sábado, 31 de janeiro de 2015

Pesquisa inédita na América Latina busca baratear tratamento de água do G1

m professor da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) está desenvolvendo uma pesquisa inédita na América Latina para a dessalinização da água. Estudos baseados na ‘deionização capacitiva’ já existem nos Estados Unidos e na Europa, mas são uma novidade por aqui, onde a intenção é desenvolver um processo mais barato para a transformação da água salobra em potável, auxiliando regiões como o semiárido nordestino.
Professor pesquisa tratamentos da água desde o mestrado (Foto: Divulgação/Enzo Kuratomi)Professor pesquisa tratamentos da água desde
o mestrado (Foto: Divulgação/Enzo Kuratomi)
Luis Augusto Martins Ruotolo pesquisa tratamentos da água desde o mestrado.  Começou estudando a remoção de metais pesados, depois remoção de poluentes orgânicos e, em um pós-doutorado nos Estados Unidos, foi convidado e estudar a dessalinização (retirada do sal para produzir água potável).
Ele explicou que o processo consiste no uso de placas (eletrodos) de carbono que, mediante a aplicação de uma baixa voltagem (1,2V), removem o sal (NaCl), retendo-o sobre a superfície dos eletrodos. Eletrodos positivos atraem o cloreto - Cl (íon de carga negativa), eletrodos negativos atraem o sódio - Na (íon de carga positiva) e a água sai dessalinizada. “O processo remove os íons (partículas eletricamente carregadas) da água e ela fica limpa”, afirmou.
A diferença do procedimento, desenvolvido em parceria com o professor Marc Anderson, da University of Wisconsin-Madison (EUA), o mestrando Rafael Linzmeyer Zornitta e com o pesquisador espanhol Julio Jose Lado Garrido está nos custos. “A deionização capacitiva é mais simples do que a osmose reversa, sua maior concorrente, não requer muita manutenção e consome pouca energia, o que permitiria o uso de painéis solares fotovoltáicos. E a luz solar é abundante no semiárido”, comentou Ruotolo.
Segundo o professor, o governo já instalou equipamentos de osmose reversa para dessalinização da água salobra no semiárido, mas muitos estão parados devido à dificuldade de manutenção. “A gente espera que empresas e que o governo se interessem pela tecnologia. Nos EUA, por exemplo, a Marinha financia pesquisas para ter água potável nos navios”.
Processos
Na osmose reversa ocorre uma espécie de filtração por membranas. O problema é que, com o tempo, essas membranas, além de possuírem um custo relativamente elevado, vão entupindo e precisam de manutenção adequada ou então ser trocadas. Além disso, para que a água permeie o sistema, o mesmo tem que trabalhar com pressões muito altas, o que exige maior gasto de energia.
Outra forma de retirar o sal da água é a destilação, baseada nos diferentes pontos de ebulição das substâncias – uma evapora e a outra fica armazenada, por exemplo. “É um processo que consome muita energia. É feito, por exemplo, em alguns países do Oriente Médio, onde há abundância de petróleo e, portanto, energia barata”, explicou Ruotolo.
Ruotolo faz alerta sobre a poluição (Foto: Divulgação/Enzo Kuratomi)"Daqui a pouco não vai adiantar ter água e não poder 
usar", alerta Ruotolo (Foto: Divulgação/Enzo Kuratomi)
Consciência
O pesquisador enfatizou que os processos devem ser condizentes com a realidade de cada país e de cada região, mas que, por mais barata que seja a tecnologia desenvolvida, ela nunca vai ter custos mais baixos do que o tratamento convencional, de transformar a água limpa e abundante em potável. E isso reforça a necessidade de cuidar desse recurso.
“Nenhum processo é mais barato do que o convencional. Se há água, vamos cuidar e não poluir, porque daqui a pouco não vai adiantar ter água e não poder usar”, afirmou, indicando ainda que a água pode ficar mais cara e que é fundamental repensar o consumo.  “A visão de que tratamento de resíduos industriais é custo tem que acabar. Reuso e reciclagem de água é investimento. Por que não tratar, reutilizar e ao mesmo tempo evitar o desperdício? Uma coisa não anula a outra. Elas têm que caminhar juntas e o conhecimento deve ser usado para isso”.
Entre os pontos que deveriam ser combatidos, Ruotolo citou os vazamentos na rede de distribuição e o uso de água tratada para atividades como lavar a calçada e dar descarga. “Como nunca faltou, não sentimos na pele. Se há um ponto positivo na estiagem é começar a repensar a questão do uso da água, como no apagão. Rever nossa postura. A gente nunca se antecipa ao problema. Espero que as indústrias e o governo comecem a repensar suas responsabilidades, assim como a população”.
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Água: tragédia anunciada, por Malu Ribeiro


