpeza de casas e lojas invadidas pela lama? E os alimentos estragados na geladeira, os móveis arruinados, os eletrodomésticos queimados, os veículos com perda total? E as mortes evitáveis, a piora da saúde mental, os ambulatórios lotados?
Essa conta ninguém quer saber de assumir.

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