segunda-feira, 31 de outubro de 2011


A era da blogosfera
Coluna Econômica - 31/10/2011
O 1o. Encontro Internacional dos Blogueiros, em Foz do Iguaçu, pode ser considerado um marco na história da blogosfera. Vieram blogueiros de mais de 15 países e alguns analistas de renome internacional.
Participei da mesa de abertura, ao lado do porta-voz do WikiLeaks Kristinn Hrafnsson e do criador do Le Monde Diplomatique Ignacio Ramonet.
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Dias antes surgiram notícias de que o Wikileaks fecharia as portas, em função do bloqueio econômico que tem sofrido de instituições financeiras internacionais, que praticamente o impede de receber doações. Hrafnsson explicou que o site está procurando alternativas tanto financeiras quanto tecnológicas para continuar seu trabalho.
No dia 28 de novembro abrirão novamente os sistemas para receberem informações de forma segura.
Hrafnsson se disse decepcionado com a parceria firmada com grandes jornais internacionais. Seria a maior aliança midiática da história, um grande jornal em cada grande país. Mas a experiência terminou por não ser bem sucedida. Não receberam suporte adequado nem de alguns campeões da democracia, como The New York Times e The Guardian, disse ele.
Mesmo assim, considera que os documentos ajudaram a desvendar uma das maiores tramas midiáticas da história, os falsos argumentos das armas de destruição de massa, que levaram à guerra do Iraque.
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Um dos principais pensadores mundiais sobre mídia, o francês Ramonet não foi bem aproveitado. Merecia ser desafiado com um tema específico sobre os novos tempos e ter tido mais tempo. Mesmo assim, passou conceitos relevantes sobre o papel da nova mídia.
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De minha parte procurei passar a seguinte visão.
Não se pode falar em blogueiros como um movimento homogêneo. Tem blogueiros de todos os extratos, linhas políticas. Há um certo movimento blogueiro, primo-irmão do movimento do software livre, com características libertárias. Lembram um pouco os antigos anarquistas. São contra todas as formas de Estado, mas também contra partidos políticos, contra a velha mídia. Acreditam no trabalho colaborativo e na afirmação pessoal de cada um perante o grupo. Mas são apenas um grupo em meio a uma variedade cada vez maior.
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Ramonet lembrou que as formas de comunicação estarão em permanente mutação. Hoje é o Twitter e o Facebook. Amanhã serão novas ferramentas.
Mais importante do que as ferramentas serão as formas de organização da informação.
Hoje em dia já é possível recorrer a uma quantidade enorme de informações não disponíveis em outras épocas. Quer acesso à última coletiva do Banco Central, a uma agência de notícias de graça (Agência Brasil), ao conteúdo de blogs de todas as partes do país, às palestras de determinado seminário, aos vídeos do Youtube? Esse mundo já está disponível.
É enorme a desproporção entre esse novo modelo, ainda verde, caótico, e o velho modelo.
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Haverá jogos de aliança fantásticos entre blogues locais, regionais e nacionais, mídia regional e todos os veículos que de alguma forma tenham público e produzam conteúdo.  O trabalho colaborativo não permitirá mais veículos "donos" da notícia - no sentido de produzirem uma notícia fechada e ficarem donos absolutos da versão veiculada.
É um mundo novo pela frente, com enormes possibilidades para quem conseguir enxergar o futuro.