Publicado: Atualizado: 
CANTAREIRA
Os rios brasileiros refletem nitidamente o descaso com que a gestão da água é tratada no país. Por conta da maior crise hídrica da nossa história, o Brasil, detentor da maior reserva de água doce do Planeta, se vê agora obrigado a sair da zona de conforto para assumir, a duras penas, que esse recurso natural, essencial à vida e a todas as atividades econômicas, é escasso. Mesmo assim, continuamos a tratar os mananciais como a extensão das nossas descargas, com o despejo diário de toneladas de esgotos, e a considerar as grandes bacias hidrográficas como a ponta das tomadas de energia elétrica.
Essa realidade, agravada pela falta de planejamento integrado e estratégico, nos coloca mais uma vez diante da tragédia anunciada do desabastecimento de água e do apagão elétrico. Vivemos isso no passado recente, em 2001, com o apagão que levou os brasileiros a economizarem energia e a mudarem de comportamento. No entanto, não houve a devida atenção para a causa, que também fora uma grave seca. Desde então, técnicos dos setores de recursos hídricos, saneamento e energia, organizações civis, instituições públicas e privadas têm alertado os governantes e promovido fóruns nacionais e internacionais sobre a escassez da água.
O acesso à água em qualidade e quantidade é considerado um dos maiores desafios da humanidade diante do crescimento das cidades e das atividades econômicas. Há mais de 20 anos, a Organização das Nações Unidades (ONU) adotou a data de 22 de março como o Dia Internacional da Água, para unir governos e sociedade no esforço de promover o uso racional desse bem e aliar a demanda à necessidade ecossistêmica, com o objetivo de garantir a nossa sustentabilidade. Muitos avanços ocorreram e o acesso à água foi reconhecido como Direito Humano, mas a nossa "pegada hídrica" não diminuiu.
Continuamos com índices altíssimos de consumo e desperdício. Cerca de 70% da água bruta captada diretamente nos rios para a agricultura irrigada escoa no solo carregando defensivos. O setor industrial, responsável por 20% do consumo, embora mais eficiente no uso por ser sobretaxado com instrumentos como a cobrança pelo uso da água, ainda trata efluentes com baixa eficiência em muitas regiões. O tratamento de esgoto industrial com baixa eficiência ocorre por conta da legislação que versa sobre o enquadramento dos corpos d'água e permite que rios qualificados como de classe 4 sejam utilizados para diluir efluentes.
Na ponta vem o setor de abastecimento público, responsável por 10% do consumo da água e por um enorme desperdício na rede física, que varia de 25% a 40%. Esse setor também é responsável por 70% da carga de poluição dos rios. O motivo: falta de tratamento de esgotos. Dados divulgados por representantes do Fórum Mundial da Água revelam que mais de 100 milhões de brasileiros não têm acesso a esgoto tratado. Essa perversa realidade leva ao agravamento da escassez por indisponibilidade decorrente da precária qualidade da água e resulta em patamares ainda mais alarmantes de doenças de veiculação hídrica.
A falta de informação e transparência fazem com que o uso da água de reúso ainda seja limitado no país. São Paulo é pioneiro nesse setor e recentemente anunciou que utilizará água de reúso para reabastecer um manancial, a Guarapiranga. A notícia de que o esgoto tratado será utilizado para abastecimento humano, após novo tratamento, assustou cidadãos que ainda não perceberam que, na prática, já estamos tratando água que recebe esgotos na maioria dos rios e mananciais. Diversos países utilizam a água de reúso diretamente na rede de abastecimento público e investem de forma maciça em eficiência e tecnologia para despoluir e garantir água de qualidade as suas populações.
A escassez nos levará, certamente, a promover a despoluição de mananciais como a Billings, na região metropolitana de São Paulo, além de grandes rios, como Tietê, o Guandu, na Baixada Fluminense, a bacia do Rio das Velhas, na região metropolitana de Belo Horizonte, ou o Iguaçu, no Paraná, dentre tantos outros que cortam áreas urbanas e estão poluídos e com águas indisponíveis para usos múltiplos.
O problema é que a distância entre a nossa realidade e os compromissos assumidos pelo Brasil em tratados internacionais dos quais o país é signatário e das normas conquistadas pela sociedade desde a Constituição de 1988 continua imensa. Além disso, a legislação ambiental brasileira vem sendo cada vez mais afrouxada para regularizar atividades econômicas e usos do solo em áreas de preservação permanente, destinadas justamente à proteção da água, de nascentes e rios.
Autoridades insistem ainda em desconsiderar a relação entre o desmatamento da Mata Atlântica e a diminuição da disponibilidade de água na região Sudeste. Como se não bastasse, ainda predomina o discurso daqueles que querem justificar a ineficiência dos setores elétrico e de saneamento básico atribuindo ao licenciamento ambiental a culpa pela demora na execução de megaobras, que sequer têm projetos e estudos estratégicos de viabilidade.
Ao continuar tratando a água de forma compartimentada - dividindo a gestão dos recursos hídricos entre os setores de energia, abastecimento e produção de alimentos em diversos ministérios e secretarias nacionais, estaduais e municipais, que não se conversam - e sem agências reguladoras independentes que garantam a participação efetiva dos cidadãos, transparência e governança, ficará cada vez mais difícil buscar soluções para essa grave realidade.
É preciso dar um basta na politização da crise e no desgoverno. A hora é de unir a sociedade para cobrar responsabilidades dos governantes e somar esforços para o enfrentamento do problema. Somos capazes. Temos conhecimento técnico, científico, um enorme acúmulo de dados, pesquisas, estudos, experiências positivas e políticas públicas que precisam ser reconhecidas e postas em prática. Somos também solidários e criativos para fazer da crise uma oportunidade para nos mobilizarmos em defesa da água.
Por Malu Ribeiro, coordenadora da Rede das Águas da Fundação SOS Mata Atlântica.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

