quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

A morte devagar

por Martha Medeiros

Com livre interpretação de Antonio Abujamra no Provocações TV Cultura

Morre lentamente quem não viaja, quem não lê, quem não ouve música, quem não encontra graça em si mesmo.

Morre lentamente quem destrói o seu amor-próprio, quem não se deixa ajudar, morre lentamente quem se transforma em escravo do hábito, repetindo todos os dias os mesmos trajetos, quem não muda de marca, não se arrisca a vestir uma nova cor ou não conversa com quem não conhece.

Morre lentamente quem faz da televisão o seu guru.

Morre lentamente quem evita uma paixão, quem prefere o negro sobre o branco e os pontos sobre os "is" em detrimento de um redemoinho de emoções, justamente as que resgatam o brilho dos olhos, sorrisos dos bocejos, corações aos tropeços e sentimentos.

Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz com o seu trabalho, quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho, quem não se permite pelo menos uma vez na vida a fugir dos conselhos sensatos.

Morre lentamente, quem passa os dias queixando-se da sua má sorte ou da chuva incessante... Morre lentamente, quem abandona um projeto antes de iniciá-lo, não pergunta sobre um assunto que desconhece ou não responde quando lhe indagam sobre algo que sabe.

Evitemos a morte em doses suaves, recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior que o simples fato de respirar. Somente a perseverança fará com que conquistemos um estágio pleno de felicidade.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

A vida bate ( trecho do G1) , por Ferreira Gullar

“Alguns viajam:

vão a Nova York,

a Santiago do Chile.

Outros ficam

mesmo na Rua da Alfândega,

detrás de balcões e de guichês.

Vista do alto,

com seus bairros e ruas e avenidas,

a cidade é o refúgio do homem,

pertence a todos e a ninguém.

São pessoas que passam sem falar

e estão cheias de vozes

e ruínas.

És Antônio ?

És Francisco ?

És Mariana ?

Onde escondeste o verde

clarão dos dias?

E passamos

carregados de flores sufocadas.

Mas, dentro, no coração,

eu sei,

a vida bate.

Subterraneamente,

a vida bate.

Em Caracas, no Harlem, em Nova Delhi,

sob as penas da lei,

em teu pulso,

a vida bate.

E é essa clandestina esperança

misturada ao sal do mar

que me sustenta

esta tarde

debruçado à janela de meu quarto em Ipanema

na América Latina”

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Centro de pesquisa em bioetanol é inaugurado em Campinas

Por Fábio Reynol, de Campinas (SP)

Agência FAPESP – O Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE) será inaugurado na tarde desta sexta-feira (22/1), em Campinas (SP), pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O CTBE deverá reunir esforços de instituições de pesquisa de todo o país que atuam no desenvolvimento do bioetanol, inclusive laboratórios da iniciativa privada.

Concebido em 2007, o laboratório contou com investimentos da ordem de R$ 69 milhões e já possui pesquisas em andamento, muitas delas com o apoio da FAPESP. “A Fundação paulista já investiu cerca de R$ 2 milhões em trabalhos que já estão em andamento no CTBE”, informou o diretor da unidade, Marco Aurélio Pinheiro Lima.

Segundo Lima, o CTBE nasceu a partir de um estudo que levantou os desafios da produção brasileira de etanol para os próximos 15 anos. Uma das metas do estudo era responder se seria possível multiplicar por dez a produção atual de álcool até o ano de 2015 e de forma sustentável. O futuro montante equivaleria a 250 bilhões de litros anuais, o que seria suficiente para substituir 10% da gasolina consumida no planeta, de acordo com o estudo.

“Muitos dos gargalos identificados demandam investimentos em ciência para resolvê-los”, conta o diretor. Por isso, o CTBE foi concebido de modo a abranger pesquisas relacionadas a todas as etapas de produção do etanol, desde a plantação até o desenvolvimento de motores automotivos.

A abrangência dos trabalhos coincide com a do Programa FAPESP de Pesquisa em Bioenergia (BIOEN), que deverá contribuir com o laboratório e também se beneficiar da sua infraestrutura. Essa é a opinião do professor da Universidade de São Paulo, Marcos Buckeridge, diretor científico do CTBE e coordenador da divisão de Biomassa do BIOEN. “Está se formando um sistema brasileiro de bioenergia que reunirá os trabalhos de uma elite de especialistas espalhados pelo país”, anuncia o professor.

Etanol de celulose

Os esforços da pesquisa do CTBE estarão concentrados no desenvolvimento do etanol de segunda geração, produzido a partir da celulose da cana-de-açúcar, que, acumulada no bagaço e na palha da planta, hoje não é aproveitada, embora corresponda a dois terços da biomassa disponível.