domingo, 30 de outubro de 2011


Nos limites da terra

23 de outubro de 2011 | 3h 06
O Estado de S.Paulo
CAROLINA ROSSETTI
A história do ambientalista Lester Brown, fundador do instituto Earth Policy, em Washington, e ex-analista da Secretaria de Agricultura do governo americano, começa numa pequena fazenda no sul de New Jersey, onde ele plantava tomates. Hoje com 77 anos, Brown ainda se orgulha de como aos 17 começou com o irmão mais novo, Carl, de 14, o cultivo que produziria 700 t de tomate numa safra particularmente boa em 1958. "Foi uma adolescência bem divertida", lembra o economista, um dos responsáveis pela popularização da ideia de desenvolvimento sustentável nos Estados Unidos.
Em 1974, Lester Brown fundou o Worldwatch Institute, primeiro centro de pesquisa do mundo dedicado a questões ambientais, do qual foi presidente por 26 anos. Estudioso de segurança alimentar, mudanças climáticas e energia renovável, ele foi eleito pela revista Foreign Policy um dos pensadores mais importantes de 2010. Na semana do Dia Mundial da Alimentação das Nações Unidas, segunda-feira, Brown falou com o Aliás sobre seu "plano B" para evitar um colapso dos recursos naturais do planeta
Parte do plano consiste em maneiras sustentáveis para dar de comer a 8 bilhões de pessoas em 2050. "Só hoje à noite teremos mais 219 mil pessoas no jantar", preocupa-se. "Os fazendeiros não estão dando conta dessa demanda, pressionados pelas mudanças do clima e a falta de água para irrigação. Neste ano esperávamos uma melhora, mas de novo os estoques de grãos estão baixos e os preços, altos. A escassez pode ser o novo normal."
Com um livro publicado no começo do ano, World on the Edge, pela editora W. W. Norton & Company, elogiado pelo ex-presidente Bill Clinton ("Devemos prestar atenção aos conselhos de Lester Brown"), o economista já trabalha em outros dois: um estudo sobre energias renováveis e uma autobiografia com lições tiradas da fazenda em New Jersey, onde os tomates deram lugar à soja, "para alimentar os chineses".
A geopolítica da escassez
"No final de 2007 e início de 2008, a provisão de alimentos estava apertada e os preços dos grãos subiram drasticamente. Alguns dos principais produtores reduziram as exportações para manter o custo nacional sob controle. Rússia e Argentina, grandes exportadores de trigo, restringiram as vendas; Vietnã, o segundo maior exportador de arroz, proibiu a exportação por meses. Muitos países que dependem da importação de alimentos perceberam que não podem mais contar com o mercado. Foi então que, em 2008, Arábia Saudita, China, Coreia do Sul, começaram a comprar ou arrendar terra em outros países, particularmente na África, mas também na América Latina e Sudeste da Ásia, a fim de produzir alimentos para si. Os principais destinos de compra foram Etiópia e Sudão, onde milhões de pessoas são sustentadas com comida do Programa Mundial de Alimentos da ONU. A competição por terra e água em nível internacional é uma manifestação precoce da nova geopolítica da escassez. Essa não parece ser uma situação temporária, mas uma que pode se prolongar indefinidamente. No ano passado, depois da onda de calor na Rússia houve uma grande redução da colheita de grãos e os preços dispararam de novo. Em 2011, estávamos com a expectativa de restabelecer os estoques. Como os preços estavam altos na época do plantio, produtores plantaram mais e usaram mais fertilizantes que no ano anterior. Ainda assim, não conseguiram dar conta da demanda e os estoques de grãos continuam e o baixos e os preços, altos. Estamos mais vulneráveis a mudanças climáticas e ao impacto de desastres naturais sobre as plantações. Nessa situação instável, um novo mecanismo para estabilizar os preços de grãos é necessário. Talvez algo como um Banco Mundial de Alimentos, que poderia garantir alguma estabilidade. Seria uma reserva internacional de grãos, para regulamentar o sobe e desce dos preços dos alimentos. Um órgão independente, multilateral, com representantes dos países produtores e exportadores de alimentos. É uma ideia.