1% da população mundial detém 50% do PIB do planeta

19 Janeiro 2015 | 07h 15
Elite já acumula riqueza equivalente a tudo o que os demais 99% das pessoas detêm
GENEBRA A
riqueza acumulada por 1% da população mundial será superior a tudo o que os demais possuem. Os dados foram
apresentados nesta segundafeira,
19, pela entidade Oxfam, às vésperas do Fórum Econômico Mundial de Davos e que justamente reúne
a cúpula do planeta.
Segundo a entidade, a fortuna de 99% da população mundial será equivalente a tudo o que acumula apenas a nata da sociedade, cerca de
1% do mundo.
Para a entidade, a crise econômica mundial que começou em 2008 resultou em uma "explosão da desigualdade". Hoje, uma a cada nove
pessoas ainda passa fome no planeta que produz alimentos para três planetas e mais de 1 bilhão de pessoas ganham menos de US$ 1,25
por dia.
O que chama a atenção da entidade, porém, é que a concentração de riqueza é cada vez maior. Em 2009, a parcela de 1% mais rica da
população mundial acumulava 44% do PIB do planeta. Em 2014, essa taxa chegou a 48% e, em 2016, ela atingirá 50%.
1% da população mundial detém 50% do
PIB do planeta
Em média, cada pessoa dessa elite do planeta mantém uma renda de US$ 2,7 milhões. Dos demais 52% do PIB global, quase tudo está
nas mãos da camada dos 20% mais ricos.
O restante da população do mundo cerca
de 80% precisa
dividir 5,5% da riqueza do planeta e acumula uma renda de apenas US$ 3,8
mil. O valor é 700 vezes menor que a renda da elite.
Winnie Byanyima, diretoraexecutiva
da Oxfam, espera usar o encontro de Davos para insistir que a desigualdade social precisa ser alvo
dos governos e de líderes do setor privado, alertando para os riscos que essa situação cria na política internacional.
Entre as medidas defendidas por ela está um maior rigor fiscal contra multinacionais e mesmo um acordo para o clima. "Queremos
mesmo viver em um mundo onde 1% detém mais que todos nós juntos?"questionou. "A escala da desigualdade global é assustadora e,
apesar do tema estar na agenda política, a diferença entre pobres e ricos apenas aumenta", atacou.
Segundo ela, líderes como Barack Obama e a gerente do Fundo Monetário Internacional, Christine Lagarde, de fato estão falando cada
vez mais sobre o assunto. Mas a Oxfam alerta que pouco tem sido feito além de discursos.

