segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

O que é bioeconomia, e qual o lugar do Brasil nesse campo Mariana Vick, Nexo PP

 Artigo afirma que, apesar da abundante diversidade de espécies, Brasil investe pouco na produção de itens que derivam de substâncias naturais e têm alto valor agregado, como remédios. Pesquisadora do BIOTA/FAPESP comenta o cenário ao ‘Nexo Políticas Públicas’

FOTO: RONALDO ROSA/EMBRAPA
De costas, uma pessoa, usando jaleco branco, manuseia o pedaço de uma planta em um aparelho semelhante a um microscópio, debaixo de uma luz forte. Ela usa pinças de laboratório para manusear.
 CIENTISTA ANALISA TECIDO VEGETAL EM LABORATÓRIO DE BIOTECNOLOGIA

A biodiversidade brasileira é uma fonte rica de recursos químicos e biológicos que podem ser usados para criar produtos naturais sofisticados, mas, por não investir o suficiente em tecnologia, o país desenvolveu poucos itens a partir de substâncias encontradas na fauna e na flora.

Um artigo publicado na revista Anais da Academia Brasileira de Ciências analisa o cenário e aponta caminhos para o Brasil estimular o desenvolvimento de produtos naturais de alta tecnologia, ramo que pode contribuir para o crescimento econômico e estimular novos modelos de produção sustentável.

A publicação, escrita pelas pesquisadoras Vanderlan Bolzani e Marilia Valli, integrantes do BIOTA/FAPESP, um dos parceiros do Nexo Políticas Públicas, destaca o potencial da bioeconomia, segmento que se baseia no uso racional da biodiversidade para criar produtos nas áreas de alimentos, saúde e bioenergia, entre outras.

“As plantas são uma explosão dessas moléculas, dessas substâncias que a gente chama de produtos naturais. E nós os imitamos [na indústria]. Não existe um ser humano que produziu modelos moleculares tão fascinantes quanto a natureza”

Vanderlan Bolzani

professora da Unesp (Universidade Estadual Paulista), integrante do BIOTA/FAPESP e presidente da Academia de Ciências do Estado de São Paulo, em entrevista ao Nexo Políticas Públicas

A produção de novos itens acontece quando pesquisadores isolam determinadas substâncias da fauna e da flora e descobrem que elas podem ter novos usos (aliviar uma dor, por exemplo). A partir de então, eles replicam essas moléculas e podem usar a descoberta para novos produtos, como um novo remédio.

“A morfina é o exemplo mais emblemático de uma molécula fascinante produzida pela biodiversidade que aplicamos na medicina”, afirmou Vanderlan Bolzani ao Nexo Políticas Públicas. “Até hoje, apesar de todo o desenvolvimento de analgésicos, ainda usamos a substância ou derivados dela.”

A baixa quantidade de produtos nacionais desenvolvidos a partir de substâncias descobertas no país é incompatível com a pesquisa acadêmica a respeito do tema, segundo o artigo de Bolzani e Valli. Inúmeras substâncias foram isoladas da biodiversidade do país, mas o conhecimento acadêmico ainda não chega à indústria brasileira.

Entre os produtos descobertos no Brasil está a bradicinina, substância do veneno da Jararaca-da-mata. Por inibir agentes que elevam a pressão arterial, ela deu origem a uma classe de remédios que tratam hipertensão, como o Capoten. Outro produto é o óleo essencial da erva-baleeira, base do anti-inflamatório Acheflan.

O que é bioeconomia

A bioeconomia é o conjunto de atividades que visam à produção e à distribuição de bioprodutos, ou seja, produtos que têm origem nos recursos biológicos, como biofármacos, insumos para a bioenergia, alimentos funcionais, produtos biodegradáveis e outros itens derivados de matéria natural.

O segmento se distingue de outros setores que usam os recursos naturais por dois motivos: pelo uso da biotecnologia (entre outros conhecimentos científicos de ponta) e pelo objetivo de construir um modelo de produção sustentável a longo prazo, baseado no uso de recursos renováveis e limpos.

2 trilhões

de euros é quanto a bioeconomia movimenta no mercado mundial, segundo dados da OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico)

Um exemplo de iniciativa que pode ser classificada dentro da bioeconomia é o Proálcool (Programa Nacional do Álcool), que surgiu no Brasil nos anos 1970, durante a crise mundial do petróleo. Com o programa, o país passou a produzir etanol para gerar energia a partir da cana-de-açúcar.

