quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Fios da região central de São Paulo serão aterrados, diz Haddad


27/02/2013 - 03h30


PUBLICIDADE
DE SÃO PAULO
A Eletropaulo se comprometeu ontem em reunião com o prefeito Fernando Haddad (PT) a enterrar a fiação das ruas José Paulino, no Bom Retiro, e do Gasômetro, no Brás, ambas na região central de São Paulo.
De acordo com Haddad, a medida estava prevista em acordo entre a prefeitura e a Eletropaulo no ano passado.
O enterramento está na programação da Eletropaulo para este ano, afirmou o prefeito logo após o encontro. As duas ruas foram reformadas recentemente pela prefeitura, e a retirada da fiação estava prevista na obra.
Haddad tem a meta de enterrar os fios na maior parte da cidade, mas o alto custo emperra o projeto. "É uma operação de vulto. Para se ter uma ideia, custa R$ 3 milhões por quilômetro", disse o prefeito.
Eduardo Knapp/Folhapress
Fiação na alameda Santos, na região dos Jardins, região nobre de São Paulo
Fiação na alameda Santos, na região dos Jardins, região nobre de São Paulo
No domingo, a Folha publicou que estimativas da Eletropaulo e da prefeitura na gestão Gilberto Kassab (PSD) indicavam um custo de R$ 100 bilhões para sumir com os fios da cidade.
"Temos de sentar à mesa para saber qual é a fórmula que o país adotará para colocar essa ideia [de enterrar os fios] de pé. Isso envolve as empresas, a prefeitura e as agências reguladoras", afirmou Haddad, sem se comprometer com prazos para implantação da medida.
Outra ação acertada no encontro foi a instalação de "no-breaks" em semáforos de 176 cruzamentos da cidade.
Os equipamentos --que garantem o funcionamento dos semáforos mesmo com queda de energia-- devem ser instalados até abril. A medida vai custar mais de R$ 3 milhões à empresa.
Na reunião, prefeitura e Eletropaulo também discutiram uma troca de informações sobre falta de energia para melhorar a segurança em momentos de apagões.
Segundo Haddad, a ideia é que a empresa informe imediatamente quando faltar luz em algum bairro para que a Secretaria de Segurança Urbana e a Polícia Militar possam tomar medidas para melhorar a segurança nos locais.
"A sensação de insegurança da população é muito grande nessas circunstâncias. [A falta de energia na rua] Não deixa de ser uma situação de risco para o cidadão", disse o prefeito.
Folha não conseguiu confirmar as informações com a Eletropaulo ontem. (EVANDRO SPINELLI)

Mais de 1 milhão entram e saem de SP diariamente



27 de fevereiro de 2013 | 8h 25
TIAGO DANTAS - Agência Estado
O empresário Bruno Rafael Candido de Oliveira, de 29 anos, tem horários flexíveis e, às vezes, trabalha de casa. Quando precisa ir ao escritório, no centro de São Paulo, usa o Rodoanel para cortar caminho e diz não se incomodar com os 50 quilômetros de distância entre a capital e Vargem Grande Paulista. Como Oliveira, diariamente 1,1 milhão de pessoas - mais do que a população de Campinas - viajam a São Paulo para trabalhar ou estudar e depois voltam para casa naqueles que são chamados de movimentos pendulares.
Os deslocamentos entre cidades paulistas dobraram em uma década, enquanto o crescimento populacional foi de 1% ao ano. O fenômeno foi analisado pelo Núcleo de Estudos de População (Nepo) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a pedido da Empresa Paulista de Planejamento (Emplasa), para ajudar a planejar políticas de habitação e mobilidade. A pesquisa obtida pelo Estado considera viagens feitas por maiores de 15 anos na macrometrópole paulista - 173 municípios entre a Baixada Santista e o Vale do Paraíba, passando por São Paulo, Campinas e São José dos Campos.
A história de Oliveira ajuda a explicar o crescimento dos movimentos pendulares. "Morando em São Paulo, você está sempre no ?220?. Quando chego em casa, desligo, passo uma noite agradável e volto renovado para o trabalho no outro dia", diz Oliveira, que trabalha com comércio eletrônico. Casado e com uma filha de sete meses, ele quer se mudar para um condomínio da Granja Viana, em Cotia. Porém, ainda ficará longe da capital.
Entre 2000 e 2010, o total de moradores da macrometrópole passou de 23,6 milhões para 26,4 milhões - crescimento de 11,9%. A quantidade de movimentos pendulares passou de 1,6 milhão para 2,9 milhões, uma alta de 81,2%. É como se toda a população de Mato Grosso se locomovesse diariamente.
Para os pesquisadores, além da qualidade de vida exigida por Oliveira, outros fatores explicam o fenômeno. "Passa pela desconcentração da atividade econômica, com muitas empresas deixando a capital ao longo dos anos 1990 e 2000, e pelo surgimento de novas formas de ocupação do espaço, como condomínios", diz o professor José Marcos Bento da Cunha.
Ao analisar o perfil econômico da população pendular, os pesquisadores notaram também que a maior parte tem alta escolaridade e maior renda do que quem trabalha no município em que reside. "Temos em São Paulo a urbanização dispersa. Tem gente disposta a ficar duas horas no fretado para morar com mais conforto e aproveitar melhor o fim de semana", afirma Cunha.
Na estrada
O engenheiro Renato Pelizzon, de 41 anos, e a gerente de produtos Paulette Renault, de 42, fizeram essa escolha. Em dezembro, o casal se mudou para Sorocaba. Ele nasceu no interior, viveu na capital por alguns anos, mas, com o nascimento do filho, voltou com Paulette para o interior. O trabalho continua, porém, na capital. "Há vantagens e desvantagens. Quando vivia na capital, acordava às 7h. Hoje, acordo às 5h15 por causa do fretado", diz o engenheiro. "A qualidade de vida é muito melhor. Por outro lado, a variedade de São Paulo é muito maior."
Rodoanel e estradas de qualidade explicam o deslocamento do casal de Sorocaba e de demais viajantes pendulares. "Esses movimentos são favorecidos pela infraestrutura de rodovias e estradas de ferro", diz a diretora de Planejamento da Emplasa, Rovena Negreiros.
O programa de trens regionais é exemplo de como o Estado pode melhorar a situação da população pendular, diz Rovena. "A população e a dinâmica econômica têm pressa. Isso aqui (os resultados da pesquisa) expressa urgência. A população pode ter parado de crescer, mas está se redistribuindo."
Preocupação
Planejamento é a solução para o principal problema enfrentado por quem faz movimentos pendulares: o trânsito. O publicitário Thiago Sabino, de 26 anos, gasta de 1h a 1h30 para sair de casa, em São Bernardo do Campo, no ABC paulista, e chegar à zona sul de São Paulo, onde trabalha. Ele diz que até gostaria de morar mais perto, mas o preço dos imóveis e o custo de vida fazem a diferença. "No ABC, posso fazer várias coisas a pé ou pego um táxi que sai mais barato. A maioria dos meus amigos da capital não tem casa própria", diz Sabino, que vive em um condomínio clube. "Em São Paulo, não compraria nem uma quitinete." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo. 

