Amar é melhor para nós do que odiar. Do ponto de vista religioso, amar é bom para a nossa salvação. O Sermão da Montanha em Mateus é o mais radical dos ditos atribuídos a Jesus de Nazaré. "Ouvistes que foi dito: 'Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo'. Mas eu vos digo: amai os vossos inimigos... Porque, se amardes os que vos amam, que recompensa tereis? Até os publicanos fazem isso!" (Os cobradores de impostos dos ocupantes romanos não eram mais populares do que os cobradores de impostos de hoje.)
Do ponto de vista psicológico, amar é, sem dúvida, bom para a nossa saúde mental. Você conhece a agradável sensação de bem-estar que vem do amor. Acabamos de ter um feriado nos Estados Unidos (e na semana anterior no Canadá) chamado "Ação de Graças", no qual familiares e amigos queridos se reúnem para uma refeição. Fui a Shelbyville, no estado do Kentucky, para a celebração de queridos amigos e recebi e dei amor.
Mas você também conhece a sensação horrível que o ódio traz. Você pode odiar a morte e os impostos. O ódio não para, e ainda arruína seu humor. Todos nós conhecemos pessoas que parecem viver de seus ódios. São pessoas miseráveis para os outros e para si mesmas.
E, do ponto de vista político, amar é bom para nós e odiar é ruim para nós. O grande político irlandês e membro do Parlamento britânico no final do século 18 Edmund Burke declarou que "magnanimidade na política não raramente é a sabedoria mais verdadeira". Magnanimidade significa em latim "grande generosidade", uma espécie de amor tolerante e brando pelos outros. Não há muita generosidade em nossa política atual, tanto no Brasil quanto nos EUA.
Um dos meus novos amigos no Kentucky, Aaron Morris, observou sabiamente que os políticos hoje em dia —e, na verdade, na maioria dos dias— carregam consigo uma sacola de ódios para usar como arma para inflamar os eleitores. Os conservadores em nossos países costumavam afirmar seu ódio aos homens homossexuais —lembrem-se que Jair Bolsonaro disse preferir que um filho seu estivesse morto a que fosse gay.
Quando esse ódio em particular começou a parecer tão ridículo quanto é, os políticos conservadores dos EUA recorreram ao ódio ao casamento gay. Depois que a magnanimidade da igualdade para todos também tornou isso ineficaz para deixar os eleitores irritados, os políticos recorreram ao ódio às mulheres trans. Esse ódio agora desempenha um papel surpreendentemente grande no ódio do Partido Republicano de Trump.
No Reino Unido, não são os conservadores, mas as feministas radicais que perseguem as mulheres trans. O Supremo Tribunal do Reino Unido decidiu recentemente que tal ódio deveria ser transformado em lei.
É antigo esse discurso de ódio. Judeus. Estrangeiros. Os pobres. Os ricos. Vejam o que aconteceu com a antiga Iugoslávia. Quando o marechal Tito estava no comando, muçulmanos e cristãos se davam bem. Quando ele morreu, o grupo se fragmentou em facções de ódio, porque os políticos perceberam que podiam obter poder explorando o medo e o ódio.
Então a culpa é dos políticos? Nós, eleitores comuns, somos inocentes?
Não sejam tolos. É claro que a tendência humana inata de temer, odiar e matar o Outro abre espaço para políticos irresponsáveis.
Os responsáveis nos tornam melhores. Os demais nos tornam piores.
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