FOTO: ADILSON WERNECK/EMBRAPA
Vasos, dentro de ambiente fechado e iluminado, contêm plantas da soja.
 SOJA PLANTADA EM CASA DE CONTENÇÃO PARA PRODUÇÃO DA PROTEÍNA CIANOVIRINA, UM FÁRMACO

A bioeconomia faz parte das estratégias de mais de 40 países para o futuro, segundo o artigo de Bolzani. Por usar produtos naturais no lugar de recursos não renováveis, o setor tem potencial de fazer frente à mudança do clima e a outros desafios relacionados ao ambiente, à economia, à transição energética, à segurança alimentar e à saúde.

Ao Nexo Políticas Públicas, Bolzani disse que a definição de bioeconomia (como produção baseada na natureza) pode ser vaga, e que sua pesquisa tem como foco produtos que “vão além das monoculturas” como soja e açúcar. Entre eles estão medicamentos, produtos de higiene e fragrâncias criadas a partir de ativos identificados na natureza.

“[Apostar na bioeconomia] seria muito interessante para o país”, afirmou a pesquisadora. Ela diz, contudo, que o setor exige investimento. “[Investir] não é uma tarefa simples. É custosa, dispendiosa e, muitas vezes, frustrante, porque as pessoas querem resultados muito rápido.”

Qual o potencial do Brasil

biodiversidade do Brasil é a maior do mundo. A variedade de espécies que se encontram no país inclui cerca de 103 mil animais e 43 mil tipos de vegetais, distribuídos em seis biomas terrestres e três ecossistemas marinhos, segundo o Ministério do Meio Ambiente.

A quantidade de formas de vida originárias do país abriga plantas de importância econômica mundial, mas também uma diversidade química e biológica que, de acordo com o artigo de Vanderlan Bolzani, traz oportunidades para a inovação baseada em produtos naturais.

20%

do número total de espécies no mundo podem ser encontradas no Brasil, segundo informações do Ministério do Meio Ambiente

A fraca atuação do Brasil nesse campo se explica por opções que fez no passado. O país apoiou o desenvolvimento econômico na exportação de commodities (produtos básicos, como soja e açúcar) e não investiu em tecnologia para transformá-las em produtos de valor agregado, disse Bolzani ao Nexo Políticas Públicas.

A soja, por exemplo, é uma commodity. A isoflavona de soja (substância extraída do grão e usada para aliviar sintomas da menopausa) tem valor agregado e é um produto que demanda maior tecnologia para ser produzido, assim como outros do ramo da bioeconomia.

“Acho que, nos últimos 15 ou 20 anos, o país fez uma opção suicida de deixar de investir em alta tecnologia e começar a importar tudo, porque na época era conveniente, barato”, afirmou Bolzani. “Muitos setores nacionais deixaram de produzir. Mas hoje já não é tão fácil importar, por agora temos a alta do dólar.”

FOTO: AGÊNCIA BRASIL
Homem sem camisa está sozinho num pequeno barco, remando num grande rio. Atrás aparece a vegetação verde.
 HOMEM REMA EM BALSA NA AMAZÔNIA

Além da falta de tecnologia, Bolzani criticou o desmatamento em biomas como a Amazônia. Segundo a pesquisadora, ele traz prejuízos para o conhecimento da biodiversidade. “Não são todos os lugares que têm florestas como a nossa. Quando você perde essa informação biológica [com o desmate], ela não tem volta.”

O artigo que Bolzani escreveu com Marilia Valli defende que o Brasil invista em educação, ciência e infraestrutura para mudar esse cenário. As pesquisadoras afirmaram que o país tem condições de se tornar o líder em uma transição para uma economia sustentável, baseada no uso racional de produtos naturais fabricados com alta tecnologia.

Para tentar resolver um problema que pode ser de acesso à informação, o artigo apresenta o NuBBE, banco de dados de produtos naturais da biodiversidade brasileira. A base disponibiliza 2.223 estruturas de produtos naturais on-line e fornece informações sobre as substâncias. A criação é de Marilia Valli com orientação de Bolzani.


Cotidiano Digital, Meio

 Com mais de 2 bilhões de usuários, o WhatsApp é um dos aplicativos de mensagens mais populares do mundo. Por aqui, é também o mais usado entre os brasileiros. Mas nos Estados Unidos, menos de 20% dos usuários de smartphones utilizam o app. Uma das razões é que o SMS ainda é uma das principais ferramentas para troca de mensagens entre os norte-americanos. Outro fator é que, como 50% dos consumidores de telefonia móvel do país têm iPhone, o aplicativo iMessage, sistema da Apple, é o aplicativo mais usado. Por isso, a Meta iniciou uma campanha massiva de marketing para conquistar os EUA pela privacidade. Além de propagandas televisivas, anúncios divulgando a criptografia do WhatsApp em breve começarão a aparecer em outdoors em todo o país e online. O objetivo é fazer com que mais pessoas mudem para o WhatsApp, destacando a segurança do aplicativo em relação a outros métodos de mensagens de texto. (The Verge)