A força do emprego


Celso Ming - O Estado de S.Paulo
A tabela que está no Confira mostra que o Brasil ostenta hoje condições privilegiadas no seu mercado de trabalho. Um desemprego que atinge apenas 54 pessoas em cada mil que compõem a força de trabalho é fator positivo. Cobra lá seu preço, que é o custo crescente da mão de obra na economia. Mas é melhor enfrentar esse problema de custos com alto nível de emprego do que contar com mão de obra barata e, ao mesmo tempo, amargar filas intermináveis de procura por trabalho.

O nível de desemprego de 5,4% registrado em janeiro é o mais baixo para o mês desde 2002, quando o IBGE passou a fazer o levantamento das condições do emprego com a metodologia usada hoje - compatível com a usada internacionalmente.

Quem se lembra da desocupação de dezembro, de meros 4,6% da força de trabalho, pode ter ficado com a impressão de que, no mês seguinte, pioraram as condições do mercado de trabalho. Mas não dá para comparar os dois números por causa das diferenças sazonais. Dezembro é mês atípico, quando o comércio e o sistema de distribuição contratam funcionários temporários para dar conta das vendas de fim de ano. Descontado esse fator, vamos ver que a desocupação em janeiro é quase a mesma do mês anterior.

Os especialistas advertem: o mercado de trabalho passa por mudança estrutural que tem importantes bases demográficas. De uns anos para cá, mais gente leva mais tempo para entrar no mercado de trabalho, porque tem de estudar e se preparar; e mais pessoas trabalham como autônomas, especialmente no setor de serviços - ou seja, mantêm uma ocupação sem vínculo empregatício. Essa é uma das razões pelas quais o emprego com carteira de trabalho assinada está crescendo menos. Outro indicador importante é o nível de ocupação da população em idade de trabalhar, hoje de 54,4%, muito próximo do recorde histórico.

Essas transformações apontam para situação que beira o pleno emprego, que se caracteriza por relativa escassez de oferta de mão de obra. Essa condição não deixa de ser uma anomalia quando comparada ao baixo avanço do PIB do Brasil pelo segundo ano consecutivo.

O alto nível do emprego, principal objetivo da política econômica dos governos nos três últimos séculos, é obviamente um marco expressivo na ficha econômica do Brasil. No entanto, produz consequências negativas que precisam ser neutralizadas.

A falta de mão de obra gera a elevação dos custos de produção que, conjugada aos demais custos da economia no Brasil, tende a tirar competitividade do setor produtivo ante a concorrência externa. Outro impacto do pleno emprego - já apontado em outras edições desta Coluna - deverá vir quando houver expansão mais forte do PIB. Serão as pressões inevitáveis sobre os custos do trabalho, algo que preocupa o Banco Central.

Um dos modos de assegurar preços melhores ao produto brasileiro é incrementar a produção com o mesmo emprego de mão de obra (aumento da produtividade do trabalho), o que se consegue com maiores investimentos em educação e treinamento de pessoal. E esse é um dos grandes gargalos do setor produtivo do Brasil.