Alimentando 8 bilhões
"Durante a maior parte do último meio século, os Estados Unidos tiveram um superávit de grãos e a Secretaria de Agricultura pagava aos produtores para que não plantassem em toda a extensão de suas propriedades. A quantidade de hectares posta de lado era ajustada todo ano de acordo com o mercado. Se uma monção na Índia ou uma seca na antiga União Soviética forçasse a subida do preço de grãos, os americanos retomavam o cultivo das terras em stand-by e a situação se estabilizava. Mas agora produzimos no limite da capacidade. Não há mais terra fértil ociosa e desocupada nos Estados Unidos. Perdemos a margem de segurança na economia mundial de alimentos. Não há mais jeito fácil de aumentar a produção quando os estoques encolhem. Os fazendeiros não estão dando conta da demanda, pressionados ainda pelas mudanças no clima e a falta de água para irrigação. São 80 milhões de pessoas a mais por ano no mundo, o que significa que só hoje à noite precisamos abrir espaço para 219 mil pessoas na mesa de jantar. Em 2050, serão 8 bilhões, segundo a ONU. Além do crescimento populacional, muita gente, particularmente na China, está tentando subir na cadeia alimentar e consumir mais grãos, carne, ovos e leite. Esse cenário, em que nunca temos o suficiente e o preço dos alimentos é flutuante, mas com uma tendência de alta, pode se tornar crônico. A escassez então seria o novo normal. Isso pressionará ainda mais as família de baixa renda, que hoje já gastam de 50% a 70% de seu dinheiro em comida. Nas décadas finais do século passado o número de pessoas com fome estava em declínio, caindo para o patamar de 825 milhões na virada do século. Mas no início do século 21, com o aumento do preço dos alimentos e a escassez nos celeiros do mundo, a fome voltou a crescer, atingindo hoje o desastroso recorde de 1 bilhão de pessoas.
Índia e China, bolhas de 'overpumping'
"Os países em situação mais preocupante são Índia e China. Em breve a Índia sofrerá uma queda na produção de alimentos. Segundo o Banco Mundial, 175 milhões de indianos (e 130 milhões de chineses) dependem de grãos produzidos com overpumping, a superexploração dos lençóis freáticos responsável por uma bolha de produção de alimentos que explodirá quando os aquíferos se esgotarem. A produção vai cair ao nível sustentável de acordo com a capacidade hídrica da Índia, que é inferior ao necessário para alimentar 1,1 bilhão de pessoas. O que a China está tentando, desesperadamente, é se manter mais ou menos autossuficiente na produção de grãos, com sacrifício da produção de soja e investimento em outros cultivos. Por ano, os chineses consomem 70 milhões de toneladas de soja - não só como tofu, mas principalmente como ração de aves e porcos - e só produzem 14 milhões. Por isso em quase todo o Ocidente planta-se mais soja que trigo ou milho. No Brasil, a produção de soja é maior que a de todos os outros grãos juntos. Nos Estados Unidos temos mais soja que trigo. Na Argentina a situação é ainda pior e a proporção chega ao dobro em relação aos demais grãos. O país virou praticamente uma monocultura de soja. E como é difícil aumentar o rendimento da produção de soja por hectare, só conseguimos mais soja ampliando a área de plantio.
Trabalhando a terra