‘Munique’ tenta revisão histórica de Chamberlain, OESP

 Luiz Zanin Oricchio

30 de janeiro de 2022 | 13h13

Munique no Limite da Guerra, de Christian Schwochow, disponível na Netflix, é um competente thriller histórico-político baseado em fatos reais. O enredo é tirado do livro do britânico Robert Harris, o mesmo de O Oficial e o Espião, origem do extraordinário filme de Roman Polanski sobre o caso Dreyfus. 

São romances sobre encruzilhadas históricas. Num caso, o affaire Dreyfus, falsa acusação de espionagem motivada pelo antissemismo, e que dividiu a França. No segundo, um episódio crucial na tensa prévia da 2ª Guerra Mundial, quando a Europa, e a Inglaterra em particular, precisavam decidir se freavam os avanços de Hitler ou deixavam-no prosseguir em sua sede expansionista, torcendo para que ficasse satisfeito com o butim conquistado e deixando o resto do continente em paz. 

Protagonista dessa história, o então Primeiro-Ministro britânico, Neville Chamberlain (Jeremy Irons), tenta a todo custo manter a paz. Em setembro de 1938, reúne-se na cidade de Munique, com Hitler e Mussolini, e mais o primeiro-ministro francês Edouard Daladier, para assinar um tratado entre as nações. O acordo entregava a Hitler a região dos Sudetos, na Tchecoslováquia, primeiro alvo da política expansionista nazista. 

Na mesma ocasião, Chamberlain ainda assinaria, em separado, um documento de não-agressão com Hitler. Papelucho bilateral, sem valor algum que, no entanto, o Primeiro-Ministro acenaria em triunfo para a multidão que o esperava na volta a Londres. Ato que passaria para o anedotário histórico, pois a paz não duraria sequer um ano. As ambições de Hitler eram irrefreáveis e talvez tivesse sido melhor detê-lo o quanto antes, como insistia um político tido como chato e belicoso, um certo Winston Churchill. 

Chamberlain é o centro da trama, mas a armação sustenta-se em personagens ficcionais,  dois jovens amigos, que depois se desentendem e situam-se em campos opostos. Hugh Legat (George MacKay) e Paul von Hartman (Jannis Niewohner) são estudantes em Oxford, e ligados a uma mesma garota, Leda (Liv Lisa Fries, da ótima série alemã Berlin Babylon). O rompimento da amizade se dá quando o rapaz alemão adere ao nazismo em 1932, um ano antes de Hitler chegar ao poder. Um se torna secretário do governo britânico e outro membro do ministério de assuntos estrangeiros alemão. 

A reconstituição de época é bem boa, e o mérito do filme é sustentar a tensão por mais de 2 horas, sem jamais afrouxar. Alguns detalhes poderiam contribuir para a qualidade  da obra – por exemplo, teria sido útil encontrar um ator mais parecido com Hitler para interpretá-lo. 

O grande trunfo é o sempre elegante Jeremy Irons, que vive Chamberlain sem qualquer traço caricatural. O velho político é retratado de forma nobre, como alguém com autêntica convicção pacifista. Posição coerente do líder de um país esgotado pela Grande Guerra (1914-1918), de consequências ainda presentes na memória de todos. 

O debate sobre até onde pode ir o pacifismo diante de uma ameaça extrema é bastante complicado. A posição de Chamberlain pode ser compreendida à luz de uma Europa cansada de guerra e que parecia disposta a evitar um novo conflito a todo custo. Hitler entendeu esse temor e o usou em seu proveito. Enquanto os outros países ficavam paralisados, ele avançava. 

Desse modo, o filme não precisaria tentar de maneira tão ostensiva limpar a barra de Chamberlain. No final, um letreiro “explica” que o Acordo de Munique, se não foi respeitado, pelo menos adiou a guerra por um ano, o que permitiu a Londres preparar-se melhor para o conflito. Interpretação problemática, porque a Alemanha também usou esse mesmo tempo para ultimar os preparativos para a conquista da Europa. E o fez de maneira exemplar, como demonstra o princípio da guerra. 

De antemão, é muito difícil, senão impossível, saber qual a melhor atitude a tomar em momentos como este. Todas as alternativas têm seus prós e contras. Mas quando os fatos passaram, e se tornaram páginas da História, é forçoso concluir que Chamberlain estava errado e Churchill tinha razão. 

