domingo, 31 de julho de 2022

Derrubando os muros no dia seguinte, Samuel Pessoa -FSP

 Nesta segunda-feira (1º), haverá o lançamento do ebook "Uma Agenda Inadiável", produzida pelo Derrubando Muros.

Derrubando Muros (DM) é um grupo apartidário e diverso de 103 pessoas, entre ativistas, cientistas, comunicadores, acadêmicos, empresários e políticos, dedicado a discutir soluções possíveis para o futuro do Brasil. Acredita que, apesar dos enormes desafios sociais e econômicos, é possível implementar ações impulsionando o que existe de positivo no país em economia verde, inovação, energia, saúde, educação.

O DM parte do princípio de que o Brasil tem jeito e que a sociedade civil há muito assumiu o protagonismo na elaboração dos melhores diagnósticos setoriais e proposições de políticas públicas para nossos problemas crônicos.

Trabalhador ao lado de painéis solares flutuantes na fazenda hidro-solar Sirindhorn Dam, administrada pela Autoridade Geradora de Eletricidade da Tailândia, em fevereiro de 2022 - Jack Taylor/AFP

Todos os integrantes do DM atuam de forma voluntária e aberta a novas contribuições. O coletivo se posiciona como "articuladores da última milha", recolhendo contribuições existentes e as organizando para chegarem até os formuladores das políticas públicas.

No ebook o leitor encontrará diagnósticos e propostas de políticas públicas para: educação, saúde, segurança pública, economia verde, indústria, empreendedorismo, inovação, energia, mundo "figital" e geopolítica. Esses capítulos foram escritos pelos melhores pesquisadores e profissionais das respectivas áreas.

Como aperitivo, vão aqui os primeiros três parágrafos do capítulo "Figital", de Silvio Meira:

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"É estranho, sabemos! Parece que o título deste texto está errado: experimente, leitora e leitor, pronunciar em voz alta esse termo [Figital]. Pois é, soa estranho mesmo. Entretanto novos arranjos demandam novos termos.

Assim como até o século 16 não existia o termo ‘descobrimento’, até o começo desta década, anos de 2020, não havia razão clara para chamar algo de ‘figital’. Estávamos todos habituados a pensar em dois termos apenas: analógico ou digital.

Este texto que está agora diante de você, leitora e leitor, serve tanto para apresentar esta nova ideia como para justificar por que devemos, no Brasil, afeiçoar-nos a ela: o mundo que chegará em 2023 será crescentemente figital".

Para mim, coube a parte menos interessante e que, infelizmente, ainda está conosco: a construção de um equilíbrio macroeconômico e a adoção de reformas microeconômicas que gerem ganhos de produtividade e queda da desigualdade.

Equilíbrio macroeconômico deveria ser o mesmo que um bom juiz de futebol: tão discreto, silencioso, ponderado e comedido que as pessoas esquecem que ele lá está. Transpondo a figura futebolística, deveria representar acordos tão consolidados de nossa sociedade que não saberíamos que o tema existe. Sobrariam tempo e energia para que a sociedade se concentrasse no fundamental: saúde, educação, segurança, entre tantos temas de importância primeira.

Procurei firmar alguns acordos mínimos. O primeiro e mais importante, pois trata-se de pré-requisito, não fim, é a estabilidade fiscal. O Estado tem que ser solvente, isto é, tem que ser capaz de pagar sua dívida pública sem ter que recorrer ao imposto inflacionário.

O DM não se pronunciou sobre o desenho específico da construção de uma posição fiscal estruturalmente solvente: se por meio de aumento de impostos ou via reformas que reduzam o gasto público; se mais concentrado no início do próximo mandato ou mais diluído ao longo do tempo. Essas são escolhas políticas que o Congresso e a nova liderança para próximo quadriênio farão.

​O lançamento pode ser acompanhado nesta segunda, às 15h, neste link. O ebook pode ser baixado em www.derrubandomuros.org/.


Elio Gaspari - Bolas de ferro dos escândalos do PT continuam lá, FSP

 


Em 2018, a onda bolsonarista que elegeu o capitão, Wilson Witzel no Rio e João Doria em São Paulo foi beneficiada pela blindagem com que o PT protegia os escândalos de seus governos.

Quatro anos depois, Lula lidera as pesquisas e oferece ao eleitorado êxito dos grandes números de suas administrações. Sua rejeição está em 36%, enquanto a de Bolsonaro vai a 53%, mas as bolas de ferro dos escândalos continuam lá.

Lula aparece em primeiro plano em um fundo escuro. Ele é um homem branco, de barba e cabelos ralos da mesma cor. Tem semblante sério e olha para o lado
O ex-presidente e candidato ao Planalto, Luiz Inácio Lula da Silva, durante Convenção Nacional do PSB, em Brasília - Gabriela Biló - 29.jul.2022/Folhapress

DATAFOLHA

A última pesquisa do Datafolha mostrou que Lula precisa suar a camisa para liquidar a eleição no primeiro turno.

TERMÔMETRO DE BOLSONARO

Percebe-se um padrão nos discursos de Bolsonaro.

Quando ele fala das realizações do seu governo, está no modo de confiança. Quando ataca as urnas, o Supremo ou o TSE, está no modo da desesperança.

Trata-se de tentar aferir a proporção dos dois modos em cada discurso, visto que ele os mistura.

Não se deve avaliar falas em cercadinhos ou em padarias.