Buckeridge explica que no coração dessa pesquisa está o processo de quebra da celulose. Na decomposição biológica essa massa é quebrada com o auxílio de enzimas que poderão ser estudadas a fundo nos laboratórios do campus do CTBE.

Ao lado da unidade, funcionam o Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS) e o Laboratório Nacional de Biociências (LNBio). “Estar perto dessas instalações nos dá acesso a recursos de primeira linha como o anel de luz síncrotron, que ajuda desvendar a estrutura das enzimas, e os softwares específicos de bioinformática, desenvolvidos pelo LNBio”, exemplifica Buckeridge.

Embora autônomos, o LNBio, o LNLS e o CTBE serão coordenados por uma instância que acaba de ser criada pelo governo federal, o Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), que terá como diretor o físico Rogério Cerqueira Leite.

Buckeridge ressalta ainda que o CTBE será o local onde os pesquisadores de bioetanol poderão testar seus resultados em processos industriais. O professor explica que os pesquisadores deverão interagir com os engenheiros do laboratório e, assim, adaptar a pesquisa acadêmica às necessidades da indústria. Esses testes serão executados em uma miniplanta industrial que está sendo construída e fará parte das instalações do CTBE.

Ainda na cerimônia de inauguração de sexta-feira, o CTBE assinará acordos para desenvolver pesquisas conjuntas com o Imperial College London, da Inglaterra; com a Lund University, da Suécia; e com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).

A partir de 2011, Buckeridge espera promover um megaexperimento em formato de workshop no qual todos os grandes trabalhos de pesquisa em bioetanol possam se apresentar. Um dos objetivos do evento será avaliar e acompanhar o estágio em que se encontra a pesquisa científica nacional em bioetanol.

Atualmente com 60 empregados, o CTBE espera ter cerca de 170 colaboradores fixos até 2013. Além do combustível, os trabalhos deverão desenvolver uma cadeia de subprodutos oriundos da cana-de-açúcar como polímeros e medicamentos, aos moldes do que ocorreu com o desenvolvimento do petróleo, de acordo com Buckeridge. “Esses novos materiais devem estabilizar a indústria da cana, que hoje vive oscilações porque só conta com dois produtos principais: álcool e açúcar”, prevê o especialista.

BIOEN FAPESP

O Programa FAPESP de Pesquisa em Bioenergia ( BIOEN) visa responder à demanda brasileira de desenvolvimento científico e tecnológico da produção de bioenergia, com destaque para a cana-de-açúcar. Para isso, o programa articula e estimula atividades de pesquisa realizadas em instituições públicas e privadas.

O BIOEN é organizado em cinco divisões temáticas: “Biomassa para bioenergia”, “Processo de fabricação de biocombustíveis”, “Biorrefinarias e alcoolquímica”, “Aplicação do etanol para motores automotivos” e “Impactos socioeconômicos, ambientais e uso da terra”.

DuPont e JBS fazem aliança para produzir metilato de sódio no país

TERÇA, 19 JANEIRO 2010 . VALOR ECONÔMICO


A multinacional americana DuPont e a gigante brasileira das carnes JBS firmaram uma parceria para produzir metilato de sódio no Brasil. O produto, que acelera a produção de biodiesel, será industrializado na fábrica da JBS em Pirapozinho (SP).

A decisão de produzir metilato de sódio no Brasil reflete o potencial do mercado de biodiesel no país, que desde o início deste ano está operando o B5 - mistura de 5% do biodiesel no diesel. O consumo nacional desse biocombustível está estimado em 2,4 bilhões de litros para este ano, o que significa uma demanda entre 40 mil a 60 mil toneladas de metilato de sódio. No mercado internacional, o consumo de biodiesel chega a 11 bilhões de litros e gera uma demanda de 220 mil toneladas de metilato de sódio.

A DuPont é uma das maiores produtoras de metilato de sódio do mundo e líder nos Estados Unidos. A JBS tornou-se uma produtora respeitável de biodiesel no país, após a incorporação da Bertin. Juntas, as duas empresas uniram o útil ao agradável. Em outras palavras, as duas empresas vão aproveitar as suas sinergias para negociarem o catalisador no mercado interno. Atualmente, a DuPont importa o metilato de sódio dos EUA.

"Seremos os primeiros produtores efetivos de metilato de sódio em larga escala no país", afirmou ao Valor Vinícius Soares, diretor da divisão de soluções químicas da DuPont para a América Latina. A unidade terá capacidade para produzir 60 mil toneladas/ano. A Basf anunciou, no mês passado, que colocará em operação sua primeira fábrica no país a partir do segundo semestre de 2011, também para 60 mil toneladas anuais. "A DuPont está acompanhando o mercado de biocombustíveis há pelo menos 10 anos. Apostamos no crescimento desse segmento. É um caminho sem volta", disse Soares.

