quarta-feira, 31 de julho de 2019

Títulos a juro negativo no mercado mundial batem em US$ 13,6 trilhões, Sonia Racy, OESP

Sonia Racy
31 de julho de 2019 | 00h50

FOTO YOUTUBE.COM
Oportunidade 
única?
O Itaú Asset Management fez circular ontem impactante gráfico mostrando a quantidade, em trilhões de dólares, de títulos espalhados pelo mundo que estão “pagando” juros… negativos.
No início de 2014, esses papéis simplesmente não existiam e hoje representam 25% dos títulos disponíveis globalmente – nada menos que “assustadores” US$ 13,65 trilhões.
Resultado: muito dinheiro em uma busca desesperada por… retorno.
Oportunidade 2
Nessa situação, investidores aceitam mais riscos. Compram ativos caros, entram mais em venture capital, preços de empresas de tecnologia estão subindo e põem mais dinheiro em países com maior risco político ou econômico. “A história do capitalismo viu isso várias vezes”, lembra investidor de peso, desconfiando da formação de nova bolha nos mercados.
Será? “O ser humano esquece depressa e sempre acha que não vai acontecer de novo”.
Oportunidade 3
O Brasil, com taxa de juros básica de 6,5% ao ano, ainda não está aproveitando essa onda supersônica de liquidez. O capital externo, ao que se apurou, está em compasso de espera olhando a aprovação das necessárias reformas.
Oportunidade 4
É consenso que os juros cairão no País no segundo semestre – o que, teoricamente, incentivaria a retomada do crescimento econômico. “Não vai acontecer. A ociosidade é grande nas empresas. Portanto, empregos novos somente a partir de 2020”, avisa conhecido banqueiro.
O País precisa mesmo é de… novos investimentos.
Tô nem aí?
Nem Bolsonaro nem a Câmara se deram ao trabalho de indicar o nome a que têm direito para ocupar as duas cadeiras vazias na Comissão Nacional dos Mortos e Desaparecidos.
Trata-se da mesma comissão que, no último dia 24, divulgou atestado de óbito de Fernando Santa Cruz informando que ele morreu de forma “violenta”, “causada pelo Estado brasileiro”, em 1974.
Admirável mundo
Tendo em vista a parceria entre Uol e Paypal, o Grupo Globo – para entrar na guerra das “maquininhas” – se juntou à fintech Stone.
No script
Entre as intenções da nova direção da TV Cultura, segundo se apurou, está a de implantar uma programação, no período da tarde, que permita montar um link de transferência de telespectadores entre os programas infantis e a grade adulta.
Induzindo seu público – de maneira mais gradual– a fazer essa migração de faixa.
Script 2
E como parte desse “choque de gestão” para tornar o canal menos dependente de recursos públicos já está contratado um diretor comercial: Carlos Henrique Nascimento, ex-Globo.
Aliás, toda a nova diretoria da Cultura vem de rádio e TV.

Morre Benedito Lima de Toledo, o arquiteto que melhor compreendeu e explicou SP, OESP