Planalto desiste de Chalita no ministério


O Estado de S.Paulo
BRASÍLIA - O Palácio do Planalto decidiu excluir o deputado Gabriel Chalita (SP) da reforma ministerial preparada pela presidente Dilma Rousseff. Ele era cotado para assumir a pasta de Ciência e Tecnologia após ter apoiado a candidatura de Fernando Haddad em São Paulo no 2º turno, mas foi descartado após as acusações de que teria recebido propina quando era secretário da Educação do Estado, na gestão Geraldo Alckmin (PSDB).
Para compensar o PMDB, Dilma planeja pôr o partido do vice-presidente Michel Temer no Ministério dos Transportes, hoje comandado por Paulo Sérgio Passos, que é do PR, embora a direção da legenda diga que ele integra a "cota pessoal" da presidente. A ideia de Dilma é abrigar o deputado Leonardo Quintão, do PMDB de Minas, na vaga hoje ocupada por Passos, mas ela ainda não bateu o martelo sobre a indicação.
Quintão abriu mão da candidatura a prefeito de Belo Horizonte, no ano passado, para apoiar o petista Patrus Ananias, que perdeu a eleição para Marcio Lacerda (PSB), aliado do senador Aécio Neves (PSDB). O deputado fez o gesto atendendo a um pedido de Dilma. Agora, o governo poderá pagar a fatura. O dilema da presidente é onde abrigar o PR .
Dilma disse a parlamentares que não quer transformar o ministério em um "paulistério", com maioria dos representantes de São Paulo, e pediu a auxiliares indicações de outros Estados, principalmente de Minas. Hoje, dos 38 ministros, 11 são de São Paulo.
Hoje, há quatro ministros do PT que sonham com a cadeira de Alckmin. Alguns têm chance de obter o aval do partido, outros não, mas o fato é que Alexandre Padilha (Saúde), Aloizio Mercadante (Educação), Marta Suplicy (Cultura) e José Eduardo Cardozo (Justiça) são os nomes do primeiro time à espera da bênção de Dilma e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
"Me inclua fora dessa", desconversa Padilha, que já programou a transferência do seu domicílio eleitoral do Pará para São Paulo. Mercadante, por sua vez, repete como mantra que só pensa em seu trabalho na Educação. "É nisso que estou focado", diz.
Nas fileiras do PMDB, Chalita também é pré-candidato ao governo de São Paulo. O peemedebista nega as acusações de enriquecimento ilícito e diz não ter envolvimento com fraudes no governo paulista. / VERA ROSA, TÂNIA MONTEIRO e DÉBORA BERGAMASCO

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Homem novo, truque velho



SÃO PAULO - Gilberto Kassab vai-se tornando o político dos sonhos de qualquer governo. Inclina-se a apoiar todos eles, e de todos participar com seu partido, sem importar-se com a cor da camisa.
Agora o seu sucessor na prefeitura desta capital descobriu mais uma utilidade de Kassab. O líder do PSD aceita numa boa posar de bode expiatório para as mazelas da cidade sob a gestão do "homem novo", o petista Fernando Haddad.
Alagou? Deu pane nos semáforos? Caíram centenas de árvores? Apagou a luz? Embolou o tráfego? Tudo culpa do Kassab. O ex-prefeito resmunga um pouco, mas assimila o golpe, como assimila as vaias de petistas nos encontros públicos do partido de Lula, seu dileto aliado.
A velha tática de acusar a "herança maldita" de gestões passadas soa cômica nesse caso. Haddad franqueou ao kassabismo um pedaço generoso da sua administração -a estatal de eventos SPTuris, com seus gordos contratos e salários.
Na habitação, o feudo ficou com o fotogênico Paulo Maluf, outro ex-prefeito antes amaldiçoado pelo petismo. Numa conta simples, o governo do homem novo carrega em seu DNA traços marcantes dos caciques que fizeram o que fizeram na cidade nos últimos 20 anos.
Marcante foi também o primeiro teste para Haddad mostrar, na prática, a sua originalidade e o seu compromisso com as promessas. A montanha da ampla flexibilização alardeada no programa de inspeção veicular pariu um rato quando chegou à Câmara. Um vexame para quem acaba de sair das urnas com 3,4 milhões de votos.
Mas a máquina de atribuir responsabilidade aos outros não deu trégua. A prefeitura pôs-se a "pressionar" o governador do Estado para que estabeleça inspeção obrigatória em veículos da Grande São Paulo.
Quando vai começar a gestão nova de Fernando Haddad? A velha já começou.
Vinicius Mota
Vinicius Mota é Secretário de Redação da Folha. Foi editor de Opinião (coordenador dos editoriais) e do caderno Mundo. Escreve a coluna São Paulo, na página 2.

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Para Bacha, Brasil sofre de 'doença holandesa'