A associação com um grupo da importância do JBS foi a maneira mais rápida para se avançar nesse mercado, segundo o executivo. A localização das fábricas da JBS também foi decisiva para firmar a parceria, disse Soares.

As negociações entre DuPont e a Bertin começaram antes mesmo do processo de incorporação do frigorífico pela JBS. Segundo Rogério Barros, diretor-executivo da divisão de biodiesel e óleo química da companhia, o grupo produz biodiesel em sua unidade de Lins (SP). Boa parte da matéria-prima para a produção de biodiesel da JBS vem do sebo do boi. Em 2009, o grupo negociou cerca de 90 milhões de litros de biodiesel por meio dos leilões realizados pela ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis).

Segundo Barros, a produção de biodiesel da JBS tem como foco o mercado interno. O grupo ainda não tem planos de produzir o biocombustível nos Estados Unidos, onde o frigorífico também tem fábricas instaladas.

A mistura de biodiesel no diesel em 5% estava prevista somente para 2013, mas o governo decidiu antecipar a medida, como forma de estimular a produção do biocombustível no país.

Muitas empresas, como as de soja e de sebo de boi, com maior competitividade em relação a outras matérias-primas, como dendê e pinhão-manso, aceleraram seus investimentos para fazer frente à nova demanda no mercado interno. De acordo com Soares, o metilato de sódio torna o custo de produção do biodiesel mais competitivo.

Mônica Scaramuzzo

Fórum Social Mundial: Brasil, outra potência é possível

Por Fabiana Frayssinet, da IPS


Rio de Janeiro, 22/1/2010 – Berço do primeiro Fórum Social Mundial (FSM), que nasceu como uma alternativa ao debate neoliberal, o Brasil está a caminho de se converter em uma potência econômica, segundo previsões dos analistas. A pergunta é que tipo de modelo seguirá para não trilhar o mesmo caminho tão criticado. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva costuma repetir em seus discursos no país e no exterior. Contudo, cabe aos seus ministros de todas as áreas expressar com programas e metas, inclusive o de Turismo, Luiz Barretto.

“O Brasil se perfila para 2016 como a quinta economia do mundo”, disse o ministro ao lançar o plano estratégico turístico para a próxima década. “Este excelente momento econômico que o país vive, sendo o último a entrar e o primeiro a sair da crise financeira mundial, o coloca definitivamente como uma nação que terá grande importância no cenário internacional na próxima década”, afirmou Barretto.

Francisco Barone, economista da Fundação Getúlio Vargas, confirma com dados. A potencialidade de um país se mede com o produto interno bruto. “Segundo o PIB brasileiro, o país se enquadra entre as dez maiores economias do mundo”, disse o economista. E a perspectiva é de crescimento, a caminho para ser um dos “líderes” do BRIC (Brasil, China, Índia, Rússia) em menos de cinco anos, previu. Uma perspectiva que Barone atribui ao grande mercado interno, de 190 milhões de habitantes, que consome grande parte do que é produzido.

Porém, também atribui a outras potencialidades do Brasil, como sua enorme matriz energética (incrementada após a recente descoberta de novas jazidas de petróleo), sua diversidade cultural, estabilidade econômica e capacidade de exportação. Desde produtos derivados do agronegócio até aviões da Embraer. Cândido Grzybowski, diretor do Instituto Brasileiro de Estudos Sociais e Econômicos (Ibase), uma das entidades que impulsionam o FSM desde o início, acredita que assim como “outro mundo é possível” (lema do Fórum) também é possível ser outro tipo de potência.

Entrevistado pela IPS antes do começo da décima edição do FSM, que começará segunda-feira, Grzybowski disse ambicionar um modelo de “potência” que, antes de tudo, supere suas próprias dívidas, como a enorme desigualdade social. Nos últimos anos, o Brasil teve alguns avanços nesse sentido, segundo Barone. Avanços destacados por estudos oficiais, como os do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

O Ipea revelou que, de 2003 a 2008, cerca de 19,5 milhões de pessoas saíram da pobreza, e que a renda de 10% dos mais pobres cresceu em ritmo maior do que os 10% dos mais ricos, “indicando também redução da desigualdade social no país”. Entretanto, ainda há muito a ser feito, segundo Barone. A dívida histórica da fome ainda não foi superada. Existem 15 milhões de pessoas em estado de insegurança alimentar.

“Para ser uma potência econômica, os desafios passam pela redução da desigualdade social”, por razões humanitárias, mas também pragmáticas, explicou. “Esses milhões de excluídos sociais transformados em consumidores exigirão mais da indústria nacional, a indústria produz mais, emprega mais e isso gera um círculo vicioso de crescimento”. Grzybowski se referiu a outros desafios da desigualdade brasileira, como a vinculada “ao direito à distribuição de todos os bens comuns desta terra que é muito rica”.