Medidas emergenciais nas questões de água e clima


Secretários Estaduais de meio ambiente e de agricultura serão convidados a debater o tema
As ministras Izabella Teixeira (Meio Ambiente) e Kátia Abreu (Agricultura) acertaram ontem a realização em Brasília de uma reunião com secretários estaduais de meio ambiente e de agricultura, no próximo dia 5 de fevereiro, para discutir, debater e oferecer soluções aos desafios que o País impôs ao governo federal em razão dos problemas causados pelo baixo volume de chuvas que está afetando o abastecimento de água no Sudeste e no Nordeste.
- Vamos ouvir os secretários, verificar medidas que podem ser adotadas e traçar metas de trabalho”, afirmou a ministra Kátia Abreu. “Além de água e clima, nossa pauta incluirá o Cadastro Ambiental Rural (CAR) e os processos de licenciamento ambiental", completou. “É importante trocar informações com os secretários estaduais, perguntar o que nós podemos fazer para ajudar na busca de soluções”, explicou a ministra Izabella.
Kátia Abreu esteve no ministério do Meio Ambiente para tratar pessoalmente com Izabella Teixeira a pauta do encontro nacional dos secretários estaduais. Logo depois, a ministra reuniu-se no MAPA com os presidentes da EMBRAPA, da CONAB, Agência Nacional de Águas (ANA) e Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) e outros assessores técnicos.
Embora as previsões de safra das principais culturas brasileiras continuem nos índices de antes, e sem previsão de quebra, a ministra solicitou aos auxiliares acompanhamento rigoroso e monitoramento em todo o país das questões de água e clima. Segundo ela, essas são algumas das prioridades do produtor, do MAPA e do país.
O presidente da Embrapa, Maurício Lopes, lembrou que o governo federal dispõe do Sistema de Observação e Monitoramento da Agricultura do Brasil (Soma), com levantamento feito por meio de satélite com altíssimo desempenho tecnológico. A partir deste novo equipamento, a Embrapa vai fornecer ao Mapa mais dados e mais instrumentos para a prevenção de eventuais dificuldades no setor agrícola. Para este ano, a Conab faz uma avaliação tranquila.  “Nossa previsão é da colheita de safras cheias em todos os produtos da pauta brasileira de consumo interno e de exportações”, disse o seu presidente Rubens Santos.
A ministra Kátia Abreu também decidiu agilizar todos os procedimentos necessários para ampliar o projeto de apoio ao produtor de água. Feito em conjunto com a FAO e a ANA, este programa tem o objetivo de preservar nascentes, recuperar áreas de preservação permanentes e aumentar a oferta de água. “Vamos criar incentivos ao produtor de água”, assinalou a ministra. “Está mais do que provado que a água não é um recurso infinito”.
Mais informações para a imprensa:
Assessoria de Comunicação Social do Mapa
(61) 3218-2203
imprensa@agricultura.gov.br