RAQUEL LANDIM / SÃO PAULO, FERNANDO DANTAS / RIO - O Estado de S.Paulo
Nem os economistas ortodoxos parecem ter dúvidas de que está em curso uma "desindustrialização" no Brasil. A perda de relevância da indústria é tão grave que o País foi diagnosticado com "doença holandesa" - um mal que se abateu sobre a Holanda em 1960, quando o aumento do preço dos gás atraiu capitais e valorizou o câmbio, reduzindo a competitividade dos produtos manufaturados.
O diagnóstico da "doença holandesa" é de Edmar Bacha - um dos "pais" do Plano Real - e está no livro O Futuro da Indústria no Brasil, da Editora Civilização, que chegou às livrarias na sexta-feira. O livro reúne artigos de economistas renomados, que participaram de dois debates na Casa das Garças, tradicional reduto tucano.
Na introdução, Bacha e Mônica Baumgarten de Bolle, diretores da Casa das Garças, afirmam que os dados são "contundentes": a indústria de transformação teve seu auge no País em 1985, quando respondeu por 25% do Produto Interno Bruto (PIB). Essa participação caiu para 15% em 2011 e pode ter chegado a 12% no ano passado.
Bacha se debruçou sobre o período recente e concluiu que, entre 2005 e 2011, a "desindustrialização" foi uma consequência "natural" dos anos de "bonança externa", em que a explosão do preço das commodities e a condição de "queridinho" do mercado trouxeram uma "enxurrada" de capitais para o Brasil.
O raciocínio do economista é mais sofisticado que a tese de que a culpa é do câmbio forte. Ele explica que a abundância de capitais permitiu ao brasileiro consumir mais, reduziu o desemprego a níveis muito baixos, especialmente no setor de serviços. "A doença holandesa está associada à bonança externa. Os salários subiram mais rápido que os preços. Isso estrangulou a indústria", disse Bacha.
Competitividade. O fraco desempenho da indústria no Brasil nos últimos quatro anos tem como principal causa a piora da sua competitividade, segundo o capítulo escrito pelos economistas Beny Parnes, professor da PUC-Rio, e Gabriel Hartung, do banco BBM. Eles compararam o custo da indústria brasileira com Estados Unidos, Alemanha, Itália, Espanha, Japão, Coreia, Cingapura e Taiwan, entre outros países.
No Brasil, entre 2006 e 2011, os salários médios em dólares cresceram 96% (14,4% ao ano), bem mais do que em todas aquelas economias. O segundo maior crescimento entre os países pesquisados foi o da Austrália, onde houve alta dos salários em dólares de 54% (9% ao ano).
A disparada dos salários em dólares combinou-se com uma aumento da produtividade da indústria brasileira no mesmo período de apenas 9%, ou 1,7% ao ano - um ritmo similar ao das economias avançadas, mas muito inferior ao dos países asiáticos.
Parnes e Hartung explicam que seria de se esperar que países em desenvolvimento, como o Brasil, tivessem crescimento da produtividade superior ao do mundo desenvolvido. Isso ocorre porque os emergentes podem rapidamente fazer o "catch-up" (eliminar a defasagem) em relação a tecnologias já conhecidas, enquanto os países ricos precisam necessariamente inovar para dar saltos de produtividade.
No seu trabalho, os dois economistas fazem análises cuidadosas que indicam que nem a queda global da indústria nem problemas de demanda podem explicar completamente a parada industrial no Brasil nos últimos anos. Eles apontam que "é mais fácil obter avanços de produtividade no setor industrial", mas isso não está ocorrendo na velocidade desejada.
A bonança externa reduziu a participação da indústria na economia brasileira, mas Sérgio Lazzarini, professor do Insper, e Marcos Yank, especialista em temas globais, estão longe de ver a especialização em commodities como uma "maldição" e querem acabar com o "mito" de que commodities são produtos de baixo valor agregado.
Eles calculam que extrair minério de ferro gera R$ 507 mil de valor agregado por trabalhador, acima dos R$ 395 mil da metalurgia e dos R$ 238 mil do setor de equipamentos de informática.
Remédio. Bacha não está otimista sobre o futuro da indústria no Brasil. Ele defende a adoção de uma política industrial, mas diferente dos modelos utilizados nos últimos anos. E receita um remédio amargo para o empresariado: mais abertura comercial.
"A solução é abrir a economia. O Brasil é apenas 3% do PIB global. Não é fechando o mercado que a indústria vai ganhar competitividade e comprar insumos mais baratos." A indústria não precisa produzir "tudo" e deve se especializar.