No Brasil, “parece normal ter propriedades de três mil, 200 mil, 500 mil hectares”. Um país onde os latifundiários, que “não chegam a 1% dos proprietários de terra, têm grande poder de veto no Congresso. Alguma coisa desta potência está errada”, afirmou. O diretor do Ibase (uma das organizações do comitê internacional do FSM) busca outro tipo de potência que, por exemplo, “não reproduza o modelo imperialista”, tantas vezes criticado no Fórum, que este ano acontecerá de maneira descentralizada em pelo menos 27 regiões de todo o mundo. Uma potência “positiva”, com uma agenda internacional “equilibrada”, afirmou ao se referir a casos como o da expansão da Petrobras em países vizinhos como a Bolívia, ou as negociações sobre Itaipu, hidrelétrica que o Brasil compartilha com o Paraguai.

Para o diretor do Ibase, é preciso fortalecer “ainda mais” a atitude de respeito a essas nações, reconhecendo que “há total assimetria nessa relação. Não podemos continuar fazendo o que o planeta fez com eles, como potência dominante. Temos de inverter essa relação”, disse, acrescentando que teme que o país comece a “tirar proveito da pobreza dos outros. Gostaria de ver um Brasil solidário, não um Brasil que disputa ser sócio do grupo exclusivo do G8 ou do G20, mas um país que promova a igualdade entre os povos, que aceite que é administrador de um grande patrimônio natural e que tem uma responsabilidade mundial”, disse Grzybowski.

No mesmo contexto, o diretor do Ibase deseja que seu país seja mais “radical na agenda de direitos humanos. Não podemos ficar fazendo acordos para conquistar mercados, ignorando as violações sistemáticas dos países com quem os fazemos”, disse ao se referir às nações africanas com ditaduras com as quais Brasília negocia. Grzybowski disse estar preocupado, por exemplo, “com o que a China faz na África”, e espera que o Brasil não se inspire no modelo dessa outra potência emergente. “É tirar partido da agenda do atraso em função do chamado interesse nacional chinês”, afirmou. “É esse o modelo que desejamos?”, perguntou.

O diretor do Ibase disse, ainda, que o FSM também poderia dar sua contribuição nesse sentido, incentivando por meio de suas organizações sociais uma agenda “progressista, democrática, igualitária, com justiça social. Uma agenda que redefina o modelo de desenvolvimento, que considere a justiça social associada à justiça ambiental, pode surgir apenas da sociedade civil”, afirmou. IPS/Envolverde


(IPS/Envolverde)

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

PLANTAÇÃO DE CANA CRESCE SEM DESALOJAR ALIMENTO- Deu na Folha

Trabalhos da USP e da UFRJ indicam que produção de etanol não prejudicou pecuária nem plantio de comestíveis. Cientistas refutam tese de que cultivo de vegetais para fazer biocombustíveis afeta comida; preocupação maior é com encarecimento da terra.

A ideia que há uma guerra por espaço acontecendo no interior do Brasil entre o plantio de comida e a produção de biocombustíveis é errada, dizem especialistas. A expansão do cultivo de cana-de-açúcar para para produzir etanol não afetou, até hoje, áreas de cultivo de alimentos, segundo os estudos.
"Até aconteceram mudanças localizadas de cultura, mas no todo não foi significativo. Existem 200 milhões de hectares de pasto no Brasil. Não são os cinco milhões que a cana ocupa que vão fazer falta", diz Roberto Schaeffer, especialista em energia da Universidade Federal do Rio de Janeiro e autor de um trabalho sobre o assunto na última edição da revista científica "Renewable Energy". O Brasil tem 60 milhões de hectares dedicados à agricultura (veja tabela à direita).
Segundo cientistas como Schaeffer ou José Goldemberg, físico da Universidade de São Paulo e um dos pais do Proálcool (que também publicou um estudo recentemente sobre o tema na revista "Energy Policy") é justamente para cima dos pastos -e não dos cultivos de alimentos- que a cana avança, com algumas exceções nos anos 1970 e em alguns poucos locais atualmente. Os dados mostram que os plantios de café, laranja ou feijão não se alteraram com o crescimento das plantações de cana mesmo em São Paulo, grande produtor nacional de etanol (veja ao lado).
Isso não significa que o Brasil esteja produzindo menos carne. Goldemberg lembra que a densidade dos rebanhos vem crescendo. Só entre 2004 e 2005, passou de 128 cabeças por quilômetro quadrado para 141 nos pastos paulistas. Segundo ele, ainda há muito espaço para ganhos em produtividade. Uma eficiência maior poderia evitar inclusive que a pecuária se expandisse em função do desmate da Amazônia, como vem acontecendo no país.
Além disso, a produtividade das plantações da cana vem crescendo com o avanço da biotecnologia. Ou seja, os produtores podem fazer mais etanol sem aumentar seus plantios.
Mesmo porque o preço das terras de algumas regiões de plantio de cana está subindo rápido (Ribeirão Preto, Franca e Bauru, no interior paulista, por exemplo, tiveram uma valorização de mais de 160% entre 2001 e 2006). O mesmo acontece no norte do Paraná.
Isso pode ser, porém, um sinal de que plantar está ficando caro, trazendo risco de aumento no preço dos alimentos no supermercado. "Há algum fundamento em ficar preocupado. Hoje não há problema, mas, se as políticas não forem apropriadas, em alguns lugares eles podem aparecer. É bom ficar de olho aberto", diz Schaeffer (Folha de S.Paulo, 18/11/10)