Um alerta de 1977 para a crise da água


POR MAURÍCIO TUFFANI
13/11/14  16:01
8,6 mil1972
Paulo Nogueira Neto, professor de ecologia da USP e ex-secretário especial do Meio Ambiente do governo federal de 1974 a 1986, em entrevista ao Canal Brasil em 2012. Imagem: Canal Brasil/Reprodução
Paulo Nogueira Neto, professor de ecologia da USP e ex-secretário especial do Meio Ambiente do governo federal de 1974 a 1986, em entrevista ao Canal Brasil em 2012. Imagem: Canal Brasil/Reprodução
“Água de São Paulo está no fim, diz Nogueira Neto” foi o título de uma reportagem da Folha há 37 anos. A matéria, na edição de 25 de maio de 1977 (Primeiro Caderno, pág. 12), noticiava o alerta de Paulo Nogueira Neto, professor de ecologia da USP e titular da Sema (Secretaria Especial do Meio Ambiente), do governo federal, que comandou de 1974 a 1986.
Nessa reportagem, o então secretário federal destacou São Paulo e Belo Horizonte como “exemplos típicos de má utilização da água doce” no Brasil. Ele afirmou que as duas cidades deveriam “cuidar urgentemente da preservação de seus recursos hídricos”, ressaltando que a situação da capital paulista era “particularmente delicada”, pois os mananciais que a abasteciam já naquela época seriam posteriormente necessários para atendimento à região metropolitana que começava a se formar em Campinas. E acrescentou:
“E, talvez, antes do final do século, São Paulo terá que se abastecer com água transportada do vale do Ribeira.”
Reportagem da Folha de 27 de maio de 1977. Imagem: Acervo Folha/Reprodução
Reportagem da Folha de 27 de maio de 1977. Imagem: Acervo Folha/Reprodução
Omissões
Passados esses 37 anos, São Paulo nunca adotou uma política para uma verdadeira utilização racional de seus recursos hídricos, não impediu nem reverteu a invasão e o adensamento populacional de áreas de proteção de mananciais e teve resultados pífios na redução do elevado nível de perdas de água no seu próprio sistema de distribuição.
Para agravar ainda mais esse quadro, o governo de São Paulo não realizou as obras do sistema de produção São Lourenço (SPSL) para a entrada em operação a partir de 2015, prevista desde a década passada. Os riscos desse atraso não só para o abastecimento da metrópole, mas também para a integridade dos sistemas Guarapiranga e Cantareira foram previstos também no estudo de impacto ambiental elaborado em 2011 para o São Lourenço.
“Caso o SPSL nem outro novo sistema produtor sejam implantados, o cenário prospectivo é de déficits crescentes no Sistema Integrado, e a permanência ou piora da regularidade de abastecimento nas zonas oeste, sudoeste e norte/noroeste da metrópole, (…) e maior stress no uso dos Sistemas Guarapiranga e Cantareira. (…) Os reservatórios tenderão a operar com menor volume de reserva e, ocorrendo condições hidrológicas desfavoráveis (não necessariamente críticas), a possibilidade de um colapso no abastecimento será maior, e o esquema de rodízio deverá ser adotado de modo generalizado na metrópole.”
Mais do mesmo
No entanto, as “condições hidrológicas desfavoráveis” começaram a ser críticas já no final de 2013. O governo federal também tem sua parcela de responsabilidade por todo esse quadro, uma vez que a ANA (Agência Nacional de Águas) poderia ter exigido de São Paulo medidas severas nas renovações da outorga do sistema Cantareira.
Ainda ontem, a recém-criada Aliança pela Proteção da Água divulgou notacriticando as medidas anunciadas pelo governo estadual, destacando os seguintes pontos.
    • O conjunto de intervenções apresentado não resolve a crise atual, é fazer mais do mesmo, ou seja, novas e caras obras que não contemplam medidas estratégicas para criar segurança hídrica.
    • Até o momento não foi apresentado um plano de contingência que demonstre como vamos chegar em abril de 2015 em situação segura para encarar o próximo período de estiagem.
    • Não foi feita qualquer menção sobre recuperar e cuidar dos mananciais existentes (restauração florestal, ampliação de parques, pagamentos por serviços ambientais)
Imediatismo
O alerta do titular da Sema em 1977 não foi o único  desde aquela época. Foram frequentes avisos de outros especialistas, principalmente de um dos maiores estudiosos dos recursos hídricos do Brasil nas últimas décadas do século passado, o geólogo Aldo da Cunha Rebouças (1937-2011), também professor da USP.
Telefonei na manhã desta quinta-feira (13) para Paulo Nogueira Neto —hoje com 92 anos e aposentado da USP—, e perguntei a ele por que o poder público costuma agir como se ignorasse alertas baseados na ciência. Ele apontou dois motivos: “imediatismo e economia malfeita de recursos”.
Apesar de tudo isso, o governo de São Paulo ainda insiste na retórica de que “garante” o abastecimento até março de 2015, minimizando o prejuízo para a integridade dos demais sistemas de produção de água, apontado também no próprio estudo de impacto ambiental do sistema São Lourenço.