"Nos países com agricultura avançada os fazendeiros estão alcançando os cientistas. Vemos isso na produção de arroz no Japão, um dos primeiros países a conseguir um aumento sustentável da produtividade de grãos. Depois de subir por um século, o rendimento por hectare de arroz no Japão não tem aumentado há 16 anos. Atingiu-se o limite. Na China o rendimento de grãos aumentou, mas podemos esperar um nivelamento similar ao Japão. O mesmo se dá na França, Inglaterra e Alemanha: o plantio de trigo também chegou ao limite da eficiência fotossintética. Mas hoje a palavra-chave é água. O mundo até que foi bem-sucedido em aumentar a produtividade da terra. De 1950 a 2010 triplicamos o rendimento de grãos por hectare, mas fizemos muito pouco para otimizar o uso de água.
Conselho a José Graziano, da FAO
"A FAO não é um braço forte das Nações Unidas e não tem um papel proeminente na economia mundial de alimentos como, por exemplo, a Organização Mundial da Saúde (OMS) tem no controle de doenças infecciosas. A FAO produz relatórios. Uma das coisas que José Graziano (brasileiro que será o próximo diretor da FAO a partir de 2012) precisa fazer é investir na educação e informar o mundo sobre o momento que vive a agricultura mundial, para mostrar como a água está escassa e como isso logo poderá se traduzir em escassez de comida. Ele precisa também focar na questão populacional. Há uma tradição de a FAO nunca mencionar a necessidade de mudança rápida para famílias menos numerosas, até porque isso aumenta o orçamento de outra agência e não o dela. Mas precisamos dar particular atenção aos 215 milhões de mulheres do Sul da Índia e África Subsaariana que não têm acesso a nenhum tipo de planejamento familiar. Graziano precisa falar sobre a relação entre mudanças climáticas e segurança alimentar. As decisões tomadas nos ministérios de energia têm mais efeito sobre o futuro da segurança alimentar do planeta que as tomadas nos ministérios de agricultura. Nos Estados Unidos, por exemplo, 124 milhões dos 400 milhões de toneladas de grãos produzidas foram para as destilarias de etanol em 2010. É uma situação totalmente nova. Quem está no topo da FAO terá responsabilidade de trabalhar com os ministérios de energia, transporte, meio ambiente e recursos hídricos, não só os da agricultura. Uma abordagem estreita e tradicional do dilema da segurança alimentar do mundo pode ser, neste momento, desastrosa.
Controlando as porções
"Em paralelo a tudo isso que discutimos, há importantes revoluções alimentares acontecendo no mundo em âmbito local. A pressão por produtos mais frescos, saborosos, nutritivos e saudáveis está crescendo. A produção local de alimentos ganha atenção nos Estados Unidos. Soluções como as hortas urbanas e as feiras de pequenos produtores estão, felizmente, se expandindo há anos. Tem gente que brinca que, com o aumento do preço do petróleo, as enormes saladas ceasar estão com os dias contados aqui na costa leste dos EUA, pois a alface vem da Califórnia e vai chegar o dia em que essa viagem se tornará cara demais. Em parte isso é verdade. Outro ponto importante é a questão do desperdício. Há meio século falamos sobre a necessidade de reduzi-lo. Sabe-se que grande parte do desperdício de alimentos se dá na estocagem por causa de celeiros ruins, sujeitos a chuva e insetos. Mas há outras formas de desperdício. Os restaurantes americanos servem pratos enormes como se ainda fôssemos uma nação de trabalhadores braçais, quando, na verdade, somos um país de funcionários de escritório. Ou o excedente vai para o lixo ou a pessoa come mais do que precisa, o que é também uma forma de desperdício. E aí temos outro grave problema que atinge tanto países desenvolvidos quanto subdesenvolvidos: a obesidade.
AMBIENTALISTA,
FUNDADOR DA
EARTH POLICY
INSTITUTE E AUTOR
DE WORLD ON
THE EDGE (2011)