Montanhas de lixo Brasil afora

Coleta é maior em relação a produção de lixo
Postado por Saneamento em 15 janeiro 2010 às 15:30
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LILIAN MILENA
Da Redação - ADV

A evolução da coleta de lixo nas cidades ainda tem muito a melhorar, segundo levantamento do último Panorama de Resíduos Sólidos (RSU), da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (ABRELPE).

De 2007 a 2008, a quantidade de lixo coletado no país aumentou 5,9%, saltando de 140.911 toneladas/dia para 149.199 toneladas/dia. Mas a proporção calculada de coleta per capita cresceu apenas 2,8% entre os dois anos, passando de 0,924 quilos para 0,950 quilos recolhidos todos os dias por habitante.

O déficit de coleta no país, em números, é de 7,4 milhões de toneladas/ano, o equivalente a 370 mil caminhões de lixo lotados formando uma fila de 4 mil quilômetros a cada doze meses, sendo que, diariamente, são produzidos cerca de 169 mil toneladas de resíduos sólidos urbanos. Desse total, 20 mil toneladas não são sequer recolhidas, e outras 60 mil toneladas são dispostas em lixões sem controle ambiental adequado.

O montante poderia ser reduzido sensivelmente com o reaproveitamento industrial dos resíduos recicláveis, uma vez que a composição média do “lixo” urbano se divide em: 52% de matéria orgânica (transformável em adubo e combustível); 25% de papel, 16% de outros materiais, 3% de plástico, 2% de metal, e 2% de vidro.

Apesar dos números apontarem para a necessidade de mais investimentos na expansão dos serviços de coleta, os dados também permitem concluir que a quantidade de RSU gerado no país cresceu menos que o total coletado – entre 2007 e 2008 a população urbana aumentou a produção de lixo em 1% - a geração de lixo saltou de 1,106 quilo para 1,080 quilo por pessoa/dia.

“A proporção de resíduos urbanos e indústrias recolhidos está aumentando significativamente, não apenas pelo aumento do lixo gerado, mas também pelo desempenho do setor. Em 2004, por exemplo, o país coletou 7,3 milhões de toneladas de resíduos, em 2009 foram 15,7 milhões de toneladas”, esclarece o diretor presidente da Associação Brasileira de Empresas de Tratamento de Resíduos (ABETRE), Diógenes Del Bel.

Déficit de aterros

O destino final de 55% do lixo são os aterros sanitários, enquanto 19% (29.243 toneladas/dia) é encaminhado a aterros controlados e 25% a lixões (espaços com pouco ou nenhum critério ambiental). A região Sudeste apresenta o maior nível de coleta (54%), seguida pela Nordeste (22%), Sul (11%), Centro-Oeste (7%) e Norte (6%).

Acesse: Mais de 60% das cidades brasileiras não contam com aterros sanitários

A engenheira ambiental Lícia Silveira, autora do estudo “Desafios da gestão de resíduos sólidos: a gestão de seis aterros sanitários simplificados no estado da Bahia”, destaca que o desenvolvimento de infra-estrutura para o setor requer investimentos em recursos humanos de várias áreas (engenharia, economia, física, química, biologia, geofísica, sociologia, entre outros).

O aumento de soluções para que os municípios superem os déficits também depende do comprometimento dos gestores em projetos de longo prazo para reduzir a geração ou aumento do percentual de reaproveitamento, “de forma que não sejam aterrados. Nessas circunstâncias, muitos aterros transformam-se em lixões”, ressalta Silveira em estudo.

Del Bel explica que a elaboração de novas tecnologias não é um problema no país, e que as dificuldades para alcançar os 100% de coleta e tratamento são de gestão pública. “Já existe conhecimento suficiente para tornar a coleta e disposição dos resíduos algo sustentável e muitas empresas do setor, em especial as privadas, têm competência tecnológica para isso. O gargalo, na realidade, ocorre porque são os municípios que, por lei, são responsáveis por esse serviço público e muitos não têm condições financeiras e de infra-estrutura para acompanhar a demanda”, avalia.