Davos: Nada de novo no Ocidente , por Ladislau Dowbor


“O Fórum mostrou que está comprometido com melhorar o estado do mundo, conquanto nada mude realmente.” 
O ano de 2015, em termos de destinos planetários, aparece como chave para mudanças sempre adiadas. Os nossos desafios são hoje mais do que estudados e explicitados, tanto em termos de diagnóstico como de remédios. O aquecimento global terá reuniões decisivas em Paris, e estamos no limite. Envolve nada menos do que a mudança da matriz energética que carregou as inovações do século XX. Em Nova Iorque iremos desenhar os novos rumos do planeta em termos de Objetivos do Desenvolvimento Sustentável. Em Addis Abeba iremos traçar diretrizes para o financiamento das novas orientações.

O grande avanço que se constata por enquanto, é o da tomada de consciência da catástrofe em câmara lenta que se desenha. O mundo produz hoje o equivalente a 8 mil reais de bens e serviços por mês por família de 4 pessoas, o suficiente para uma vida digna e confortável para todos. Mas 1,3 bilhões de pessoas estão sem acesso à luz elétrica, e por tanto excluídas do mundo moderno. A fome atinge 800 milhões de pessoas, das quais 180 milhões de crianças, isto quando grande parte dos grãos do planeta são destinados a produzir ração animal e mover carros de luxo. A WWF mostrou que entre 1970 e 2010, em 40 anos, conseguimos destruir 52% da vida vertebrada da terra, rios e oceanos. Desmatamento, contaminação do solo e das águas e tantas outras mazelas se acumulam em escala planetária. Mas não temos governo em escala planetária.

Com problemas em escala global e governança fragmentada entre 192 Estados que brigam por vantagens pontuais, temos hoje um desajuste estrutural entre a dimensão dos desafios e os instrumentos de decisão. Assim, com um certo recuo, vemos como patéticas reuniões como os G8, G20, conferências internacionais de diversos tipos onde se constata, de ano para ano, os mesmos dramas e a mesma impotência. Davos trouxe o esperado: Ban Ki Moon falou do desafio climático, François Hollande do terrorismo, a Oxfam trouxe o drama da desigualdade para uma plateia que justamente a gera e aprofunda: 80 famílias detêm uma riqueza maior do que a metade mais pobre do planeta. São essencialmente intermediários financeiros.

Este clube dos ricos e poderosos traz à mente as antigas reuniões dos coroados em Viena, com bailes e champanhe, se sentindo os donos do mundo, sem ver a desagregação em curso. A consciência avança, sem dúvida, e até as transnacionais começaram a se preocupar. Mas a janela de tempo para iniciativas muito mais sérias está se fechando.