Insensatez, por Suely Caldas


SUELY, CALDAS, JORNALISTA, É PROFESSORA DA PUC-RIO, E-MAIL: SUCALDAS@TERRA.COM.BR, SUELY, CALDAS, JORNALISTA, É PROFESSORA DA PUC-RIO, E-MAIL: SUCALDAS@TERRA.COM.BR - O Estado de S.Paulo
Com aval do ex-presidente Lula, o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), voltou a Brasília, na quarta-feira, para pedir dinheiro à sua administração. Na mala, levou propostas que oscilam entre reduzir o pagamento de dívidas e gerar novas receitas. E tem conseguido êxito em sua missão: com apenas um mês de gestão, ele conseguiu arrancar do governo federal projeto (rapidamente enviado ao Legislativo) que muda o indexador das dívidas de Estados e municípios: do IGP-DI mais juros de 6% a 9% para o IPCA mais 4% ou a taxa Selic - o que for mais vantajoso para a prefeitura. A proposta deve passar sem problemas no Congresso, porque é de interesse de governadores e prefeitos e, portanto, também dos partidos, incluindo os de oposição.
O respaldo do influente padrinho, no entanto, tem servido para aumentar o olho grande do prefeito. Na quarta-feira ele partiu para outra proposta, tão ousada quanto insana: quer ter o poder de fabricar dinheiro. "Não estamos trabalhando apenas com a troca do indexador. Também considero a possibilidade de o município emitir títulos", declarou. Funciona assim: a Prefeitura de São Paulo emite títulos e vende no mercado financeiro, oferecendo determinado rendimento para o comprador. Com isso, consegue um bom dinheiro extra para gastar. Como no texto da música, dinheiro na mão de político é vendaval. Melhor ainda se ele tem o poder de fabricá-lo quando quiser. Já pensou? Seria a suprema felicidade de governadores e prefeitos, solução perfeita para financiar campanhas eleitorais, compra de apoio político, mensalões e tudo o mais a que os brasileiros estão cansados de assistir desde sempre.
A contrapartida de tal esquema é o rápido e descontrolado crescimento da dívida mobiliária do Estado ou município. E, como dívida é para ser paga, na hora da conta o governador ou prefeito aumenta impostos e o peso recai sobre o bolso ou a bolsa da população local.
Justiça seja feita, Haddad não inovou. Até 1996 Estados e municípios podiam emitir papéis e vender no mercado financeiro. Uma farra monumental de gastos e endividamento estrangulava a administração do novo governador ou prefeito que chegava. Aí o recém-eleito pedia e obtinha socorro do governo federal e deixava a conta para o próximo, que passava para o seguinte, numa bola de neve interminável, sempre debitada da conta do contribuinte de impostos.
Em 1997 o governo FHC aprovou uma lei com regras para dar fim à farra: as dívidas dos governos estaduais foram zeradas e transferidas para a União, que as financiou pelo prazo de 30 anos e com base no IGP-DI mais juros mínimos de 6%. Em 2001, fez o mesmo com 180 prefeituras. E a Lei de Responsabilidade Fiscal tratou de fazer o resto: proibiu Estados e municípios de emitirem títulos e contrair novas dívidas mobiliárias. Foi um avanço, uma vitória do contribuinte brasileiro: pelo menos dessa conta ele se livrava. É isso que Haddad quer ressuscitar. Já imaginou, caro leitor, prefeitos e governadores com suas intermináveis demandas políticas por gastos recuperarem o poder de fabricar dinheiro?
É aceitável e justo mudar o indexador da dívida com a União. Afinal, quando as regras foram definidas, em 1997, a conjuntura política era outra. Habituados a gastar dinheiro sem freios, governadores e prefeitos precisavam de tratamento enérgico para mudar hábitos e cultura. Hoje a realidade é outra. A lei os obriga a manter seus orçamentos equilibrados e cumprir uma série de requisitos para poderem contrair novas dívidas, contratar funcionários, aumentar salários e outras espertezas que praticavam no passado. Além disso, a queda da taxa Selic para 7,25% reduziu o custo de captação do governo federal e permitiu tornar mais barato o carregamento das dívidas dos Estados e municípios.
Usar o influente apoio político do padrinho Lula para propor um retrocesso insano para a saúde das finanças públicas até pode estar no direito do prefeito paulistano. O que não pode é a presidente Dilma Rousseff embarcar nessa aventura. Dela o contribuinte espera respeito, racionalidade e sensatez.

Tudo pelo eleitoral


DORA KRAMER - O Estado de S.Paulo
Sob a direção da presidente Dilma Rousseff, efeitos especiais a cargo do ex-presidente Luiz Inácio da Silva e aplausos da arquibancada, o Brasil está assistindo à reprise de um filme cujo desfecho é conhecido: o prejuízo vence no final.
Economistas, empresários e especialistas no tema vêm alertando para os desacertos na condução da política econômica, para o excesso de intervencionismo estatal, para os efeitos nefastos da manipulação de dados, para o abandono, enfim, dos alicerces de uma estabilidade a duras penas construída desde o início da década dos 90.
O governo não lhes dá ouvidos. Ao contrário: menospreza os alertas, qualifica a todos como inimigos de um projeto de País "glorioso", inovador e progressista. Nas palavras da presidente Dilma Rousseff, as críticas decorrem da "falta de compreensão dos conservadores".
Na verdade, quem não parece compreender a distinção entre o que é bom para o País e o que é bom para o partido no poder é o governo, com sua clara opção por proporcionar satisfação imediata aos seus eleitores (reais e potenciais) em detrimento das bases sobre as quais foi construído o edifício da estabilidade.
Quais foram elas? Sistema de livre movimentação de preços, controle fiscal e foco firme e constante no combate à inflação.
Da segunda metade do segundo mandato de Lula para cá houve uma clara troca de prioridade. Deixou-se de lado o conceito de crescimento com estabilidade para privilegiar o agrado ao eleitor a qualquer custo, notadamente à chamada nova classe média que sustenta em alta a popularidade, obviamente rende votos e assegura a sobrevivência política não só do PT, mas de todo o espectro partidário de sua área de influência.
O preço congelado dos combustíveis agrada ao consumidor, ainda que ponha em risco o desempenho da Petrobrás; a redução das tarifas de energia agrada ao consumidor, ainda que leve a um aumento de consumo e comprometa as empresas de energia; a interferência no Banco Central para forçar a baixa de juros, mesmo quando seria necessária uma margem de autonomia para calibrar a demanda, agrada ao consumidor de bens a prestação, mas põe em risco a meta de inflação.
Preço baixo é bom e todo mundo gosta, mas tem um custo que não é visível (ainda) ao público. Uma hora aparece, e da pior maneira possível. Como para manter essa situação o governo tem que entrar com dinheiro, o resultado é o aumento do gasto público, o descontrole fiscal. Daí para a volta de um cenário de inflação alta, o perigo é concreto.
Trata-se de uma lógica populista que seduz o eleitor, rende vitória nas urnas. Em contrapartida, planta as sementes do desajuste que, mais dia menos dia, apresenta a conta.
Queira o bom senso que os atuais locatários do poder, a pretexto de "construir" um Brasil de faz de conta em nome de vitórias eleitorais, não levem o Brasil de volta aos tempos de desorganização interna, descrédito internacional e aos malefícios decorrentes das concessões ao imediatismo que provoca sensação de bem estar agora e adiante pode levar a pique o patrimônio de todos.
Adeus às ilusões. Os tucanos que ficaram encantados com as mesuras da presidente da República a Fernando Henrique Cardoso no início do governo acabaram de ver a vida como ela é.
No rugir do palanque, Dilma Rousseff não teve dúvida: "Não herdamos nada, construímos tudo", disse, compartilhando a versão criacionista sobre o surgimento do Brasil sob a ação divina do PT.
Esses tucanos, entre os quais se incluem diplomatas, alguns intelectuais e até gente inteligentíssima na economia (pais do real), mas ingênua na política, chegaram a considerar seriamente os gestos de Dilma como sinal de que ela logo se afastaria de Lula.

