Faltam quatro semestres para Giovanna Lins, 22, se formar em engenharia civil pelo Ifam (Instituto Federal do Amazonas). Ela está no sexto período, mas desde o terceiro é funcionária da Seinfra-AM (Secretaria de Estado de Infraestrutura do Amazonas).
Giovanna diz perceber um aquecimento do setor no estado, com mais presença de construtoras. "Diferentemente de São Paulo, onde o mercado sempre esteve muito em alta, a obra vertical [prédios] aqui começou agora. Tem várias construtoras. Antigamente não se via isso."
Uma pesquisa realizada pela Quaest a pedido do Confea (Conselho Federal de Engenharia e Agronomia) e do Crea-SP (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de São Paulo) mostra que a grande maioria dos engenheiros registrados com mais de 30 anos estão no Sudeste, região que representa mais de 50% nessas faixas etárias.
No entanto, no segmento que vai de 18 a 24 anos, por exemplo, a distribuição é mais pulverizada. Nesse estrato, a participação do Sudeste cai para 28%. Engenheiros registrados no Sul representam 23% dos profissionais nessa faixa, seguidos por trabalhadores do Norte (18%), Nordeste (17%) e Centro-Oeste (14%).
Esta é a primeira vez que a entidade faz a pesquisa. A Quaest realizou 48 mil entrevistas com profissionais das áreas de engenharia, meteorologia e geociências registrados no Confea, no período de 23 de setembro de 2024 a 2 de fevereiro de 2025. A margem de erro é de 1 ponto percentual. O nível de confiabilidade da amostra geral é de 95%.
O engenheiro civil Sérgio Lenerson, 27, criou a Maesttre em 2023, logo após colar grau. Voltada a obras e reformas residenciais em Manaus, a empresa soma atualmente seis funcionários (dois engenheiros, dois arquitetos e dois profissionais responsáveis pelas redes sociais) —todos trabalham como PJ (pessoa jurídica). Segundo ele, o mercado local está bem aquecido e há bastante demanda.
Lenerson afirma que, logo depois de sair da faculdade, a idade foi um problema para arranjar clientes.
"Às vezes, tinha um desafio também por ser novo. Tinha algumas situações em que o cliente chegava e olhava o cara muito novo, não confiava tanto. Eu tinha que ser muito mais técnico vendendo para ele o meu serviço", conta.
Par a estudante de engenharia química Isabela Pereira, 22, a Zona Franca de Manaus é um atrativo para jovens da região. "Eu sou uma das pessoas que, no quarto período, já conseguiu ingressar em estágio na minha área. A oportunidade de estágio é muito grande."
Na visão de Vinicius Marchese, presidente do Confea (Conselho Federal de Engenharia e Agronomia), o aumento do número de projetos de engenharia na região contribuiu para atrair mais profissionais jovens. Ele cita a exploração na bacia da Foz do Amazonas como exemplo.
Neste ano, o governo Lula também fez uma série de leilões de rodovias em estados das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, como os certames da Rota Agro Norte, que corta Rondônia, e a Rota da Celulose, que atravessa Mato Grosso do Sul. As concessões preveem bilhões de reais de investimentos em obras, que incluem duplicações e faixas adicionais.
Para além dos novos projetos, Marchese aponta uma saturação do mercado no Sudeste.
"Ali está no limite mesmo. Por mais que a gente tenha uma série de oportunidades e necessidades, pelo olhar do profissional, a região está saturada", afirma.
O CEO da Motiva Rodovias, Eduardo Camargo, disse em entrevista à Folha em setembro que a companhia tem observado falta de mão de obra especializada. Para atrair novos funcionários, a Motiva decidiu retomar o programa de trainee da empresa, batizado de Quest_, que havia sido interrompido há quatro anos.
A falta de mão de obra especializada também virou reclamação da Nova 364, que administra a Rota Agro Norte (RO). De acordo com executivos à frente do projeto, Rondônia tem uma grande massa de mão de obra voltada ao agronegócio e, por isso, é difícil atrair o trabalhador local para a construção civil, atividade que não tem a mesma força no estado.
Ainda segundo a pesquisa da Quaest, os engenheiros brasileiros registrados mostraram satisfação com o mercado de trabalho—a parcela de entrevistados que se declarou satisfeita varia de 65% a 73%, a depender da faixa etária. Os maiores índices de satisfação são observados entre profissionais com 35 anos ou mais.
Na contramão, engenheiros com idade entre 25 e 29 anos são os menos contentes com o mercado. Nesse grupo, 65% estão satisfeitos, e 35% se disseram insatisfeitos.
Nessa mesma faixa etária, a maior reclamação é a falta de vagas de trabalho (37%), seguida por salários baixos e piso salarial defasado (31%).
A pesquisa indica que a remuneração é mais alta conforme a idade avança. A maior fatia dos engenheiros com idade entre 18 e 29 anos disse ganhar entre dois e cinco salários mínimos. Nas outras faixas etárias, a maior parte de cada grupo disse ter remuneração superior a cinco salários mínimos.

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