Na ocasião, Churchill disse a Chamberlain sobre o Acordo de Munique: “Entre a desonra e a guerra, escolheu a desonra…e terá a guerra”. Não deu outra. 

Suspensão do Carnaval leva catador de lata a pedir apoio financeiro a cervejaria, FSP

 SÃO PAULO

Catadores de material reciclável vão procurar os fabricantes de bebidas nesta semana para tentar negociar um apoio financeiro durante o Carnaval.


suspensão das festas pela segunda vez na pandemia vem em um momento pior neste ano, segundo Roberto Rocha, presidente da Ancat (associação nacional de catadores), porque muitos trabalhadores de Minas Gerais e da Bahia acabam de sofrer prejuízos graves nas enchentes.

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O novo avanço da Covid impulsionada pela variante ômicron também os atingiu. "Uma cooperativa me ligou nesta semana contando que quase todos os cooperados pegaram Covid ao mesmo tempo. Tiveram que parar e ficaram sem renda, sem trabalho. A situação está bem crítica", afirma Rocha.


A ideia, segundo Rocha, é pedir um suporte nos moldes do que a Ambev ofereceu no ano passado, quando a cervejaria doou R$ 100 para quase 3.000 profissionais. A data é importante porque eles costumam triplicar o faturamento com a coleta de latinhas de cerveja no Carnaval.

Matriz energética de países reduz o ‘efeito verde’ dos carros elétricos, OESP (Fundamental, quadro energético mundo)

 Cleide Silva, O Estado de S. Paulo

31 de janeiro de 2022 | 05h00

Pelo menos 16 milhões de carros elétricos já circulam pelo mundo, dos quais mais de 6 milhões foram vendidos em 2021. Na Conferência Global da ONU sobre o clima, a COP-26, veículos movidos a eletricidade foram escolhidos como um dos principais atores no processo de descarbonização, por não emitirem poluentes.

Parte deles, porém, não pode ser considerada totalmente “verde” porque, dependendo da matriz elétrica dos países onde rodam, a energia de suas baterias vem de fontes não renováveis, como carvão e gás natural, ou nuclear, que é limpa mas não renovável e encontra resistência em várias nações após o vazamento de radiação em Fukushima em 2011

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Renault se unem a parceiros para investir em carros elétricos Foto: Rodolfo Buhrer / Renault / Fotoarena

Mesmo em países com fontes renováveis, há questionamentos em relação às emissões geradas no processo de geração dessa energia e na produção dos automóveis elétricos. Por isso, o acordo da COP-26 envolveu, além de governos, a iniciativa privada nos compromissos de descarbonização nas próximas três décadas.

Em várias regiões do mundo, a eletrificação, num primeiro momento, virá de geração fóssil, mas a tendência é de inserção maior de fontes renováveis nos próximos anos e, dependendo da sinalização de cada matriz, faz sentido apostar nessa tecnologia, afirma Diogo Lisbona, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV Energia).

Estudo do grupo ambientalista Transport & Environment adotado pela União Europeia indica que carros elétricos superam modelos a diesel e a gasolina em todos os cenários, mesmo em países dependentes de energia fóssil, como a Polônia. Nesse exemplo, um modelo elétrico polui 30% menos que um a combustão, levando-se em conta o ciclo de vida do veículo.

“Não importa a matriz, o carro elétrico sempre supera o convencional pois mesmo que ela seja 100% suja, a emissão de CO2 equivalente no ciclo total ainda assim será 10% menor do que naquele a combustão”, diz Adalberto Maluf, presidente da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE). 

Hoje, 60% da energia produzida no mundo vêm de fontes não renováveis – carvão e gás natural, mas, na opinião de Lisbona, o movimento de eletrificação dos veículos vem junto com a ampliação das energias renováveis na matriz elétrica.

A China, por exemplo, tem mais de 60% de sua geração de energia vinda do carvão, mas tem feito investimentos bilionários em eólicas e hidrelétricas para reduzir essa dependência (veja quadro).

Tarifa

Para o professor da FGV, além da procedência da energia, os países precisam avaliar o período em que os veículos são carregados. Ele cita o caso da Califórnia, que investiu em parques solares, mas a maioria das pessoas carrega os veículos quando chega em casa, no fim do dia, período em que a produção solar diminui, mas a demanda aumenta.

À noite, explica ele, essa energia é recomposta por gás natural, outra fonte local. Ou seja, se o carro elétrico for carregado no momento de maior disponibilidade solar, durante o dia, provavelmente consumirá mais a energia renovável; se for à noite, o risco é de consumir mais a não renovável.