As estratégias para matar a sede da China

Prevendo forte aumento na demanda por água, o país gasta os tubos em projetos de dessalinização e reciclagem. Questão de sobrevivência. E de negócios, é claro

30 de outubro de 2011 | 3h 06
Michael Wines, The New York Times - O Estado de S.Paulo
Erguendo-se imponente na praia de Bohai Sea, nos arredores da cidade, a Usina Elétrica e de Dessalinização de Beijiang é uma maravilha tecnológica de US$ 4 bilhões: um gerador a temperaturas ultraelevadas, movido a carvão, dotado de moderníssimos controles de poluição, acompanhado por um avançado equipamento israelense que utiliza o calor residual para destilar água do mar transformando-a em água potável.
Existe apenas um problema na usina de 26 bilhões de yuans: a produção de água dessalinizada custa o dobro do preço pelo qual ela é vendida. Não obstante, o proprietário do complexo, um conglomerado estatal chamado S.D.I.C., se prepara para quadruplicar a capacidade da usina, tornando a China a maior produtora de água dessalinizada do mundo. "Alguém precisa perder dinheiro", disse Guo Qigang, o gerente geral do complexo. "Nós somos uma empresa estatal, e ela é nossa responsabilidade social." Em alguns países, essa seria considerada uma loucura econômica total. Na China, é uma estratégia econômica.
Como aconteceu no caso dos painéis solares e com as turbinas eólicas, o governo decidiu tornar-se uma força em mais um setor florescente relacionado ao ambiente: fornecer ao mundo água potável. O projeto de Beijiang, a sudeste de Pequim, fortalecerá a competência da China no processo de dessalinização, o aperfeiçoamento dos aspectos econômicos contribuirá para a criação de uma base industrial e, no médio prazo, reduzirá a escassez crônica de água em Tianjin. O fato de esses investimentos também irem embora como água - pelo menos por enquanto - não é uma grande preocupação. "As motivações políticas são mais importante que as econômicas", disse Olivia Jensen, especialista na política de água da China e diretora da Infrastructure Economics, uma empresa de consultoria sediada em Cingapura. "Se o governo central afirma que a dessalinização será uma importante área de interesse e que destinará recursos para a tecnologia da dessalinização, seguramente o fará."
Por determinação do governo, a China está rapidamente se tornando um dos mercados de maior crescimento do mundo em água dessalinizada. O principal objetivo é quadruplicar a produção até 2020, partindo dos atuais 680 mil metros cúbicos diários para nada menos que 3 milhões de metros cúbicos, equivalentes a cerca de mais 12 usinas de 200 mil toneladas diárias, como a que está sendo ampliada em Beijiang.
O recente plano quinquenal da China para o setor deverá ordenar a criação de uma indústria nacional de dessalinização, segundo Guo Yozhi, que preside a Associação de Dessalinização da China. Institutos existentes em pelo menos seis cidades chinesas pesquisam o desenvolvimentos de membranas, a tecnologia na qual se baseiam as técnicas de dessalinização mais sofisticadas e econômicas. A Comissão Nacional para o Desenvolvimento e a Reforma, a mais alta agência de planejamento da China, está elaborando planos para dar tratamento preferencial a companhias nacionais que constroem equipamentos de dessalinização ou requereram patentes para tecnologias de dessalinização. Acredita-se que haverá incentivos fiscais e empréstimos a juros baixos para incentivar a produção interna.
Guo disse que o papel do governo na dessalinização é "simbólico", porque os investimentos públicos diretos em projetos que usam água do mar não ultrapassam 10% do seu custo. Em comparação, ele afirmou, grandes empreendimentos hídricos, como o Projeto de Desvio da Água Norte-Sul, que desviará a água do Rio Yang-tse-kiang do sul para o norte do país, onde a água escasseia, são completamente financiados pelo governo. No entanto, os planos do governo poderão significar um investimento de 200 bilhões de yuans, ou US$ 31 bilhões, de empresas estatais, agências governamentais e parceiros privados.
Há diversos motivos para a China querer uma indústria nacional de dessalinização, e principalmente a possibilidade de produzir a própria água potável. A demanda de água aqui deverá crescer 63% até 2030 - mais do que em qualquer outro país do mundo, segundo a Asia Water Project, uma organização que fornece informações para empresas.
O norte da China sofre há muito tempo com a escassez de água, e cidades em grande expansão como Pequim e Tianjin já utilizam amplos programas de reciclagem e conservação para atender às necessidades.
Em Tianjin, considerada uma cidade modelo em matéria de conservação de água, 90% da água utilizada na indústria é reciclada; 60% dos sistemas de irrigação agrícola usam tecnologias que economizam água; 236 quilômetros de tubos para a reciclagem da água correm por baixo da cidade. Os apartamentos em uma área de 25.900 quilômetros quadrados da cidade têm duas torneiras, uma para a água potável e a outra para a água reciclada destinada a outros usos.
A usina de Beijiang abastece diariamente um bairro em expansão com 10 mil toneladas de água dessalinizada, e pretende futuramente bombear 180 mil toneladas. Uma segunda usina de 100 mil toneladas abastece uma outra vasta usina de produção de etileno fora da cidade.
Mas a planta de Beijiang tem enfrentado alguns problemas. A água destilada isenta de minerais carrega a ferrugem dos canos da cidade antes de chegar às torneiras, o que torna a água marrom. Alguns habitantes desconfiam dessa água, afirmando que sua pureza significa que ela carece de nutrientes. A usina procura agora sanar o problema acrescentando minérios à água.
Mas para alguns, saciar a sede da China pode trazer um efeito paralelo benéfico para objetivos maiores. O mercado global da tecnologia da dessalinização mais que quadruplicará até 2020, para cerca de US$ 50 bilhões anuais, previu no mês passado a empresa de pesquisas SBI Energy, e as secas cada vez mais frequentes em todo o mundo parecem garantir um crescimento ainda maior. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