Ladislau Dowbor
Professor PUC-SP



quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Falta de água e de respeito, Rogério Gentili, FSP


"O racionamento de cinco dias não pode ser encarado como uma mera fatalidade, decorrente da pouca colaboração do céu. É uma consequência direta da falta de planejamento". O comentário é de Rogério Gentili, jornalista, em artigo no jornal Folha de S.Paulo, 29-01-2015.
Eis o artigo.
São Paulo enfrentará uma situação só imaginável em regiões desérticas, áreas de conflito armado ou carentes de civilização se, de fato, for preciso implantar o tal modelo de racionamento no qual a população ficará sem água durante cinco dias por semana.
Medida tão drástica assim já foi adotada, por exemplo, em Amã, capital na Jordânia, um dos países mais secos do mundo, onde cerca de 92% das terras são desérticas. Amã tem um regime de chuvas baixíssimo, de cerca de 270 milímetros por ano --na região do Cantareira, no árido 2014, houve cerca de 3,5 vezes mais.
Na maior cidade de um país que possui cerca de 12% das reservas de água doce do mundo, ainda que concentrada em sua maior parte na Bacia Amazônica, racionamento de cinco dias não pode ser encarado como uma mera fatalidade, decorrente da pouca colaboração do céu.
É uma consequência direta da falta de planejamento, da incapacidade administrativa e da irresponsabilidade política, problemas, aliás, que não são exclusivos do Estado. Não foi por falta de avisos, como provam dezenas de estudos sobre o consumo exagerado na região metropolitana e a baixa disponibilidade hídrica, que São Paulo chegou aonde chegou --uma cidade onde moradores precisam recorrer a água da sarjeta para garantir a descarga nos banheiros.
A própria divulgação do esquema draconiano de racionamento é um sintoma do despreparo do governo paulista para lidar com questões importantes. Não foi o governador, nem o secretário de Recursos Hídricos, nem o presidente da Sabesp que anunciou publicamente a possibilidade de se adotar a medida.
Foi um funcionário de segundo escalão da empresa que falou sobre o assunto, sem prestar grandes explicações ou informações complementares, durante uma inspeção em uma obra na qual Alckmin fez questão de utilizar um bonezinho da Sabesp.
Além de chuva, São Paulo precisa de bom senso e respeito.

A casa sustentável: o futuro que já chegou (Superinteressante)



 1 de agosto de 2014
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Aquecimento global e mudanças climáticas são termos que deixaram de fazer parte somente da conversa de cientistas. Hoje estão integrados no nosso dia a dia. Sabemos que para enfrentar a transformação que o planeta vem sofrendo, precisamos nos adaptar e viver de forma diferente.
Para atender esta demanda, pesquisadores da Universidade da California Davis (UC Davis), a fabricante de veículos Honda e uma equipe de arquitetos e engenheiros criou a Honda Smart Home, a casa com emissão de carbono zero.
A construção foi erguida na cidade universitária de Davis, a cerca de 25 quilômetros de Sacramento. Tem 180 m², com três quartos e dois banheiros. No total, o projeto levou dois anos para ser concluído.
A concepção da planta partiu da técnica conhecida como passive design. Ao estudar o movimento da rotação da Terra e, consequentemente, a direção dos raios do sol nas diferentes épocas do ano sobre o terreno onde a casa iria ser construída, os arquitetos projetaram a planta, que utiliza da melhor forma possível a luz solar. Com isso, reduziu-se a necessidade do uso de aquecimento ou ar-condicionado.
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Máximo uso da luz natural para economizar energia
Desta maneira, durante o verão, o telhado da casa bloqueia mais o sol e mantém o ambiente fresco e no inverno possibilita o maior uso de calor natural. “É fundamental otimizar a colocação de janelas, portas e escadas ao projetar um ambiente eficiente energeticamente”, explica Michael Koenig, líder do projeto.
A mesma lógica do ciclo natural - dia versus noite – foi utilizada para a iluminação, que respeita e acompanha o ritmo e o relógio biológico dos moradores. Lâmpadas LEDcinco vezes mais eficientes que as tradicionais, se revezam automaticamente com tons mais quentes nas primeiras horas da manhã, tornando-se mais frias durante a tarde e mudando para um tom mais azulado e calmante à noite, para que os moradores possam relaxar e ter uma boa noite de sono.
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Iluminação LED digital muda os tons conforme passam as horas do dia
O telhado de metal – mais durável e reciclável – recebeu uma centena de painéis solares. Toda a madeira utilizada para erguer o “esqueleto” da casa é certificada. No piso, concreto polido, que além de durar mais e ser fácil de limpar, acumula menos poeira e provoca menos alergias respiratórias.
A água da chuva e das tempestades que cai do telhado, escorre através de calhas em pequenas rochas no quintal. À medida que a água penetra na terra, a poluição é naturalmente filtrada pelo solo. Além disso, as plantas escolhidas para o jardim são nativas da região e praticamente não precisam ser regadas. Quando isso se faz necessário, é utilizada água de reuso purificada, proveniente de pias, vasos sanitários e máquina de lavar.
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Plantas nativas e água de reuso no jardim
Um dos pontos mais impressionantes do projeto é que através do uso inteligente de recursos naturais - sol, vento e água – a casa produz mais energia do que consome. No subsolo, foram instaladas bombas de energia geotérmica. O sistema de aquecimento e resfriamento distribui esta energia uniformemente através da  circulação de água, feita por uma rede de tubos instalados nos pisos, paredes e tetos.
Na garagem, uma bateria de lítio de 10kWh armazena energia solar para que ela possa ser usada à noite, quando normalmente ocorre o pico da demanda doméstica e veículos elétricos são geralmente recarregados.
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O mais bacana é que projeto sustentável foi feito para ser disseminado. No site da Honda Smart Home é possível fazer download de todas as plantas da casa inteligente e saber mais sobre os materiais empregados. “Nossa intenção é que todas as pessoas conheçam nosso projeto e de alguma maneira possam aplicar alguma coisa em suas casas”, revela Koenig.
Mas o americano ressalta que governos devem estimular aqueles que investem em construções sustentáveis. “Deve haver algum incentivo financeiro, redução nas contas ou ainda, que seja criado um mercado de compra e venda de energia para estes tipos de casas”.
A casa do futuro já existe. Agora precisamos colocar em prática o mercado regulado pela economia verde.
Fotosdivulgação

