Aos 12 anos, Marilza Eleoterio de Barcelos Silva se recorda que fez creme alisante com soda e banana. "Meu cabelo ficou 100% liso, aí usei em minhas colegas, na minha tia. Ficaram lisas, mas feriu a cabeça de todo mundo", ri.
Hoje, a cabeleireira de 49 anos de Campo Grande (MS) comemora a repercussão de um projeto pessoal: um cabelo sustentável desenvolvido a partir da fibra de bananeira, de baixo custo.
Marilza vive em uma casa simples de madeira, na comunidade Lagoa Park. O trabalho ainda é artesanal, mas foi ampliado com uma máquina criada por ela, que permite a produção de 20 quilos por semana. O produto custa R$ 150 a cada 100 gramas de fios.
O uso de fibra da bananeira não é iniciativa nova. No Espírito Santo, por exemplo, a quilombola Myrian Dealdina Foutora é artesã e já utiliza a técnica para produzir cabelo biodegradável desde 2019.
No Rio Grande do Sul, alunos do Sesi desenvolveram, em 2024, perucas também a partir da fibra de bananeira.
Cabeleireira há 20 anos, Marilza conta que sempre tentou descobrir um material para uso próprio. "Eu queria achar alguma coisa para meu bem-estar, porque meu cabelo não é nem rebelde, ele é selvagem, não tem definição."
Tentou sizal, mas achou que o resultado ficava muito grosso. Depois, planta taboa, mas era muito frágil. Em 2018, no quintal de casa, veio a descoberta, quando retirava cacho de banana com faca de serra ruim.
O corte irregular desfiou o tronco da planta, revelando fibras finas. "Eu não tinha nem ideia de que bananeira tinha fio, aí pensei: 'Isso vai dar bom'".
A partir daí, começaram os testes. As fibras suportaram chapinha e modelador de cachos, mas ainda faltava um produto que deixasse o material macio, já que as marcas existentes no mercado não resolviam totalmente o aspecto e a textura de palha.
Em 2021, com a pandemia, a cabeleireira deixou o projeto de lado e só voltou nele em 2024, quando passou a ser acompanhada pelo Programa Inova Cerrado, do Sebrae/MS. Descobriu os tipos de fibra, a durabilidade e as colorações que duram mais, como fazer cachos e até como deixar mais fino ou mais grosso.
O trabalho manual era exaustivo. Ela e o marido retiravam apenas 100 gramas por dia, usando colher e faca.
Com ajuda de um vizinho, ela desenvolveu engenhoca simples de madeira com três lâminas de serra e um pedal, elevando a produção. Depois de desfiar, os fios são desembaraçados, coloridos e hidratados. As mechas de aplique e as perucas são feitas em mesa de tear improvisada, mas também podem ser armazenadas secas.
O material não pinica e pode ser trançado, usado em rabo de cavalo ou cacheado. Ainda está sendo testado no formato de megahair. O aplique fica pronto em um dia, e a peruca, em 15 dias.
Marilza ainda tem cerca de dez "modelos" espalhadas pela região onde mora, mulheres que receberam os cabelos de graça e vão passar relatos para ver o que pode ser aprimorado, além de funcionarem como chamariz para outras clientes. Ela mesma exibe tranças longas e loiras feitas com a fibra vegetal. "Está na hora de retocar", diz.
A partir de junho deste ano, a cabeleireira desenvolveu hidratante à base de uma fruta do cerrado, ingrediente que mantém sob sigilo.
A durabilidade dos fios de fibra de bananeira varia. A dica é mantê-lo limpo e seco, evitando deixá-lo úmido por muito tempo. Quando descartado, leva oito dias para se decompor na natureza, sem representar risco ambiental.
Em agosto, o trabalho de cabelo sustentável de Marilza foi compartilhado nas redes sociais pelo Sebrae/MS e ganhou a internet.
O que era caseiro, vendido na vizinhança, deve se expandir. Marilza procurou um químico para produzir o creme para atender a demanda, já que a ideia é fazer a venda conjunta. Para este ano, está prevista a entrega de 80 quilos. "Fiz 17 produtos com essa fruta."
Segundo a advogada Nyllávia Ramalho, que acompanha Marilza, ela tem registro de marca "Meus Cabelos Meus Fios" e requerimentos de patente desde 2021. Os processos de propriedade intelectual estão em tramitação no INPI (Instituto Nacional de Propriedade Industrial), com dois já avaliados formalmente, comprovando a inovação do projeto.
"Tem encomenda para dois meses", diz. O shampoo de 250 ml, atualmente a R$ 16, e o hidratante de 150 g, a R$ 90, também passarão por revisão de preços. "Mas não vai fugir muito disso não", garante a cabeleireira, que está recebendo consultoria para redimensionar os gastos.


Nenhum comentário:
Postar um comentário