Uma sociedade plenamente igualitária talvez seja uma ótima ficção literária, mas não representa um bom guia de política pública. As pessoas têm desejos diferentes, disposição distinta para o risco, habilidades e prioridades variadas. Mesmo em um país ideal, em que todos partissem de um ponto de partida parecido, alguns trabalhariam mais, outros prefeririam mais tempo livre e alguns aceitariam salários menores em troca de estabilidade.
No final dessa geração hipotética, teríamos um mundo com desigualdades de renda, de patrimônio e de estilo de vida. Tal desigualdade não seria necessariamente injusta, pois os cidadãos tiveram oportunidades parecidas e os resultados obtidos foram frutos de escolhas e esforços distintos.
A pergunta não é se haverá desigualdade, pois sempre haverá. A pergunta é sobre qual o tamanho e o tipo que estamos dispostos a aceitar. A ideia de "desigualdade justa" aparece aí. Em linguagem simples, ela sugere que as diferenças de resultados podem ser toleradas quando decorrem de escolhas e esforços feitos sobre uma base minimamente semelhante de oportunidades. O desafio é que, quando passamos dessa concepção geral para o exame mais cuidadoso, esse ponto de partida comum fica mais difícil de definir.
A versão mais conhecida dessa visão aparece na noção de igualdade de oportunidades, ou seja, não seria necessário igualar os resultados individuais, desde que todas as pessoas tivessem acesso a boas escolas, saúde básica e segurança.
Em teoria, é um pensamento elegante. Contudo, na prática, duas dificuldades emergem. A primeira é óbvia nas estatísticas de qualquer país desigual. O lugar em que a pessoa nasce continua associado à qualidade da escola, à estabilidade da renda, ao nível de violência e à chance de encontrar redes de apoio.
A segunda dificuldade é mais sutil. Mesmo que um governo avançasse na direção de equalizar oportunidades, ainda assim a desigualdade remanescente estaria livre de críticas? A resposta é menos evidente do que parece.
Parte das diferenças de renda não nasce apenas de esforço, mas também de choques de sorte e azar, como doenças inesperadas, acidentes, encontros profissionais fortuitos ou crises econômicas. Outra parte é produzida por mecanismos de transmissão familiar mais sofisticados e difíceis de capturar nas estatísticas tradicionais.
O modo de falar, a confiança para se apresentar diante de autoridades, por exemplo, ou mesmo o apetite para correr riscos, costumam ser menos uma escolha individual e mais um subproduto do patrimônio herdado. Para quem tem uma reserva financeira, correr riscos equivale a jogar uma partida em que a derrota traz incômodos, mas dificilmente representa um golpe que leve ao nocaute.
Para quem vive no limite, um fracasso empresarial significa voltar à pobreza, comprometer o futuro dos filhos e recomeçar do zero em um mercado de trabalho que pune biografias marcadas por interrupções.
Entretanto, apesar das dificuldades de encarar de frente a distância inicial entre as linhas de partida, precisamos avançar para um país em que o destino dependa menos do berço e mais das escolhas e esforços de cada pessoa.


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