A BATALHA DE MINAS

Os mastigadores de números de Lula e Bolsonaro estão convencidos de que a batalha do primeiro turno será travada em Minas Gerais. Nos últimos 50 anos quem venceu no estado ganhou a eleição nacional.

Lula está fechado com o ex-prefeito de Belo Horizonte Alexandre Kalil, que disputa o governo. Romeu Zema, que disputa a reeleição, afastou-se de Bolsonaro, em cuja onda venceu em 2018.

A campanha dirá quanto resta da onda de 2018. Os resultados das eleições municipais de 2020 mostraram que ela encolheu.

OS VOTOS DE CIRO

Ciro Gomes pode anunciar mil vezes seu rompimento com o PT, mas a maior parte de seus 8% irão para Lula.

Bolsonaro e Ciro Nogueira não entenderam a carta pela democracia, Elio Gaspari, FSP

 

Jair Bolsonaro e o doutor Ciro Nogueira, chefe da Casa Civil da Presidência, disseram que o manifesto da carta em defesa da democracia era coisa de banqueiros ressentidos pela popularização do Pix.

Seria ingenuidade supor que eles não entendem de banqueiros ou de política. Bolsonaro e Nogueira estão num palácio onde algum efeito sobrenatural tem a capacidade de distorcer a percepção da realidade.
No palácio nada é o que é. Se cai um meteorito no Pará, isso pode ter sido jogada de alguma ONG.

Em primeiro plano, Bolsonaro, um homem branco, cabelos castanhos e terno, com a mão esquerda sobre a poca. Atrás dele, levemente desfocado, Ciro Nogueira, um homem branco, cabelos escuros penteados para trás e terno azul escuro. Há outros homens atrás deles
O presidente Jair Bolsonaro e o ministro Ciro Nogueira (Casa Civil) durante convenção do PP, em Brasília - Adriano Machado - 27.jul.2022/Reuters

A Carta de 2022 procura replicar o que teria sido o efeito da "Carta aos Brasileiros" que o professor Goffredo da Silva Telles leu numa noite de agosto de 1977, há 45 anos.

Valeria a pena que Nogueira e seus colegas palacianos relessem o que escreveu o falecido Serviço Nacional de Informações, analisando a cena do Largo do São Francisco:

"A Carta aos Brasileiros

A leitura da ‘Carta aos Brasileiros’ feita pelo Professor Goffredo da Silva Telles, dia 8 de agosto de 1977, no pátio interno da Faculdade de Direito da USP, como parte dos festejos comemorativos do sesquicentenário da implantação dos cursos jurídicos no Brasil deu a impressão, à primeira vista, de que se tratava de um ato oficial organizado pela direção da Faculdade, em comemoração a mais um aniversário de sua fundação.

Na verdade, o documento em apreço, de mera conotação política, não teve apoio maciço da Congregação da referida Academia de Direito, senão de minoria inexpressiva, conquanto ativa.

É da entrevista do diretor da Faculdade a afirmação: ‘A leitura (da Carta) era um ato político e pessoal do professor Goffredo e, por isso, a permissão para uso do salão só poderia ser dada pela Congregação, mas o pedido não foi feito’.

A ‘Carta aos Brasileiros’ está recebendo a adesão de professores de outras escolas de direito e de muitos advogados de São Paulo e de outros estados. No entanto, ela não está merecendo a adesão irrestrita e nem sensibilizou a opinião pública, como esperavam seus autores. Alguns políticos de conhecida formação liberal se recusaram a assiná-la, sob os mais variados argumentos. (...) O presidente seccional da OAB em São Paulo deixou de assinar a ‘Carta’ por considerá-la um documento elaborado por iniciativa isolada."

O SNI não havia entendido nada. O negócio daquela Carta, como a de hoje, era a democracia.

Como ensinou Mark Twain, a história não se repete, mas rima.

O chefe do SNI, general João Batista Figueiredo, tinha um pé na carta de Goffredo e a ponta do outro no radicalismo militar.

O ministro do Exército, general Sylvio Frota, achava que o presidente Ernesto Geisel era socialista e naqueles dias começou a redigir um discurso que pronunciaria em Sobral (CE), emparedando-o.

Dois dias depois, na análise do SNI, o ex-governador baiano Antônio Carlos Magalhães encontrou Geisel e disse-lhe que estava vacilando, pois deveria demitir Frota. O presidente respondeu:

— Você não me conhece. Tiro na hora que quiser.

Tirou-o no dia 12 de outubro.

Em fevereiro de 1978, com Frota fora do páreo, o SNI tinha outras preocupações. Vigiava oficiais que haviam sido ligados ao ministro. Entre eles, o jovem capitão Augusto Heleno, seu ex-ajudante de ordens.

ANJO DA GUARDA

O anjo da guarda de Jair Bolsonaro é preguiçoso, mas agiu em seu benefício quando impediu que a patacoada da reunião com os embaixadores estrangeiros fosse realizada no Itamaraty.

Os defensores do evento garantiam que seria um gol de placa.

O anjo da guarda é preguiçoso porque permitiu que o capitão fosse atingido por duas epidemias em quatro anos de mandato.

EUFORIA

Há uma certa euforia entre os defensores da democracia e adversários de Jair Bolsonaro.

Comemora-se que a carta em defesa da democracia superará a marca de 500 mil assinaturas. Admita-se que ela passe do milhão. Esse tipo de documento não pode ter a importância aferida pela quantidade de signatários.

Em 2018, Eduardo Bolsonaro elegeu-se deputado por São Paulo com 1,84 milhão de votos.