quinta-feira, 27 de outubro de 2011


Tecnologia ‘rouba’ cada vez mais empregos

Estudo de professores do MIT mostra que muitos trabalhadores estão perdendo a corrida contra as máquinas

27 de outubro de 2011 | 0h 03
The New York Times
A crise econômica explica em grande parte a escassez de empregos nos EUA, mas a tecnologia cada vez mais avançada amplificou dramaticamente o impacto, mais do que é possível perceber, segundo dois pesquisadores do Massachusetts Institute of Technology (MIT).
A crescente automação do trabalho outrora realizado por seres humanos é o tema central do livro eletrônico Race Against the Machine. "Em poucas palavras, muitos trabalhadores estão perdendo a corrida contra a máquina", afirmam os autores.
Os autores, Erik Brynjolfsson, economista e diretor do Centro de Negócios Digitais do MIT, e Andrew P. McAfee, diretor associado e chefe da equipe de cientistas do centro dedicados à pesquisa, são dois dos principais especialistas da nação em tecnologia e produtividade. O tom de alarme é o ponto de partida para os dois cientistas, cuja pesquisa anterior se concentrava principalmente nos benefícios da tecnologia avançada.
Na realidade, originalmente eles pretendiam escrever um livro intitulado The Digital Frontier, sobre a "cornucópia de inovações que estão ocorrendo", disse McAfee. Mas, como a situação do desemprego não melhorou nos dois últimos anos, os autores mudaram seu objetivo e resolveram examinar o papel da tecnologia na melhoria da situação dos desempregados.
Novas funções
Eles não são os únicos a destacar, nos últimos tempos, o desaparecimento do emprego por causa da tecnologia. Na edição atual do McKinsey Quarterly, W. Brian Arthur, professor convidado no Santa Fé Institute no Novo México, adverte que a tecnologia está rapidamente assumindo funções no setor de serviços, depois da onda de automação no trabalho agrícola e industrial. "Esse último repositório de empregos está encolhendo - no futuro, será muito menor o número de funcionários de nível executivo que desempenharão funções nas empresas - e aí está o problema", escreve Arthur.
A tecnologia sempre roubou trabalho e empregos. Ao longo dos anos, muitos especialistas advertiram - equivocadamente - que as máquinas estavam deixando os seres humanos para trás. Em 1930, o economista John Maynard Keynes alertou a respeito de uma "nova doença", que ele chamou de "desemprego tecnológico".
Mas Brynjolfsson e McAfee argumentam que o ritmo da automação acelerou nos últimos anos por uma combinação de várias tecnologias, como a robótica, máquinas controladas numericamente, reconhecimento de voz e comércio online. (Steve Lohr)