Investimento do PAC atinge 48%, diz governo


BRASÍLIA - O Estado de S.Paulo
Numa semana em que virtualmente foi dada a largada para a campanha eleitoral de 2014, o governo divulgou dados que darão base ao discurso de que a presidente Dilma Rousseff é boa gerente. Na metade de seu mandato, foram executados 47,8% dos investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) previstos para o período de 2011 a 2014. Foram R$ 472,4 bilhões em investimentos no período.
Boa parte desses empreendimentos, porém, já havia superado as etapas mais sofridas da burocracia e estava em pleno andamento quando o mandato de Dilma começou. A ministra do Planejamento, Miriam Belchior, explicou que em 2010, no fim do mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, todas as ações do PAC que estavam em andamento foram transferidas para o PAC 2, atualmente em execução. Ela citou como exemplo a hidrelétrica de Santo Antônio, uma obra que levará 5 anos para ser concluída.
Da cifra de R$ 472,4 bilhões, apenas R$ 48,4 bilhões, ou 10,2%, saíram do orçamento federal. A maior parte, R$ 151,6 bilhões, são financiamentos habitacionais, ou seja, empréstimos a serem pagos pelos mutuários. Outros R$ 128,9 bilhões são investimentos de empresas estatais e R$ 98,9 bilhões são investimentos privados. Há ainda R$ 36,3 bilhões do programa Minha Casa, Minha Vida, R$ 6,4 bilhões de financiamentos concedidos ao setor público e R$ 1,8 bilhão desembolsados por Estados e municípios. No total, o PAC 2 prevê investimentos de R$ 989 bilhões até dezembro de 2014. Originalmente, seriam R$ 955 bilhões.
"O PAC segue garantindo os investimentos públicos necessários ao crescimento do País", afirmou a ministra. Antes dela, o secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, havia feito uma exposição sobre o quadro macroeconômico em que ressaltou a solidez da política fiscal brasileira. / L.A.O.

Governo se preocupa com exportação de consumidores


Gastos dos brasileiros em viagens internacionais atingiram o valor recorde de US$ 2,3 bilhões em janeiro, segundo o BC

23 de fevereiro de 2013 | 2h 07
BRASÍLIA - O Estado de S.Paulo
Com o mês de férias, os gastos dos brasileiros em viagens internacionais bateram recorde em janeiro e atingiram US$ 2,3 bilhões, segundo dados divulgados ontem pelo Banco Central. O chefe do Departamento Econômico do BC, Tulio Maciel, afirmou que o aumento reflete o crescimento da renda e do emprego nos últimos anos.
A despeito da taxa de câmbio, explicou Maciel, o brasileiro continua viajando, porque os pacotes e os serviços no exterior continuam com preços atrativos, principalmente nos países cujas economias ainda não se recuperaram da crise internacional.
O governo está preocupado com essa "exportação de consumidores brasileiros".
Fontes oficiais afirmam que dois dados divulgados ontem revelaram que as compras no exterior estão cada vez mais frequentes e que o Brasil está perdendo competitividade, embaladas por um dólar ainda acessível, indústria pouco competitiva e facilidades de transporte aéreo .
"Há pessoas que saem do Brasil especificamente para compor o enxoval de bebê nos Estados Unidos. Isso é cada vez mais comum", comentou uma das fontes do governo. A diferença entre os preços no Brasil e no exterior é tão grande que, em alguns casos, a economia é mais que suficiente para pagar as despesas com transporte e estadia fora do País.
Além dos números do BC sobre viagens, o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) anunciou ontem que o comércio brasileiro fechou 67.458 postos de trabalho com carteira assinada no início do ano, o pior resultado para meses de janeiro do segmento em 20 anos.
O governo está "numa sinuca de bico", de acordo com outra fonte, porque vem mantendo a política cambial de "flutuação suja", ou seja, com intervenção no mercado para manter a cotação levemente abaixo de R$ 2,00.
Essa política é vista como necessária no atual momento para evitar que a alta do dólar contamine ainda mais as taxas de inflação, que não dão sinais de arrefecimento, mas, ao mesmo tempo, contribui para diminuir a competitividade do produto brasileiro.
Reservas. As reservas internacionais caíram US$ 30 milhões ontem, Com a oscilação, o montante passou de US$ 376,276 bilhões para US$ 376,246 bilhões, /EDUARDO CUCOLO, ADRIANA FERNANDES e CÉLIA FROUFE

