quarta-feira, 3 de dezembro de 2025

Máquina acelera produção de fios de cabelo feitos com bananeira, FSP

 Silvia Frias

Campo Grande

Aos 12 anos, Marilza Eleoterio de Barcelos Silva se recorda que fez creme alisante com soda e banana. "Meu cabelo ficou 100% liso, aí usei em minhas colegas, na minha tia. Ficaram lisas, mas feriu a cabeça de todo mundo", ri.

Hoje, a cabeleireira de 49 anos de Campo Grande (MS) comemora a repercussão de um projeto pessoal: um cabelo sustentável desenvolvido a partir da fibra de bananeira, de baixo custo.

Marilza vive em uma casa simples de madeira, na comunidade Lagoa Park. O trabalho ainda é artesanal, mas foi ampliado com uma máquina criada por ela, que permite a produção de 20 quilos por semana. O produto custa R$ 150 a cada 100 gramas de fios.

Mulher negra com blusa listrada observa fios coloridos pendurados em barraca de mercado. Fios em tons de vermelho, amarelo, roxo e marrom cercam a cena. Placa ao fundo indica nome da instituição e contatos.
A cabeleireira Marilza Eleoterio de Barcelos Silva descobriu na fibra da bananeira alterativa para tecer fios de cabelos - Marcos Maluf/Campo Grande News

O uso de fibra da bananeira não é iniciativa nova. No Espírito Santo, por exemplo, a quilombola Myrian Dealdina Foutora é artesã e já utiliza a técnica para produzir cabelo biodegradável desde 2019.

No Rio Grande do Sul, alunos do Sesi desenvolveram, em 2024, perucas também a partir da fibra de bananeira.

Cabeleireira há 20 anos, Marilza conta que sempre tentou descobrir um material para uso próprio. "Eu queria achar alguma coisa para meu bem-estar, porque meu cabelo não é nem rebelde, ele é selvagem, não tem definição."

Tentou sizal, mas achou que o resultado ficava muito grosso. Depois, planta taboa, mas era muito frágil. Em 2018, no quintal de casa, veio a descoberta, quando retirava cacho de banana com faca de serra ruim.

O corte irregular desfiou o tronco da planta, revelando fibras finas. "Eu não tinha nem ideia de que bananeira tinha fio, aí pensei: 'Isso vai dar bom'".

Mulher sorridente segura mechas longas de cabelo sintético e um tubo branco em barraca rústica. Ao fundo, várias extensões coloridas penduradas em cordas.
Ela própria buscava solução para trançar os cabelos, com sisal e planta taboa, mas foi a fibra de bananeira a opção que virou negócio - Marcos Maluf/Campo Grande News

A partir daí, começaram os testes. As fibras suportaram chapinha e modelador de cachos, mas ainda faltava um produto que deixasse o material macio, já que as marcas existentes no mercado não resolviam totalmente o aspecto e a textura de palha.

Em 2021, com a pandemia, a cabeleireira deixou o projeto de lado e só voltou nele em 2024, quando passou a ser acompanhada pelo Programa Inova Cerrado, do Sebrae/MS. Descobriu os tipos de fibra, a durabilidade e as colorações que duram mais, como fazer cachos e até como deixar mais fino ou mais grosso.

O trabalho manual era exaustivo. Ela e o marido retiravam apenas 100 gramas por dia, usando colher e faca.

Com ajuda de um vizinho, ela desenvolveu engenhoca simples de madeira com três lâminas de serra e um pedal, elevando a produção. Depois de desfiar, os fios são desembaraçados, coloridos e hidratados. As mechas de aplique e as perucas são feitas em mesa de tear improvisada, mas também podem ser armazenadas secas.

O material não pinica e pode ser trançado, usado em rabo de cavalo ou cacheado. Ainda está sendo testado no formato de megahair. O aplique fica pronto em um dia, e a peruca, em 15 dias.

Marilza ainda tem cerca de dez "modelos" espalhadas pela região onde mora, mulheres que receberam os cabelos de graça e vão passar relatos para ver o que pode ser aprimorado, além de funcionarem como chamariz para outras clientes. Ela mesma exibe tranças longas e loiras feitas com a fibra vegetal. "Está na hora de retocar", diz.

A partir de junho deste ano, a cabeleireira desenvolveu hidratante à base de uma fruta do cerrado, ingrediente que mantém sob sigilo.

A durabilidade dos fios de fibra de bananeira varia. A dica é mantê-lo limpo e seco, evitando deixá-lo úmido por muito tempo. Quando descartado, leva oito dias para se decompor na natureza, sem representar risco ambiental.

Em agosto, o trabalho de cabelo sustentável de Marilza foi compartilhado nas redes sociais pelo Sebrae/MS e ganhou a internet.

O que era caseiro, vendido na vizinhança, deve se expandir. Marilza procurou um químico para produzir o creme para atender a demanda, já que a ideia é fazer a venda conjunta. Para este ano, está prevista a entrega de 80 quilos. "Fiz 17 produtos com essa fruta."

Segundo a advogada Nyllávia Ramalho, que acompanha Marilza, ela tem registro de marca "Meus Cabelos Meus Fios" e requerimentos de patente desde 2021. Os processos de propriedade intelectual estão em tramitação no INPI (Instituto Nacional de Propriedade Industrial), com dois já avaliados formalmente, comprovando a inovação do projeto.

"Tem encomenda para dois meses", diz. O shampoo de 250 ml, atualmente a R$ 16, e o hidratante de 150 g, a R$ 90, também passarão por revisão de preços. "Mas não vai fugir muito disso não", garante a cabeleireira, que está recebendo consultoria para redimensionar os gastos.

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