segunda-feira, 22 de dezembro de 2025

Sudeste concentra engenheiros com mais de 30 anos, e setor vê saturação no mercado, FSP

 

São Paulo

Faltam quatro semestres para Giovanna Lins, 22, se formar em engenharia civil pelo Ifam (Instituto Federal do Amazonas). Ela está no sexto período, mas desde o terceiro é funcionária da Seinfra-AM (Secretaria de Estado de Infraestrutura do Amazonas).

Giovanna diz perceber um aquecimento do setor no estado, com mais presença de construtoras. "Diferentemente de São Paulo, onde o mercado sempre esteve muito em alta, a obra vertical [prédios] aqui começou agora. Tem várias construtoras. Antigamente não se via isso."

Uma pesquisa realizada pela Quaest a pedido do Confea (Conselho Federal de Engenharia e Agronomia) e do Crea-SP (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de São Paulo) mostra que a grande maioria dos engenheiros registrados com mais de 30 anos estão no Sudeste, região que representa mais de 50% nessas faixas etárias.

No entanto, no segmento que vai de 18 a 24 anos, por exemplo, a distribuição é mais pulverizada. Nesse estrato, a participação do Sudeste cai para 28%. Engenheiros registrados no Sul representam 23% dos profissionais nessa faixa, seguidos por trabalhadores do Norte (18%), Nordeste (17%) e Centro-Oeste (14%).

Engenheiro com capacete branco e óculos de segurança segura plantas em canteiro de obras. Ao fundo, dois operários trabalham com carrinho de mão e materiais de construção.
O engenheiro civil Sérgio Lenerson, 27, fundador da Maesttre Arquitetura & Engenharia, fiscaliza a obra de um galpão no bairro Coroado, em Manaus - Michael Dantas /Folhapress

Esta é a primeira vez que a entidade faz a pesquisa. A Quaest realizou 48 mil entrevistas com profissionais das áreas de engenharia, meteorologia e geociências registrados no Confea, no período de 23 de setembro de 2024 a 2 de fevereiro de 2025. A margem de erro é de 1 ponto percentual. O nível de confiabilidade da amostra geral é de 95%.

O engenheiro civil Sérgio Lenerson, 27, criou a Maesttre em 2023, logo após colar grau. Voltada a obras e reformas residenciais em Manaus, a empresa soma atualmente seis funcionários (dois engenheiros, dois arquitetos e dois profissionais responsáveis pelas redes sociais) —todos trabalham como PJ (pessoa jurídica). Segundo ele, o mercado local está bem aquecido e há bastante demanda.

Lenerson afirma que, logo depois de sair da faculdade, a idade foi um problema para arranjar clientes.

"Às vezes, tinha um desafio também por ser novo. Tinha algumas situações em que o cliente chegava e olhava o cara muito novo, não confiava tanto. Eu tinha que ser muito mais técnico vendendo para ele o meu serviço", conta.

Par a estudante de engenharia química Isabela Pereira, 22, a Zona Franca de Manaus é um atrativo para jovens da região. "Eu sou uma das pessoas que, no quarto período, já conseguiu ingressar em estágio na minha área. A oportunidade de estágio é muito grande."

Na visão de Vinicius Marchese, presidente do Confea (Conselho Federal de Engenharia e Agronomia), o aumento do número de projetos de engenharia na região contribuiu para atrair mais profissionais jovens. Ele cita a exploração na bacia da Foz do Amazonas como exemplo.

Neste ano, o governo Lula também fez uma série de leilões de rodovias em estados das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, como os certames da Rota Agro Norte, que corta Rondônia, e a Rota da Celulose, que atravessa Mato Grosso do Sul. As concessões preveem bilhões de reais de investimentos em obras, que incluem duplicações e faixas adicionais.

Para além dos novos projetos, Marchese aponta uma saturação do mercado no Sudeste.

"Ali está no limite mesmo. Por mais que a gente tenha uma série de oportunidades e necessidades, pelo olhar do profissional, a região está saturada", afirma.

O CEO da Motiva Rodovias, Eduardo Camargo, disse em entrevista à Folha em setembro que a companhia tem observado falta de mão de obra especializada. Para atrair novos funcionários, a Motiva decidiu retomar o programa de trainee da empresa, batizado de Quest_, que havia sido interrompido há quatro anos.

A falta de mão de obra especializada também virou reclamação da Nova 364, que administra a Rota Agro Norte (RO). De acordo com executivos à frente do projeto, Rondônia tem uma grande massa de mão de obra voltada ao agronegócio e, por isso, é difícil atrair o trabalhador local para a construção civil, atividade que não tem a mesma força no estado.

Ainda segundo a pesquisa da Quaest, os engenheiros brasileiros registrados mostraram satisfação com o mercado de trabalho—a parcela de entrevistados que se declarou satisfeita varia de 65% a 73%, a depender da faixa etária. Os maiores índices de satisfação são observados entre profissionais com 35 anos ou mais.

Na contramão, engenheiros com idade entre 25 e 29 anos são os menos contentes com o mercado. Nesse grupo, 65% estão satisfeitos, e 35% se disseram insatisfeitos.

Nessa mesma faixa etária, a maior reclamação é a falta de vagas de trabalho (37%), seguida por salários baixos e piso salarial defasado (31%).

A pesquisa indica que a remuneração é mais alta conforme a idade avança. A maior fatia dos engenheiros com idade entre 18 e 29 anos disse ganhar entre dois e cinco salários mínimos. Nas outras faixas etárias, a maior parte de cada grupo disse ter remuneração superior a cinco salários mínimos.

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