sexta-feira, 5 de dezembro de 2025

Banheiro premium é absurdo que não resolverá dificuldades das companhias aéreas , Maria Inês Dolci FSP

 Maria Inês Dolci

Advogada especializada na área da defesa do consumidor

Quando pensávamos que as práticas de privilégio por classe social começariam a ser atacadas, surgiu o banheiro premium da Latam. Não, não se trata de colocar um banheiro adicional exclusivo para os passageiros da cabine Premium Economy. Trata-se de restringir o uso dos sanitários localizados na parte dianteira das aeronaves, para que sejam utilizados exclusivamente pelos clientes que pagarem mais pelas passagens aéreas.

Ou seja, haverá menos banheiros para o restante dos passageiros. O Procon-SP não engoliu a prática da companhia aérea, e a notificou para prestar esclarecimentos. Minha crítica não significa que não admita benefícios adicionais de acordo com o valor pago pelo cliente.

Placas com o logotipo da LATAM exibidas em área interna de aeroporto, com teto e iluminação visíveis ao fundo.
Agência da Latam em aeroporto de Bogotá - Sergio Yate - 28.nov.25/AFP


Mas há muitas formas de beneficiá-los. Por exemplo, oferecendo lanches melhores do que snacks e refrigerantes. Disponibilizando revistas e jornais. Enfim, diferenciais que ampliem o conforto da viagem.

Banheiro, contudo, deveria ser um direito igual para todos. Afinal, refere-se a necessidades básicas. Assim como um copo de água para matar a sede. Ou ao cinto de segurança para proteger o cliente de eventuais ferimentos.

Certamente, os desafios das companhias aéreas para continuar no mercado, ameaçadas por dificuldades financeiras nos últimos anos, não serão solucionados com discriminação de serviços prioritários como os sanitários.

E muito já foi feito para cortar custos, reduzindo os serviços ao consumidor. Vamos lembrar que, no passado, as empresas aéreas forneciam refeições e lanches de qualidade. O despacho das malas era gratuito. Hoje, até reservar um assento pode encarecer o voo, paga-se o despacho de bagagens e não há refeições nem lanches que mereçam este nome.

O problema, faço questão de enfatizar, não é o passageiro. O cliente é a solução. As dificuldades financeiras decorrem do leasing de aeronaves, feito em dólar, sujeito a grandes oscilações em suas cotações. E ao custo do querosene de aviação, inflado pela cobrança de tributos.

Além disso, a renda dos brasileiros ainda é muito concentrada. Conforme o presidente Lula ressaltou, em recente pronunciamento em que anunciou a isenção de Imposto de Renda para quem ganhe até cinco salários mínimos em 2026, o 1% mais rico da população do Brasil acumula 63% da riqueza nacional, enquanto a metade mais pobre da população detém apenas 2%.

Esses números demonstram a importância de as empresas aéreas defenderem melhores salários para os brasileiros. Se a classe média fosse bem maior, haveria milhões de pessoas a mais comprando passagens aéreas.

Recentemente, os deputados federais da Comissão de Turismo da casa legislativa criticaram os preços das passagens aéreas. Um dos parlamentares observou que um voo Brasília-Manaus está mais caro do que uma viagem internacional Brasília-Lisboa. Um banheiro exclusivo resolveria isso?

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