quarta-feira, 17 de dezembro de 2025

Lula diz que ministros terão que definir lado na eleição e que 2026 será 'hora da verdade, FSP

 Catia Seabra

Brasília

O presidente Lula (PT) afirmou nesta quarta-feira (17) que seus ministros e respectivos partidos precisarão decidir de qual lado estarão na eleição de 2026, chamada por ele de "hora da verdade".

Durante reunião ministerial, o petista também disse que o governo ainda não conseguiu construir a narrativa correta para alcançar a população e que a polarização política dificulta o convencimento do eleitorado.

"Ano que vem é o ano em que a gente tem a oportunidade, não só porque estaremos em disputa, mas porque cada ministro, cada partido que vocês participam vai ter que estar no processo eleitoral e vai ter que definir de que lado tá. Será inexorável as pessoas definirem o discurso que vão fazer. Eles vão ter que defender aquilo que eles acham que podem elegê-los", disse.

Quarenta e uma pessoas posam para foto oficial em área gramada com árvores ao fundo. A maioria veste ternos escuros, com algumas mulheres usando vestidos ou terninhos coloridos. Três palmeiras altas estão atrás do grupo.
Lula posa com ministros na última reunião com sua equipe, na Granja do Torto - Adriano Machado/Reuters

"Importante que a gente tenha noção que nós precisamos fazer com que o povo saiba o que aconteceu nesse país. Eu tenho a impressão que o povo ainda não sabe. Eu tenho impressão que nós ainda não conseguimos a narrativa correta para fazer com que o povo saiba."

Em sua intervenção, a ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, recomendou a exoneração dos ocupantes de cargos de segundo e terceiro escalões que trabalhem por uma candidatura adversária nas próximas eleições.

Segundo relatos, a ministra afirmou que, em um primeiro momento, para garantir a governabilidade, foi admitida a permanência desses indicados. Mas, com a proximidade das eleições, não será possível manter quem estará em outras trincheiras.

Ela também condenou apoio ao projeto que prevê redução de pena para participantes de atos golpistas. Segundo ela, seria um estímulo a futuras tentativas de golpe à democracia.

Para dar ênfase à disputa do ano que vem, Lula e seus ministros apresentaram quadros comparativos críticos ao governo Jair Bolsonaro (PL).

O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho mais velho do ex-presidente, lançou sua pré-candidatura ao Planalto, e o governo quer reforçar o enfrentamento contra o bolsonarismo.

"O dado concreto é que o ano eleitoral vai ser o ano da verdade. Ou seja, temos que criar a ideia da hora da verdade para mostrar quem é quem nesse país, quem faz o que nesse país, o que aconteceu antes de nós", declarou Lula na reunião.

O presidente também afirmou que determinou que fossem feitos estudos a respeito de programas sociais de "possíveis adversários", citando os governadores de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), de Goiás, Ronaldo Caiado (União), do Paraná, Ratinho Jr. (PSD), e de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo).

"Eu não tenho nenhuma preocupação de competir. Sinceramente, perto de nós, eles [governadores] não fizeram nada. Esse é o dado concreto", declarou. Ele defendeu que é preciso discutir o que a gestão pretende construir "no próximo período".

"O que nós precisamos é construir um projeto. Eu, de vez em quando, me pergunto: para que que eu vou ser candidato outra vez? Para fazer o mesmo que eu estou fazendo ou eu tenho que ser candidato para fazer outra coisa? Eu vou ser candidato para todo mês ficar discutindo déficit fiscal? Para todo mês ficar discutindo corte no Orçamento? Não preciso disso. Qual é o salto de qualidade que a gente vai dar? Onde é que a gente quer chegar?", declarou.

O recado do presidente ocorre após meses de ruídos com os partidos do centrão, grupo que tem ministros na Esplanada e que pode apoiar adversários de Lula na disputa, como os governadores Tarcísio e Ratinho Jr.


A reunião ministerial foi realizada na Granja do Torto, a casa de campo oficial da Presidência. Neste encontro periódico, que costuma ocorrer pelo menos duas vezes por ano, o presidente reúne seus ministros para fazer um balanço das entregas do governo.

Esta é a terceira reunião ministerial do ano. A primeira, foi realizada em janeiro e a última, em agosto, quando as tarifas impostas pelos Estados Unidos ao Brasil estavam entre as principais preocupações da gestão.

Comunicação

No encontro, Lula também cobrou que seus ministros adotem uma comunicação mais clara e criticou a divulgação de informações com documentos que "ninguém vai entender".

"Precisamos ter um esforço muito grande, todos os ministros têm que conhecer todas as políticas", disse. "Se a gente tiver o conhecimento do todo, fica muito mais fácil de a gente trabalhar para o governo, que não é o governo do Lula. Vocês falam 'o governo do presidente Lula', dá a impressão que vocês não são governo", declarou.

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