Lisbona defende que a geração distribuída tenha “tarifas inteligentes, mais granulares no tempo e no espaço, que reflitam o custo de se carregar o veículo no horário de ponta”. Além disso, quanto mais rápido é o carregamento, maior é a potência necessária. Significa que, para recargas ultrarrápidas, o custo também deveria refletir o maior impacto na rede de distribuição.

Por ter a maior parcela de sua energia gerada em fontes renováveis, principalmente a hidrelétrica, ele avalia que a eletrificação faria sentido no Brasil, mas o país enfrenta outros desafios, um deles o alto custo dos carros elétricos.

O professor também ressalta que o fato de ter o etanol leva ao questionamento se a rota do País seria de fato a eletrificação com veículos 100% elétricos ou se caminharia para modelos híbridos aproveitando o combustível da cana.

Mais eficiente

Flávia Spadafora, líder do setor automotivo da KPMG no Brasil, aponta a dificuldade da indústria brasileira em se pautar na matriz hidrelétrica que, em momentos de crise hídrica, fica fragilizada. Ela diz, contudo, que se o País atingir uma fatia de 20% a 30% de carros elétricos em sua frota até 2030, o impacto no consumo de energia seria de no máximo 1% ou 2% do que já é consumido hoje.

Para a especialista, o País teria condições de atender à demanda e poderia fazer novos investimentos, por exemplo, em geração eólica e solar. O argumento de que a energia no Brasil é cara também deve avaliar o peso da produtividade do carro elétrico. “O quilômetro rodado com carro elétrico vis a vis ao carro a combustão é bem mais eficiente.”

Eleição leva Portugal mais à esquerda e expõe crise da direita democrática, Mathias Alencastro, FSP

 

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Muitos portugueses foram votar neste domingo atravessados pela mesma pergunta que tira o sono de muitos brasileiros: como assegurar a aliança das forças democráticas contra a extrema direita?

A tão esperada ascensão do Chega seria suficiente para colocar o PSD, tradicional partido da centro-direita, face ao dilema que tem devorado a alma dos conservadores ao redor do mundo? Isto é: aliar-se à nova direita, xenófoba, negacionista e antirrepublicana, ou buscar a preservação do pacto democrático por meio de uma aliança com a centro-esquerda? A angústia dos conservadores era hoje visível no rosto de Rui Rio, o apático líder do PSD, que passou a campanha prometendo tudo e o seu contrário.

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Do outro lado, o socialista António Costa parecia não ter vontade nem condições de reeditar a geringonça, como é conhecida a aliança das esquerdas que governou Portugal aliando disciplina fiscal e inserção internacional entre 2015 e 2019.

Apesar do sucesso da empreitada, o Partido Comunista e o Bloco de Esquerda romperam com o Partido Socialista em 2019 e, no final do ano passado, ajudaram a derrubar o seu governo minoritário. Durante a campanha, Costa pareceu cansado e sem ideias, pressionado por novos líderes do seu partido e fragilizado pelo desmonte de um projeto de poder que ele havia desenhado de cabo a rabo.

Nesse contexto moroso, ninguém esperava a vitória triunfal dos socialistas deste domingo e o melhor resultado de Costa em três eleições. Mesmo se os socialistas não conquistassem a maioria absoluta na Assembleia da República, Costa só precisa, em principio, de acordos pontuais com aliados para seguir no comando de Portugal num momento decisivo da sua história: caberá ao próximo governo administrar a chamada "Bazuca", os volumosos fundos europeus destinados à retomada da economia.

O resultado em Portugal também reforça algumas impressões gerais sobre a dinâmica da política na era pós-pandemia. Primeiro, experiência da crise sanitária e a tomada de consciência da crise climática estão reaproximando os eleitores dos partidos comprometidos com o Estado social.

Segundo, o que todos se acostumaram a chamar de crise da democracia pode ser, na realidade, uma crise da direita. Com a confirmação do Chega como terceira força política, fica impossível para a direita democrática portuguesa competir eleitoralmente contra a centro-esquerda. Uma situação subjacente nos Estados Unidos no meio do Partido Republicano, escancarada na França, onde o racha das direitas é ainda mais profundo e, em certa medida, no Brasil, onde o surgimento de Sergio Moro e Jair Bolsonaro colocou a direita democrática em minoria dentro do campo conservador.

Por último, é impossível não destacar a atuação de Rui Tavares, candidato a deputado pelo Livre. Conhecido no Brasil pelo seu podcast "Agora, agora e mais agora", ele mostrou que a melhor forma de combater a baixaria verbal de candidatos mais acostumados às redes sociais do que aos debates eleitorais é a retidão republicana, as propostas inovadoras e o otimismo com o futuro. Uma inspiração para todos os progressistas brasileiros.