Segundo levantamento da ABETRE, o custo para a construção de um aterro sanitário ambientalmente adequado e consagrado internacionalmente é relativamente baixo, ou seja, entre R$ 14,00 e R$ 18,00 por habitante. Entretanto, a engenheira Lícia Silveira aponta em seu estudo que o valor de implantação de aterros nos moldes da sustentabilidade é elevado para os municípios de pequeno porte.

Custo menor x sustentabilidade

A média de implantação de um aterro convencional – que envolve a instalação de balanças, construção de drenos, mantas e lagoas – é de R$ 1,3 milhão. Além disso, existe o custo de operação permanente, que gira em torno de R$ 20 mil ao mês pelo uso de máquinas, veículos, trator de esteira, máquina retro-escavadeira e caçambas, sem contar mão de obra.

Silveira avaliou a implantação de aterros sanitários simplificados – obras menos complexas sem exigência de impermeabilização com mantas e sem lagoas de estabilização de resíduos líquidos – em pequenas cidades baianas. A proposta de substituição de lixões por áreas com menor impacto ambiental foi iniciada em 2002 pelo Governo do Estado da Bahia e Secretaria de Desenvolvimento Urbano, por meio da Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia (CONDER).

Cerca de 90% dos municípios baianos possuem até 20 mil habitantes urbanos que geram, em média, entre 10 toneladas/dia e 15 toneladas/dia de RSU. Até 2006 o governo estadual havia implantado 35 aterros sanitários simplificados e 19 aterros do tipo convencional.

O levantamento da engenheira permitiu concluir que o custo dos aterros convencionais variou entre R$ 517 mil e R$ 2,31 milhões. Já os projetos de aterros simplificados variaram entre R$ 180 mil e R$ 260 mil, “em geral com abertura de duas valas, guarita, cerca, portão e poços de monitorização”, completa.

O porta-voz da ABETRE, Diógenes Del Bel, lembra que a solução para o déficit da coleta e disposição sustentável do lixo deve ser enquadrada a realidade de cada município. A reciclagem, por outro lado, é um habito que deve ser desenvolvido por todos – população e indústria têm forte responsabilidade pela recuperação de materiais, desde o modelo de fabricação até a forma de descarte.

No caso dos aterros simplificados – opção aos municípios com baixo orçamento – Silveira aponta que apesar de substituírem os lixões não resultam, necessariamente, em modelos eficientes. Dos 35 projetos implantados pela CONDER a engenheira avaliou 30 que apresentaram os seguintes resultados: 12,5% considerados em condição aceitável de operação, 56,2% regulares, e 31,3% de péssima condição.

Enquanto que, dos 19 aterros sanitários convencionais, também implantados pela CONDER, foram avaliados 15 sendo: 18,7% classificados em condição aceitável, 43,8% regular, e 37,5% péssima. “A complexidade que envolve o manejo dos RSU e a busca por soluções adequadas às peculiaridades de cada cidade levam, muitas vezes, a adoção de ações simplistas cujos resultados são insatisfatórios e insustentáveis no longo prazo”, conclui.

Panorama do setor

O levantamento da ABRELPE aponta que o custo médio do gerenciamento de resíduos urbanos - transporte, mão de obra, limpeza pública e manutenção de aterros - em municípios com população entre 50 mil e 100 mil habitantes é de R$ 2,57/habitante/mês, já em cidades com população acima de 500 mil, o valor do serviço por pessoa gira em torno de R$ 3,75 ao mês.

Em 2008, o setor de limpeza urbana no Brasil empregou diretamente 264.779 trabalhadores (sendo 112.636 vagas em empresas públicas e 152.143 em empresas privadas). O Sudeste foi a região com mais contratos de trabalho – 126.894 do total de vagas verificadas no país, sendo 57.896 postos públicos e 68.998 postos privados.

Em âmbito geral, o mercado de serviços de limpeza urbana movimentou, no mesmo ano, R$ 16,8 milhões. As companhias privadas foram responsáveis por R$ 11,8 milhões desse montante, e as companhias públicas, pelo restante de R$ 5,0 milhões.

O estudo também permitiu concluir que parte significativa das cidades brasileiras não investe em sistemas de coleta seletiva e reciclagem: 44,1% dos municípios (2.456) não apresentaram iniciativas de coleta contra 55,9% (os 3.109 restantes).

O percentual de coleta também é maior nas cidades mais populosas: 52% dos municípios com até 50 mil habitantes não realizam a ação contra 47% daqueles entre 50 mil e 100 mil habitantes. Já 91% das cidades com mais de 500 mil habitantes realizam políticas de coleta seletiva.

