segunda-feira, 29 de dezembro de 2025

Uma questão de ego, Hélio Schwartsman, FSP

 

O problema de os EUA terem se tornado uma republiqueta é que ficou mais difícil prever como a principal potência econômica e militar do planeta se comportará no plano internacional.

Até não muito tempo atrás, presidentes americanos perseguiam aquilo que identificavam como interesses do país, que eram mais ou menos conhecidos. Com Trump 2, o jogo mudou. Hoje, um dos principais fatores a determinar a política externa dos EUA é o ego do presidente, que é volúvel e caprichoso.

Em algum grau, a personalidade de um líder sempre conforma suas ações. Dá até para afirmar que democracias têm um problema de seleção adversa, já que o próprio sistema eleitoral favorece a assunção de governantes de ego mais inflado enquanto a boa administração exigiria figuras menos cheias de si, capazes de reconhecer erros e abandonar ideias favoritas à medida que recebam novas informações.

Homem idoso de terno escuro e gravata amarela sentado à mesa em evento formal, levantando a mão direita. Mesa decorada com arranjo floral e copos, com pessoas ao fundo em ambiente interno.
O presidente dos EUA, Donald Trump, durante jantar na véspera de Natal em Mar-a-Lago, em Palm Beach, Flórida - Jessica Koscielniak - 24.dez.25/REUTERS

Os níveis egoicos de Trump, porém, não estão no padrão dos de líderes democráticos mas sim no de ditadores. Talvez até no de tiranos ensandecidos, como Idi Amin Dada, que se fazia chamar "senhor de todos os animais da terra e peixes dos mares".

Multiplicam-se os sinais de que Trump entrou com tudo no ramo do culto à personalidade. Ele acaba de incorporar seu nome ao Kennedy Center for the Performing Arts, que passou a chamar-se Trump Kennedy Center, e anunciou que a Marinha vai desenvolver a classe Trump de belonaves. Um navio é pouco, ele quer uma classe inteira.

O personalismo não funciona sempre para o mal. Em sua campanha pelo Nobel da Paz, Trump forçou Israel a suspender a carnificina em Gaza e mediou alguns cessar-fogos mundo afora.

Os pontos positivos, porém, nem de longe compensam o estrago que ele causou à ordem internacional, que regrediu uns cem anos. A ideia de um mundo pautado por regras que valem para todos e no qual as diferenças são resolvidas pela diplomacia e não pela força, que nunca chegou a ser plenamente implementada, hoje parece menos do que um sonho distante.

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