O Jockey Club era uma referência da elite paulistana. Hoje é um lugar esvaziado, cheio de dívidas de impostos municipais e alvo de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) aberta para investigar irregularidades fiscais e imobiliárias nas suas atividades.
O Jockey foi fundado em 1875 com o nome de Clube de Corridas Paulistano, cuja sede era o Hipódromo da Mooca. Em 1941 mudou-se para a Cidade Jardim. Seu dois prédios principais, tombados pelo Conpresp e pelo Condephaat, compõem um impressionante conjunto art déco e foram projetados pelo arquiteto Elisário Bahiana. Em 1950, passaram por uma remodelação com projeto do francês Henri Sajous.
O turfe se apresentava como umas das únicas formas legais e acessíveis de aposta, mas agora concorre com as bets e perdeu o público jovem. O movimento de pessoas e cavalos no Jockey diminuiu muito nos últimos 20 anos. Atualmente, há, por semana, uma única reunião ou programa (série de páreos) aos sábados.
Décadas atrás, o Jockey fazia três programas por semana e já chegou a ter cinco até os anos 1990. Nessa época, a Vila Hípica da Cidade Jardim alojava 1.500 cavalos. Quem quisesse deixar um animal no local precisava entrar numa fila de espera. Hoje são 300, segundo o jornalista Cyro Fiuza, que acaba de lançar o livro "Jockey Club de São Paulo: uma História no Tempo".
"A decadência está relacionada à falta de marketing e de atrativos 'extraturfe'. Entre um páreo e outro leva meia hora e é um momento para se realizar algum evento", diz Fiuza. "Antes havia atividades e personalidades e artistas eram levados para as corridas."
A frequência no hipódromo caiu. Cada programa de sábado ou domingo chegava a reunir cinco mil pessoas. No Grande Prêmio São Paulo, realizado em maio, compareciam de 15 mil a 20 mil pessoas. Atualmente, cerca de 500 espectadores e apostadores assistem à corrida semanal, muitos atraídos pelos dois restaurantes e um bar que há no local.
Além disso, um Grande Prêmio chegava a movimentar num páreo principal R$ 2,5 milhões. Uma reunião normal movimentava R$ 1 milhão. Hoje, as corridas de sábado rendem R$ 300 mil. Outro termômetro do momento é a perda de sócios do clube. Segundo Fiuza, ele tem 300 sócios pagantes. Esse número já foi de 2.000. A mensalidade atual é de R$ 540.
Há anos, o hipódromo paulistano também tem sido alvo de ações de cobrança de cerca de R$ 800 milhões em impostos municipais, IPTU e ISS. A prefeitura tem planos de desapropriar parte do imóvel para instalar um parque público e abater a dívida. O Jockey resiste e, em setembro, entrou com um pedido de recuperação judicial, aceito em primeira instância, para reestruturar suas pendências e evitar a falência, mas algumas semanas depois o Tribunal de Justiça suspendeu a decisão.
O Jockey informou que reconhece a dívida tributária, mas não o valor. Segundo o clube, o total devido gira em torno de R$ 300 milhões, mais ou menos o que a prefeitura precisa pagar para ressarci-lo por causa da desapropriação, em 2014, da Chácara do Ferreira, sua antiga propriedade na avenida Francisco Morato que virou um parque.
Já a CPI foi aberta em novembro, depois de denúncias de desvio de recursos obtidos com a Lei Rouanet e com a venda de TDCs (Transferência do Direito de Construir), R$ 25,7 milhões e R$ 62 milhões respectivamente. Com os TDCs, bens tombados ganham créditos em metros quadrados que podem ser vendidos para construtoras erguerem prédios em outros lugares. O dinheiro obtido nos dois casos teria como destino a preservação do patrimônio histórico.
O clube nega e diz que a verba do TDC é indenizatória e pode ser usada de várias maneiras. Segundo um porta-voz, apenas uma fatia de R$ 11 milhões estaria comprometida com gastos em preservação. Quanto ao dinheiro da Lei Rouanet, o Jockey afirma que está sendo integralmente aplicado em restauro, com exceção de 15% destinados para gastos administrativos. Seja como for, o hipódromo paulista é uma sombra do passado.



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