Edison Veiga, especial para o Estado
31 de julho de 2019 | 11h56


A 200 metros de sua casa, no bairro do Brooklin, o professor, historiador e arquiteto Benedito Lima de Toledo mantinha um escritório com vasto e impressionante acervo: 40 mil fotos, 25 mil slides e 6,5 mil livros - dentre eles, muitas raridades -, sobretudo sobre a cidade de São Paulo, sua grande paixão. 
Aos 85, morre Benedito Lima de Toledo, o arquiteto que melhor compreendeu e explicou São Paulo
Professor, historiador e arquiteto Benedito Lima de Toledo Foto: Tiago Queiroz/Estadão
Essa coleção foi resultado de suas peregrinações e pesquisas ao longo de mais de 50 anos de carreira. Toledo gastava, em iguais medidas, o giz e a sola dos sapatos. Muitas vezes, o professor trocava a sala de aula pelas pesquisas de campo - e, câmera em punho, fotografava como poucos. Oito anos atrás, em conversa com este repórter, revelou que - esperava que muito tempo depois - já havia definido o herdeiro para o material: a instituição onde ele se formou, em 1961, e na qual ele dedicou seu magistério, a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (USP). 
“O ideal de um professor é difundir o conhecimento. Quero que esse material fique disponível para os pesquisadores das gerações futuras, porque assim continuarei contribuindo para difundir o conhecimento”, afirmou Toledo. Na madrugada desta quarta-feira, 31, aos 85 anos, o historiador morreu, após período de internação no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. Seu sepultamento está marcado para as 16 horas, no cemitério Gethsemani. Ele deixa a mulher, a bibliotecária Suzana Aléssio de Toledo, de 78 anos. 
O casal se conheceu na Faculdade de Arquitetura. Sempre bem humorado, dono de um característico e elegante bigode aparado regularmente, Toledo costumava brincar que havia se apaixonado por Suzana porque não conseguia organizar seus livros sozinho. Fato é que se completavam no rigor, ambos acadêmicos, ambos dedicados a pesquisas.  
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Benedito Lima de Toledo, uma referência na história paulistana

Didatismo para compreender a cidade

Para acadêmicos e, sobretudo, para jornalistas que precisam compreender a evolução histórica e urbanística de São Paulo, Toledo - ou simplesmente, o “professor”, maneira mais comum de tratá-lo - foi paciente e cuidadoso entrevistado e, principalmente, uma profunda fonte de informações. Autor de 12 livros, entre os quais Anhangabahú, Álbum Iconográfico da Avenida Paulista e São Paulo: Três Cidades em um Século, o arquiteto foi quem melhor compreendeu e explicou as transformações paulistanas desde a chegada dos jesuítas ao Pátio do Colégio.
Tornou-se uma verdade unânime sua definição para a cidade, na qual ele explicava as camadas sobrepostas que tornam São Paulo tão única e interessante. “A cidade de São Paulo é um palimpsesto - um imenso pergaminho cuja escrita é raspada de tempos em tempos, para receber outra nova”, escreveu Toledo. Assim ele explicava como a capital paulista, ao crescer, se modifica de tal forma e a uma velocidade tão grande que, de uma geração a outra, os jovens não conhecem arquitetonicamente a cidade onde viveram seus antepassados, mesmo os mais recentes. “São Paulo é assim porque aqui não se constrói para os lados, mas sim em cima e tal”, dizia ele, simplificando aos leigos sua própria tese. 
Benedito Lima de Toledo foi bolsista na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, em 1968. Especializou-se em Restauro e Conservação de Monumentos Arquitetônicos na Universidade de São Paulo, em 1974, e na École Nationale des Ponts et Chaussées, em Paris, em 1983. Era doutor pela USP. Ocupava a cadeira 39 da Academia Paulista de Letras.
O Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil publicou texto lamentando a morte do arquiteto e lembrando passagens de sua vida. “Partiu de Benedito Lima de Toledo a ideia de realização de um concurso público para a revitalização do Vale do Anhangabaú, no centro de São Paulo, na década de 80”, registrou o órgão. “Na época, a Prefeitura apresentara projetos polêmicos para a remodelação da área e o arquiteto, em campanha que contou com a ajuda do jornalista Júlio Moreno, do Jornal da Tarde, acabou por dobrar a resistência para mudança de planos do prefeito Reinaldo de Barros e assessores. O concurso foi organizado pelo IAB/SP, saindo-se vencedora a proposta dos arquitetos e urbanistas Jorge Wilheim e Rosa Grena Kliass que transformou o vale em um bulevar de 43 mil metros quadrados,  com o tráfego de automóveis ficando abaixo e recriando a área verde entre os viadutos do Chá e Santa Ifigênia.”
O Departamento do Patrimônio Histórico de São Paulo também divulgou nota de pesar. “Professor aposentado de História da Arquitetura e do Urbanismo, foi premiado por diversos trabalhos e é referencia na área de preservação do patrimônio histórico e artístico”, escreveu o órgão, parte da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo.

