O chamado mercado, ao que consta, não gostou que Flávio Bolsonaro tenha sido indicado por seu pai para a disputa presidencial de 2026. Tampouco que a recente pesquisa Quaest tenha mostrado o ungido à frente do governador Tarcísio de Freitas, o preferido da finança e seus pares.
Faz sentido. O mercado gostava de Jair Bolsonaro e de seu fabuloso Paulo Guedes, o mitômano que faria —diziam as cartomantes— uma revolução liberal no Brasil.
Natural então que agora prefira-se o capitão do Bandeirantes, com a vantagem de ele governar o principal estado do país e respeitar certa institucionalidade. Não é tão despreparado e tosco quanto seu demiúrgo e não parece inclinado a aventuras antissistema.
Sabendo-se que o mercado rejeita qualquer coisa que cheire a Lula, social-democracia, distribuição de renda e programas sociais, Tarcísio parece, aos olhos dessa elite, uma boa promessa, um produto de direita que poderia ser vendido como "moderado". O desrespeito a direitos e a letalidade policial descontrolada não têm importância. A educação cívico-militar e os aspectos questionáveis do setor, também não. E do grande escândalo de corrupção na Fazenda estadual nem se fala mais.
O mercado na verdade está interessado em privatizações, desregulamentações e ausência de Estado para poder atuar com ampla liberdade. Tem muita gente, aliás, bastante interessada nessa agenda de afastamento do Estado para bem longe, especialmente quando representado pela Polícia Federal e pelo Judiciário.
Tarcísio já trocou juras com o mundo financeiro e apresenta-se como um defensor da ideia de que na esfera privada tudo funciona —em que pese a emergência de fraudes em série, como os casos das Americanas, do Master e do PCC lavando dinheiro na Faria Lima. Defende também o fim de medidas que ajudem a ajustar contas públicas por meio de cobrança de imposto e corte de benesses de ricos.
Parênteses: não deixa de ser curioso, diante dessa agenda liberal sem cabresto sempre repetida, que o mais espetacular caso de sucesso internacional na economia, na tecnologia e na redução da pobreza seja a República Popular da China, que segue um receituário antagônico ao laissez-faire. "Ah, mas aquilo lá é uma ditadura comunista" —eis o argumento simplório que sai logo da cartucheira, como se o êxito daquele país se devesse a isso. Fecha.
Voltando ao nosso trópico em transe, não é de se duvidar, com a incapacidade crônica da direita de construir e apresentar uma candidatura respeitável e viável ao Planalto, que todos acabem embarcando com Flávio Bolsonaro. Já que a aversão a Lula é visceral, as fichas deverão ir mesmo para "o bolsonarismo que toma vacina".
É verdade que a pesquisa Quaest apontou rejeição alta ao nome Bolsonaro, mas muita água vai rolar. Não se imagina, ao menos por ora, que Flávio possa sequer cogitar de se recolher.
Em todos os cenários, como se sabe, Lula é o favorito —e com méritos. Os desastres econômicos previstos não aconteceram, aprovou-se a Reforma Tributária, a renda subiu, a fome foi superada, o IR ficou mais justo, Trump fez elogios e a inflação voltou a se comportar. Nem tudo é uma maravilha, longe disso, mas o bastante para dar ao petista os melhores prognósticos para o ano eleitoral.

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