Minha Casa, Minha Vida vira um pesadelo para investidores europeus


KARLA MENDES, ESPECIAL PARA O ESTADO, MADRI, BELO HORIZONTE - O Estado de S.Paulo
Concebido para realizar o sonho de milhões de brasileiros, o programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV) tornou-se um pesadelo para muitos investidores europeus. A violenta retração do mercado imobiliário em países como Espanha, Itália, Portugal e até Inglaterra, consequência da crise econômica que o continente atravessa, provocou um movimento de migração de construtoras, incorporadoras e fundos de investimento para o Brasil.
Lançado num momento de forte depressão econômica na Europa, o Minha Casa, Minha Vida, com cifras grandiosas para construir milhões de moradias populares num curto espaço de tempo, parecia bastante sedutor para essas companhias, que cruzaram o Atlântico em busca de alta rentabilidade, o que compensaria a ociosidade da demanda europeia.
Os empresários europeus atuaram basicamente em duas frentes: constituindo subsidiárias no País ou associando-se a empresas locais. Ao se instalarem em terras brasileiras, porém, a realidade para muitos deles foi bem distinta da que motivou a vinda para o Brasil. A principal reclamação é que a burocracia para a aprovação de projetos resultou em atrasos para a assinatura dos contratos, execução das obras e recuperação do capital investido, tornando muitos empreendimentos inviáveis, segundo os empresários.
'Nunca mais'. "Eu não quero participar do Minha Casa, Minha Vida nunca mais", sentenciou Sílvio Bezerra, presidente da Ecocil, a maior construtora e incorporadora do Rio Grande do Norte. A decisão de não investir mais no programa foi tomada em conjunto com o sócio inglês, o fundo de investimentos Salamanca Capital, que detém atualmente 65% da companhia. A gestão da companhia é compartilhada com os empresários brasileiros, que a fundaram há 64 anos.
A empresa tem um único projeto no Minha Casa, Minha Vida, para consumidores com renda de seis a 10 salários mínimos em Natal, que demorou um ano e meio para ter a análise de risco aprovada, de acordo com o executivo. "A Caixa pediu até identidade e CPF do dono da empresa na Inglaterra", relatou Bezerra.
Segundo ele, em função desse atraso, dos R$ 12 milhões investidos com capital próprio, a Caixa só reembolsou R$ 1,5 milhão até agora. Esse atraso, de acordo com Marcelo Freitas, diretor financeiro da empresa, jogou por terra a análise de risco feita na tomada de decisão dos investidores, quando a projeção de investimentos com recursos próprios seria de menos de 5%.
"É um banho de água fria muito grande. Os investidores estrangeiros têm um nível de sofisticação incrível e cálculos bem precisos que não comportam esse tipo de situação", afirmou o executivo.

Burocracia afugenta empresas do 'Minha Casa'

Para empresário espanhol, demora para aprovar projetos inviabiliza investimentos

23 de fevereiro de 2013 | 2h 06
KARLA MENDES, ESPECIAL PARA O ESTADO, MADRI, BELO HORIZONTE - O Estado de S.Paulo
As dificuldades de operar no programa Minha Casa, Minha Vida já fizeram várias empresas praticamente desistirem de participar das obras. O Grupo Braval, fundado no Brasil por três espanhóis, por exemplo, paralisou os investimentos no MCMV diante da demora da aprovação de projetos.
"Há empreendimentos que não são viáveis em função do tempo que demoram para ser aprovados. O banco leva 14 meses para abrir uma conta e aprovar o crédito para uma empresa solvente", reclama Alejandro Parisi, um dos sócios da empresa.
A burocracia, segundo ele, faz com que as obras sejam lentas e engessa a capacidade de desenvolvimento de projetos da empresa, já que a companhia se vê obrigada a investir capital próprio para tocar as obras. "Com isso, temos de vender a primeira torre para iniciar a construção da segunda, um grave erro do governo que está fazendo com que muitos investidores desistam do Brasil", alerta.
A empresa tem quatro projetos de construção de 500 apartamentos na Região Metropolitana de Natal, direcionados ao público de renda mensal de três a seis salários mínimos, que já consumiram investimentos de R$ 9 milhões. No auge do entusiasmo com o MCMV, no ano passado, a companhia chegou a publicar anúncios em jornais de grande circulação na Espanha para atrair outros investidores espanhóis para o Brasil, com rentabilidade mínima de 30%. Hoje, contudo, Parisi afirma que é difícil alcançar essa margem por causa da acelerada elevação dos custos de construção, que nos últimos dois anos subiram cerca de 50%.
A lentidão para ter o aval do governo para tocar os projetos também fez com que a filial da espanhola Via Célere tirasse o pé do acelerador nos projetos do MCMV. Outro fator que pesa contra o empreendimento, segundo Rodrigo Dratovsky, diretor-geral da empresa no Brasil, é a superoferta no mercado de Salvador, onde as 310 unidades, voltadas para a população com renda de três a dez salários mínimos, estão sendo construídas.
O executivo também relata que a venda de imóveis do MCMV é muito mais trabalhosa, pois a empresa tem de acompanhar de perto todos os passos da negociaçãopara até a aprovação do crédito do cliente pelo banco, que dura cerca de três meses.
Desilusão. A frustração com o programa Minha Casa, Minha Vida não é exclusividade dos estrangeiros. No Brasil, muitas das grandes incorporadoras que enveredaram para esse segmento em 2010 se depararam com as mesmas dificuldades - da burocracia até o relacionamento com o cliente de baixa renda. Estimativas de mercado, apresentadas por empresários do setor em uma das reuniões periódicas com a Caixa Econômica Federal, dão uma ideia de como diminuiu o interesse das grandes incorporadoras de fazer empreendimentos voltados para o programa habitacional. Em 2010, as 14 companhias de capital aberto indicaram em seus relatórios um total de R$ 10,5 bilhões em lançamentos que se enquadravam nas faixas 2 e 3 (renda mensal de R$ 1,6 mil a R$ 5 mil), do MCMV. No ano passado, esse valor foi de R$ 4 bilhões - queda de 62%.
A Rodobens, por exemplo, anunciou recentemente que vai usar as áreas destinadas ao programa para desenvolver shoppings centers ou loteamentos. A Gafisa interrompeu os lançamentos da bandeira Tenda, focada em baixa renda, para se reestruturar.
Entre as incorporadoras abertas, as empresas que seguem firme no programa são aquelas que já tinham experiência nesse segmento antes mesmo do MCMV. A mineira MRV, por exemplo, tem uma equipe de mais de 500 pessoas no País responsável por acompanhar os projetos que estão sob avaliação da Caixa, e a Direcional desenvolveu um processo de construção em série, que reduz o tempo da obra. "Quem não tem processo construtivo e não conhece a cultura da Caixa e do Banco do Brasil está perdido", diz Ricardo Valadares, presidente da Direcional.

