Relatório recém-divulgado pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin) alerta para o risco de atuação de organizações criminosas nas eleições de 2026.
A interferência desses grupos na política e na gestão pública se dá como extensão da diversificação dos negócios ilícitos —que não se restringem mais ao tráfico de drogas— na economia formal, seja com a comercialização de produtos adulterados ou contrabandeados, lavagem de dinheiro, aplicações financeiras e participação em contratos públicos.
Operações recentes da Polícia Federal, como Fim da Linha, Carbono Oculto, Poço de Lobato e Compliance Zero, revelaram a engenharia criminosa que sustenta essa influência nefasta.
Controle de concessões de transporte, lavagem por ditas fintechs, fraudes tributárias e fragilidades do sistema financeiro constituem um cenário de imbricação de dinheiro lícito e ilícito no qual a política pode ser capturada por meio de recursos destinados a partidos e campanhas.
Os riscos envolvem candidaturas de fachada, investidores fictícios, ausência de controle padronizado da origem de verbas e patrocínios, lacunas na regulação de gastos e estruturas de fiscalização insuficientes para o volume e a complexidade das operações que ocorrem em eleições.
Se o crime organizado se infiltra na atividade econômica e no Estado, amplifica sua capacidade não só de influenciar resultados de pleitos, mas de moldar decisões e capturar políticas públicas.
A Operação Zargun, deflagrada em setembro, oferece um recorte dessa cooptação. A investigação de um esquema de corrupção entre lideranças da facção Comando Vermelho e diversos agentes públicos no Rio de Janeiro, ainda em andamento, levou às prisões do deputado estadual TH Joias (MDB) e de ninguém menos que o presidente da Assembleia Legislativa fluminense, Rodrigo Bacellar (União Brasil).
A resposta exige coordenação institucional e adesão a boas práticas já recomendadas por organismos internacionais, como ONU, OCDE e Grupo de Ação Financeira Internacional (GAFI).
Entre elas, reforço da inteligência financeira, rastreamento aprofundado do beneficiário final de empresas e doadores, auditorias contínuas de campanhas eleitorais, transparência de contratos públicos em tempo real e responsabilização efetiva pela Justiça de candidatos e partidos apoiados por recursos ilícitos.
Um esforço integrado na mitigação de riscos é imperativo para preservar a integridade das eleições —e, em última instância, a confiança na democracia.
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