quarta-feira, 31 de dezembro de 2025

Mariliz Pereira Jorge - O Brasil tem molho ,FSP

 A cantora espanhola Rosalía, que esteve há poucas semanas no país, foi vista na noite desta segunda (29) no samba da Pedra do Sal, no Rio: saia, camiseta, cara lavada, cabelo preso num rabo de cavalo. Nada de fantasia de diva em turnê. Ela não é exceção. Nos últimos anos, uma fila de famosos tem batido ponto por aqui não apenas a trabalho, mas para cumprir um roteiro afetivo do que a gente tem de melhor: praia, rua, boteco, comida, samba e simpatia. O Brasil é um parque temático de estilo de vida —e sem catraca.

Duas mulheres conversam em poltronas na plataforma do Cristo Redentor iluminado à noite no Rio de Janeiro. Luzes de estúdio cercam o cenário aberto.
A cantora espanhola Rosalía, em pé, durante gravação para o Fantástico, da Globo, no Cristo Redentor - Reprodução

Nos 48 do segundo tempo, você já deve ter ouvido sobre o tal do Brazilcore. É a brasilidade embalada como estética: colorida, quente, musical, saborosa, alegre. A gente oferece informalidade como idioma, um lugar com um filtro de férias constante. A gringaiada ama porque, apesar de todos os pesares, aqui tudo é espontâneo, sexy, acessível e vem com gingado de fábrica.

O problema é quando a vitrine engole o produto. O Brasil que seduz gringo não é o Brasil "ultraprocessado" que invade alguns destinos de verão: maquiagem, salto alto, cabelo modelado, look pensado para a foto. Pior, todo mundo com visual "pasteurizado". Outro dia topei com um tutorial de "make para a praia", como se a única exigência do sol não fosse um bom protetor solar.

A informalidade que vem de graça no pacote brasileiro não entra na mala do próprio brasileiro. O "acordei assim" pede duas horas de espelho e um ring light. Justo quando a estação exige menos, vejo —sobretudo mulheres— a oferecer mais: mais produção, mais pose, mais teatro social. Pode até vir na embalagem do autocuidado, mas é só cobrança estética.

A moda do nosso verão sempre foi outra: banho tomado, cheiro de frescor, cara de saúde, sorriso fácil, pele livre para respirar. O que faz sucesso lá fora é justamente um estilo que parece improvisado, mas é nossa marca registrada. O Brasil tem molho, mas tem gente que acredita que precisa de Tabasco quando já nasceu com tempero de pimenta caseira.

Obrigada aos leitores por mais um ano de companhia. Que 2026 seja leve. Não será, mas é o que desejo.

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