terça-feira, 30 de dezembro de 2025

Deirdre Nansen McCloskey - A barbaridade da sigla Stem, FSP

 Talvez você já tenha ouvido a sigla em inglês "Stem" —que significa science (ciência), technology (tecnologia), engineering (engenharia) e mathematics (matemática). Ela é usada para elevar essas áreas acima de tudo o mais —economia, política, história, antropologia, filosofia, arte, teologia, literatura.

E funcionou. É uma sigla muito bonitinha. A palavra "stem" em inglês significa tronco, de onde tudo cresce. Então, tudo cresce a partir das disciplinas Stem, certo?

A palavra faz parte da adoração da ciência, especialmente em inglês. Todos deveriam admirar as disciplinas Stem. Eu admiro. Mas os modernos idolatram a Ciência, com C maiúsculo, como um bezerro de ouro.

Nebulosa com estrutura simétrica em forma de asas alaranjadas e azuladas irradiando de um núcleo brilhante no centro, cercada por estrelas e fundo escuro do espaço.
Nebulosa planetária NGC 6302, em forma de borboleta, localizada a pelo menos 2.500 anos-luz da Terra - Divulgação/International Gemini Observatory/NOIRLab

A definição inglesa da palavra tem sido crucial para essa adoração. Desde meados do século 19, a palavra "science" passou a significar apenas ciência física e biológica. Antes disso, os ingleses usavam "science" para se referir a "qualquer estudo ou conhecimento sistemático". Os estudos da poesia inglesa, da teologia cristã e da história romana eram todos considerados "ciências". O estudo sistemático era diferenciado da mera opinião sem fundamento ou do mau jornalismo, como o que a Folha jamais permitiria em suas páginas.

Toda língua tem uma palavra para "ciência", como "science" em inglês ou "Wissenschaft" [estudo sistemático, em alemão]. Mas elas não se limitam —a menos que por influência de falantes de inglês— às ciências físicas. Os alemães falam em "Giesteswissenschaft" —"ciência do espírito"—, que os falantes de inglês chamam de "humanities", em português "ciências humanas". E assim o falante de inglês moderno as exclui da Ciência Real, como física ou biologia.

Portanto, Stem é uma arma numa guerra acadêmica e política. Algum tempo atrás, um ministro da Educação japonês sugeriu que as universidades públicas do Japão abandonassem disciplinas não relacionadas à Stem. O estudo da poesia japonesa, por exemplo, que naturalmente é feito principalmente por japoneses, seria excluído do estudo sistemático.

A justificativa para a guerra à cultura é que as áreas de Stem contribuiriam para o crescimento econômico. A justificativa da justificativa é que o crescimento econômico é tudo com que devemos nos preocupar. Não a poesia japonesa.

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Como cientista econômica, posso afirmar que nenhuma das duas justificativas se fundamenta cientificamente. Claro, a tecnologia pode gerar crescimento econômico. Ótimo. Mas, igualmente óbvio, combinada com a ciência, ela também pode causar Hiroshima e Nagasaki, e o aquecimento global. O estudo da história, da política, da poesia e da teologia pode nos ajudar a pensar sistematicamente sobre tudo isso. A alta cultura tem essa utilidade —se você fizer questão de que a poesia tenha uma utilidade além de dar dignidade e significado ao espírito humano.

E as consequências econômicas do que realmente acontece nos campos da ciência, tecnologia, engenharia e matemática (Stem) são, em sua maioria, banais, comparadas, por exemplo, com um liberalismo humano que permite que pessoas comuns experimentem coisas novas. O que o bioquímico e ex-vice-reitor da Universidade de Buckingham Terence Kealey chama de "modelo linear" —que a ciência implica tecnologia, que implica enriquecimento— é falso.

Veja a astronomia, na qual se gastam grandes quantias. Por mais admirável que ela seja como empreendimento espiritual, é inútil para a economia. O mesmo acontece com a maior parte da matemática. A teoria dos números —que eu adoro— gera segurança na computação. Ótimo. Mas 99,9% dela é inútil.

Não seja bárbaro. Pare de reduzir tudo a economia. Admire a matemática e a poesia por elas mesmas. Pare de dizer "Stem".

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