Diferenças brasileiras são causa de insucesso

Para empresários brasileiros, mercado nacional tem uma série de peculiaridades que os estrangeiros desconhecem

23 de fevereiro de 2013 | 2h 06
O Estado de S.Paulo
A falta de familiaridade com as peculiaridades da burocracia brasileira e com o próprio mercado imobiliário do País são os principais ingredientes do insucesso de empresários europeus no programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV), apontam empreendedores brasileiros.
"Houve uma onda muito grande de empresas estrangeiras que não conhecem muito bem a diferença do Minha Casa, Minha Vida em relação à incorporação imobiliária tradicional e se arrependeram. A competência exigida para o programa é diferente, não tem margem de erro. A 'cultura burocrática' também é bem distinta, pois se gasta mais tempo com a burocracia que com a obra", diz Felipe Cavalcante, presidente da Associação para o Desenvolvimento Turístico e Imobiliário do Brasil (Adit Brasil).
Ele observa que a participação de sócios estrangeiros nos empreendimentos do MCMV também foi uma novidade para a Caixa. "Não havia normatização disso na Caixa. Só aí a empresa já perde cerca de um ano", diz. "Por essa razão, muitos investidores que vieram para o Brasil acreditando que bastaria ter dinheiro para comprar o terreno para a construção de apartamentos para o MCMV e teriam um alto retorno num curto espaço de tempo se deram mal."
Nesse cenário, como se trata de um negócio com margens muito apertadas e os custos da construção aumentam em um ritmo rápido enquanto os preços estabelecidos para os imóveis não se alteram, muitos empresários viram a rentabilidade dos negócios despencar, ou simplesmente inviáveis. "A diferença é monstruosa. Tem de ter habilidade para administrar baixas margens de lucro", ressalta.
Diferenças. Ter tecnologia e experiência no mercado espanhol não é suficiente para garantir sucesso no Brasil. "Em um país em recessão como a Espanha, muitas empresas ficaram loucas ao saber do programa do governo brasileiro para a construção de 2 milhões de moradias populares. Elas acharam que iam chegar aqui e deitar e rolar, mas a falta de habilidade para lidar com as peculiaridades do nosso mercado foi principal responsável pelo fracasso de muitas delas", diz José Carlos Martins, vice-presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC). "Há casos absurdos. Teve uma empresa que nos procurou e disse que investiria R$ 100 milhões para construir uma fábrica no Brasil, mas não tinha terreno nem um parceiro local."
A CBIC estima que, em 2012, houve uma redução de cerca de 30% nos lançamentos de empreendimentos imobiliários em geral. No caso do MCMV, Martins considera que uma das principais causas é o descompasso entre a evolução da renda dos consumidores e o dos preços dos imóveis, o que afeta o mercado como um todo. Apesar da desaceleração, ele destaca a importância do programa, que passou a atender um mercado até então inexistente e se tornou o produto principal de muitas empresas.
As diferenças entre o padrão de moradias do MCMV e o europeu acabaram desestimulando a espanhola Convip de investir no País, relata Danilo Dória Solarino, diretor brasileiro da Advaes Group, empresa gestora de projetos da Bahia, voltada para empresários estrangeiros, que buscam o Brasil como oportunidade de novos negócios. "Eles participaram de um road show sobre o MCMV, mas quando viram os padrões de construção tiveram vontade de sair correndo", diz.
O executivo explica que, como a construção civil no Brasil ainda é ancorada, principalmente, na mão de obra braçal, diferente da Espanha, onde o processo de automatização no segmento é bastante avançado, a Convip aplicou os recursos que seriam destinados ao MCMV em empreendimentos de alto padrão.
Procurada, a Caixa informou que as operações nas faixas 2 e 3 do MCMV (que envolvem as empresas citadas na reportagem) são "operações de mercado" e, portanto, "estão protegidas pelo sigilo bancário". O banco não se manifestou sobre as críticas específicas das empresas em relação ao programa. A Caixa limitou-se a dizer que "realiza em média 5 mil contratações por dia e detém mais de 90% da habitação social do País e mais de 50% de operações de mercado".
A instituição informou ainda que mantém pontos de controle mensais do MCMV com entidades e grupos de construtoras, com discussões permanentes sobre produtos e processos. "Nessas reuniões, as empresas podem levar reclamações e sugestões para aprimoramento dos processos da Caixa." / K.M.