A pesquisadora Lícia Silveira publicou, em estudo, os fatores que dificultam o manejo dos RSU na América Latina e Caribe (ALC) levantados pela Organização Pan-americana de Saúde (OPAS), em 2005:

- Horizontes muito curtos de planejamento e de compromisso para a autoridade local, dado o breve período das administrações municipais;
- Volatilidade e descontinuidade política nas administrações municipais;
- Falta de cultura de pagamento pelos serviços públicos com que a população é atendida;
- Excessivo atraso e graves deficiências nos procedimentos e mecanismos para a cobrança de impostos municipais;
- Partidarismo das decisões e do debate público;
- Persistência de traços culturais rurais nas cidades, o que equivale em geral à desconsideração do espaço público em um contexto urbano;
- Falta de uma cultura de limpeza e de responsabilidade pelos RSU gerados a nível individual;
- Falta de aplicação da ordem jurídica e de controle;
- Incerteza para o investimento e falta de transparência nas decisões dos governos locais;
- Baixo nível de competência e capacitação no serviço público;
- Visão incompleta e distorcida da gestão ao assimilá-lo fundamentalmente como um problema relativo ao serviço esquecendo de seus componentes ambiental, social, econômico e de saúde;
- Ausência de organismo operadores autônomos sob regras claras de eficiência e prestação de contas;
- Marco regulatório e normativo difuso, obsoleto, incompleto, carente de uma estrutura intersetorial e de instrumentos jurídicos de caráter técnico;
- Falta de instrumentos econômicos, jurídicos e de promoções que motivem a participação social em processos de separação e reciclagem do lixo;
- Ausência de políticas e estratégias para a Gestão Integrada de Resíduos Sólidos Municipais;
- Falta de estratégias para a incorporação do setor informal (catadores) na gestão dos resíduos sólidos;
- Desvinculação entre as distintas instâncias envolvidas na área de resíduos sólidos;
- Desvinculação entre as distintas instâncias envolvidas na área de resíduos sólidos gerados pelas diferente fontes.

Para acessar apresentação da ABRELPE sobre o Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil, clique aqui.
Já, para acessar o estudo “Desafio da gestão de resíduos sólidos”, clique aqui.
Tags: aterros, lixões, resíduos, saneamento, sólidos, tecnologia
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quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Tratamento de esgoto por raízes dá resultado positivo em Foz

14/01/2010 - 12h01
Tratamento de esgoto por raízes dá resultado positivo em Foz



O sistema alternativo de tratamento de esgoto por zona de raízes, implantado na Escola Municipal Padre Luigi Salvucci, de Foz do Iguaçu, está apresentando bons resultados. A constatação é dos técnicos da Sanepar, que acompanham o processo para testar a eficiência do tratamento.

As análises mostraram que o tratamento é eficiente. Foram verificados mais de 20 parâmetros, entre químicos e biológicos, do esgoto antes do tratamento e do efluente (parte líquida do esgoto tratado). As análises de DQO (Demanda Química de Oxigênio), que mede a redução da carga orgânica existente no esgoto - um dos parâmetros responsáveis para testar a eficiência do tratamento -, mostraram variação positiva entre 52% e 99%, apresentando média de 85,5%.

Para a diretora de Meio Ambiente e Ação Social da Sanepar, Maria Arlete Rosa, o resultado apresentado nas análises mostra que o sistema pode ser uma alternativa para propriedades rurais, áreas de pouca densidade populacional ou onde o sistema convencional é inviável economicamente. “O acompanhamento do processo de tratamento realizado até agora atestou a eficiência do sistema”, completa.

FUNCIONAMENTO - Desenvolvido pelas biólogas da UFPR (Universidade Federal do Paraná) Tamara Van Kaick e Caroline de Macedo, o projeto prevê a adoção de um sistema natural de tratamento de esgoto em regiões de solo com baixa capacidade de absorção e filtragem de material orgânico. O sistema, que já é utilizado na Alemanha e foi adaptado para o Paraná, utiliza plantas aeróbicas como papirus, cana-da-índia, cortadélia, sterelizia e helicônia. As raízes dessas espécies são responsáveis pela retenção dos dejetos e oxigenação.

A montagem do sistema é simples e consiste na instalação de um tanque de concreto com uma camada de areia e outra de pedra brita, cobertas pelas plantas, no canal de entrada de esgoto. O esgoto é lançado por meio de sistema de tubulações instaladas logo abaixo de uma área plantada, ou seja, na zona de raízes. Esta área plantada é dimensionada de acordo com o volume de esgoto previsto para ser tratado.

Por ser uma tecnologia de baixo custo, contribui para resolver o problema de tratamento convencional dos dejetos. A Sanepar também está financiando estudos com a mesma tecnologia na Ilha da Peças, no litoral paranaense.


(Envolverde/Governo do Estado do Paraná )

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Linguagem de palanque dominará a internet

10 de janeiro de 2010

por Ethevaldo Siqueira

O peso da internet deverá ser, pela primeira vez, relevante na campanha eleitoral deste ano, pois o Brasil deverá contar com mais de 75 milhões de internautas no mês de outubro. Com essa magnitude, é bem provável que a web se transforme num gigantesco palanque eletrônico na campanha política e exerça um novo e significativo papel nas eleições.