Represa cheia no Cantareira leva a boato sobre atual nível do sistema


Imagens mostram represa em Mairiporã com bom volume d'água.
Reservatório recebe volume captado de outras três represas.

Do G1 São Paulo
Vídeo publicado na internet mostra represa do Sistema Cantareira cheia em Mairiporã (Foto: Reprodução Youtube)Vídeo publicado na internet mostra represa do Cantareira cheia em Mairiporã (Foto: Reprodução/YouTube)
Um vídeo publicado no YouTube que mostra uma das represas do Cantareira cheia d'água levou à circulação de um boato que questiona os dados da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp). A empresa alerta que as imagens representam apenas uma ponta do sistema, que tem nível de 5,1%.
O vídeo feito por um motorista no dia 22 de janeiro e compartilhado em redes sociais mostra a represa, em Mairiporã, com nível bem próximo às margens. O autor do vídeo questiona: "Para onde será que vai essa água? Tá seco? A represa está cheia!".
Segundo a Sabesp, a represa mostrada no vídeo é a Paiva Castro, a última e a menor do Cantareira. O reservatório tem capacidade de armazenamento de 7 bilhões de litros e fica mais cheia porque recebe o volume captado nos reservatórios Jaguari-Jacareí, Cachoeira e Atibainha, que estão em áreas mais altas.
A empresa negou que o sistema esteja com quantidade normal de água e explicou que o volume que chega na Paiva Castro por gravidade é enviado para a Estação Elevatória Santa Inês. Depois segue para tratamento na Estação de Tratamento de Água (ETA) Guaraú.
De lá, a água é repassada para a represa Águas Claras, que opera como um reservatório de redução de velocidade e para possível contingência, e depois distribuída para 6,2 milhões de pessoas na Grande São Paulo (veja abaixo).
O Sistema Cantareira tem capacidade total de 1,5 trilhão de litros, considerando os 480 bilhões de litros de volume morto. Nesta quarta-feira, operava com 5,1%, já considerando as duas reservas técnicas.
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Arte - Raio-x do sistema cantareira (Foto: G1)
Represa Paiva Castro, a última do Sistema Cantareira, em agosto de 2014 (Foto: Isabela Leite/G1)Represa Paiva Castro, a última do Sistema Cantareira, em agosto de 2014 (Foto: Isabela Leite/G1)