A realidade paralela de Bolsonaro, Elio Gáspari, FSP

Bolsonaro pode ter sua realidade paralela, mas Fernando Santa Cruz não foi executado por grupo de esquerda

Se Jair Bolsonaro conversasse com os septuagenários veteranos da “tigrada” da ditadura, não teria chamado o general da reserva Luiz Rocha Paiva de “melancia” (verde por fora, vermelho por dentro). Ele foi um dos principais colaboradores na manutenção do site “Terrorismo Nunca Mais”. Talvez também não tivesse sugerido que Fernando Santa Cruz, desaparecido desde 1974, quando tinha 26 anos, foi executado por militantes de esquerda. Fernando era o pai do atual presidente da OAB, Felipe Santa Cruz, que tinha menos de dois anos quando ele desapareceu.
Presidente Jair Bolsonaro durante cerimônia no Palácio do Planalto - Andre Coelho/Folhapress
O caso de Fernando Santa Cruz exemplifica, como poucos outros, o assassinato de uma pessoa que tinha vida legal, família constituída e domicílio conhecido. Ele morreu no último mês do governo Médici. A política de extermínio das organizações armadas brasileiras que agiam nas cidades já tinha esfriado, pois elas haviam sido esmigalhadas. Em novembro, um comando do DOI de São Paulo matou Sonia Maria Lopes de Morais, da Ação Libertadora Nacional, e Antônio Carlos Bicalho Lana, que se escondiam no litoral paulista. Em dezembro, o Centro de Informações do Exército sequestrou em Buenos Aires e matou no Rio o ex-major Joaquim Pires Cerveira e João Batista Rita, que haviam militado na Vanguarda Popular Revolucionária. Depois disso, nada. (Do Natal de 1973 ao final de 1974, mataram cerca de 40 militantes do PC do B nas matas do Araguaia, inclusive os que se renderam. Ou, numa realidade paralela, foram todos resgatados por um disco voador albanês). Nesse período deu-se a decapitação da liderança do Partido Comunista, que não pegou em armas.
Fernando Santa Cruz havia sido preso no Recife em 1966, quando era menor de idade. Desde 1968 tinha vida legal. Trabalhou no Ministério do Interior e mudou-se para São Paulo, onde trabalhava no Departamento de Águas e Energia Elétrica. Durante o Carnaval de 1974, Fernando estava no Rio e marcou um encontro com o amigo Eduardo Collier, militante da Ação Popular Marxista-Leninista (APML). Temia ser preso e falou disso com a família.
Um policial de apelido “Marechal” disse que ele estava preso num quartel da guarnição de São Paulo. Daí em diante, nada. A mãe de Fernando, Elzita Santa Cruz, morta há pouco, foi uma leoa e bateu em todas as portas. Os senadores Franco Montoro e Amaral Peixoto perguntaram pelo paradeiro de Fernando da tribuna da Casa. Elzita escreveu ao comandante da guarnição do Rio e ao marechal Juarez Távora. O velho tenente de 1930 enviou a carta ao general Golbery, chefe do Gabinete Civil do presidente Ernesto Geisel, que assumira em março. Meses depois, ela interpelou o próprio Golbery. Na busca por Fernando, teve a ajuda do marechal Cordeiro de Farias, comandante da Artilharia da FEB (Força Expedicionária Brasileira) na Itália. Nada. O ministro da Justiça, Armando Falcão, informava que estava foragido, vivendo “na clandestinidade”. Mentira.
Nenhuma família de militante executado fingiu que ele desapareceu.
Bolsonaro pode ter sua realidade paralela, mas o general Rocha Paiva nunca foi “melancia”, nem Fernando Santa Cruz foi executado pela APML. Por falar nisso, Rubens Paiva não foi resgatado por comparsas. Quem diz isso são oficiais que estavam no quartel da Polícia do Exército no Rio em 1971.
Elio Gaspari
Jornalista, autor de cinco volumes sobre a história do regime militar, entre eles "A Ditadura Encurralada".