Não duvido que a internet venha até superar o interesse da televisão, atraindo mais eleitores, porque permitirá debates mais amplos e segmentados de idéias, mais respostas e maior esclarecimento de dúvidas. Os internautas poderão optar entre centenas de sites e blogs, e fugir à chatice dos horários gratuitos de rádio e TV. Teremos, então, comícios virtuais para milhões de pessoas, a qualquer hora, em qualquer lugar, com grande presença de vídeos do YouTube.

Preocupam-me, no entanto, os possíveis problemas que teremos nessa campanha eletrônica. Mais do que isso: considero frustrantes os resultados da experiência que temos tido até aqui, de utilização política e cultural da internet. Não me refiro à experiência do uso da internet nas eleições presidenciais de 2002 e 2006, mas à recente proliferação de blogs políticos.

Não há nenhuma dúvida de que o cenário da campanha eleitoral de 2010 venha a ser bem diferente, com a participação da massa de 75 milhões de internautas – 18 milhões dos quais com acessos em banda larga –, embora ninguém possa afirmar que partidos e candidatos estejam preparados para usar corretamente o potencial dessa nova mídia.

Sou pessimista, leitor, e forçado a concordar com a opinião de Nicholas Carr, escritor norte-americano especializado em tecnologia da informação, que citei em colunas anteriores, para quem a internet tende a inibir nossa capacidade de reflexão e, portanto, a deixar-nos “mais estúpidos”. Ou, para ser mais duro, com a conclusão de Stanislaw Lem, escritor de ficção científica polonês, falecido em 2006, que disse: “Não imaginava que o mundo tivesse tantos idiotas até o momento em que comecei a usar a internet”.

MASSA DE ASNEIRAS
É irritante a montanha de asneiras que encontramos na maioria dos comentários postados em blogs e sites em geral. Poucos são os participantes de debates na internet que, realmente, agregam conhecimento, que trazem argumentos sérios e opiniões abalizadas, em seus comentários. É claro que há exceções magníficas e honrosas na maioria dos sites e blogs. Mas são exceções.

Além da massa de textos eivados de erros e deformações da língua portuguesa que predomina na web, o que vemos com maior frequência são desabafos grosseiros e agressivos, quase sempre gratuitos. Sem educação para a democracia e escudados no anonimato, internautas jovens e adultos revelam uma ousadia que ultrapassa todos os limites do bom-senso. Simplesmente por discordar do interlocutor, passam a ameaçá-lo, xingá-lo e a descarregar sobre ele sua boçalidade.

Acompanho de perto alguns blogs de melhor qualidade que enfrentam penoso e permanente trabalho de filtrar mais de 80% dos comentários recebidos, por inadequação absoluta da linguagem. E pior: a maioria dos interlocutores não se apoia em fatos, números confiáveis ou conceitos corretos, e prefere partir para a xingação pura e simples.

LINGUAGEM DE PALANQUE
Não tenho dúvida: o que predomina na internet até aqui é a linguagem de palanque, populista e demagógica, impregnada de chavões, acusações grosseiras, calúnias, mentiras, preconceitos e afirmações totalmente absurdas. Não se trata de mera linguagem candente ou emocional, mas de degradação inaceitável dos padrões éticos de debate, como tenho comprovado inclusive nas diversas discussões de temas polêmicos de telecomunicações promovidos em meu site (
www.telequest.com.br), nos últimos meses.

À medida que se aproximam as eleições, o leitor pode comprovar o volume crescente dessa linguagem panfletária ou de palanque. Os analistas mais indulgentes dizem que “isso é natural e faz parte do aprendizado da grande massa de internautas”. Não vejo o problema com tanta tranquilidade e acho que estamos diante de um terrível bombardeio e de uma agressividade crescente na campanha eleitoral. Pior do que isso: corremos o risco de criar um ambiente de confusão política que tende a afetar muito mais as camadas de menor escolaridade, vítimas fáceis da demagogia e do populismo.

Embora pessimista no curto prazo, sou otimista num futuro mais distante, pois acho que a linguagem de palanque tende a perder totalmente a sua eficácia e sua credibilidade. A experiência nos mostra que, diante do radicalismo sistemático, a maioria dos brasileiros rejeita os candidatos e suas mensagens políticas – venham de onde vierem, da esquerda ou da direita, do governo ou da oposição. O destempero verbal não convence. Funciona apenas como fogos de artifício. O equilíbrio, a serenidade e o respeito podem persuadir muito mais do que as investidas hidrófobas ou as mentiras arquitetadas.

De qualquer modo, com todas as suas imperfeições, a internet abre uma nova oportunidade de evolução da democracia no Brasil.

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