sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

Bradesco se desculpa com agro por vídeo que defende reduzir consumo de carne, FSP

 


CURITIBA

Um vídeo sobre consumo sustentável que circulou nas redes sociais na última semana levou o Bradesco a escrever uma carta aberta, se retratando com o agronegócio. No material, um aplicativo oferecido pelo banco —que permite que o cliente calcule sua pegada de carbono— é associado à redução do consumo de carne.

Ele começa com três influenciadoras dando dicas de como o consumidor pode tomar atitudes mais sustentáveis. "Duas atitudes simples que você pode tomar no seu dia a dia para reduzir o seu impacto", diz uma delas.

Elas, então, dizem que a primeira atitude que o consumidor poderia tomar é reduzir o consumo de carne, optando por pratos vegetarianos uma vez por semana —movimento que ficou conhecido como "Segunda sem Carne".

Em vídeo, influenciadoras sugerem reduzir consumo de carne - @JoseMedeirosMT no Twitter

"A criação de gado contribui para a emissão dos gases de efeito estufa, então, que tal se a gente reduzir o nosso consumo de carne e escolher um prato vegetariano na segunda-feira?"

O vídeo segue sugerindo que o consumidor também pode começar a usar composteira para o lixo doméstico e que o usuário calcule a quantidade emitida de carbono e use a informação para pensar em outras maneiras de compensar suas emissões.

O vídeo despertou críticas de entidades e políticos ligados ao agronegócio ao longo da última semana. Em nota, o Imac (Instituto Mato-Grossense da Carne) criticou o material, dizendo que a pecuária brasileira, no contexto mundial, é a menos impactante na produção de carbono.

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"No Brasil, a nossa pecuária é realizada de forma natural, utilizando-se da pastagem como o principal insumo alimentar (...) e os modelos de produção utilizam pastagens produtivas para a criação de bovinos contribuem positivamente para o balanço de carbono, sequestrando as emissões desse gás que a produção pecuária emite."

Segundo a entidade, não é aceitável associar a responsabilidade integral pela emissão de gases de efeito estufa com a pecuária e a sugestão de se reduzir o consumo de carne bovina no Brasil não faz sentido.

Já a ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal) avalia que a carta pública divulgada pelo Bradesco foi importante, ao reconhecer a importância do agronegócio para o país. "Entretanto, o setor espera manifestações mais explícitas deste apoio, com alcance, no mínimo, equivalente à divulgação que gerou esta situação revoltante a que produz alimentos."

A associação ressalta a importância que o setor tem em gerar segurança alimentar, empregos e segurança econômica para centenas de milhares de famílias.

Por meio de seu perfil no Twitter, o deputado federal José Medeiros (Pode-MT) também criticou a peça. "É isso mesmo @Bradesco? Vocês não pensaram em consultar Embrapa ou alguma instituição séria para saber se o pasto captura carbono na atmosfera e compensa os gases da pecuária?", questionou.

No último dia 24, o Bradesco publicou uma carta aberta ao agronegócio, em que procurou se desvincular do conteúdo. O banco determinou a remoção do material de suas redes, disse que apoia o setor de "forma plena" e afirmou que tomaria ações administrativas internas severas por conta do ocorrido.

"Nos últimos dias lamentavelmente vimos uma posição descabida de influenciadores digitais em relação ao consumo de carne bovina, associadas à nossa marca. Importante dizer que tal posição não representa a visão desta casa em relação ao consumo da carne bovina", diz a carta do banco.

Ainda de acordo com o banco, a instituição acredita e promove "direta e indiretamente a pecuária brasileira e por conseguinte o consumo de carne bovina". Ainda segundo o Bradesco, o material foi retirado do ar no último dia 23. Procurada pela reportagem, a assessoria de imprensa do Bradesco informou que seu posicionamento está detalhado na carta aberta ao agronegócio brasileiro. Veja abaixo. ​

A seguir, a íntegra da carta aberta divulgada pelo banco:

CARTA ABERTA AO AGRONEGÓCIO BRASILEIRO

Ao longo de seus quase 79 anos de história o Bradesco apoiou de forma plena o segmento do agronegócio brasileiro, estabelecendo parcerias sólidas e produtivas. Tal opção é baseada em sua crença indelével nesse segmento enquanto vetor de desenvolvimento social e econômico do país.

Contudo, nos últimos dias lamentavelmente vimos uma posição descabida de influenciadores digitais em relação ao consumo de carne bovina, associadas à nossa marca.

Importante dizer que tal posição não representa a visão desta casa em relação ao consumo da carne bovina.

Pelo contrário.

O Bradesco acredita e promove direta e indiretamente a pecuária brasileira e por conseguinte o consumo de carne bovina.

Diante do ocorrido, medidas foram imediatamente tomadas incluindo a remoção do conteúdo de ambiente público, e, além disso, ações administrativas internas severas.

Dessa forma, reiteramos nossa lamenta pelo ocorrido e reforçamos mais uma vez nossa crença irrestrita na pecuária brasileira.

quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

‘A Semana de 22 arrombou uma porta aberta’, diz Ruy Castro, OESP

 Ubiratan Brasil, O Estado de S. Paulo

30 de dezembro de 2021 | 05h00

Benjamim Costallat, Théo-Filho, Chrysanthème, Agrippino Grieco – para a grande maioria dos leitores de hoje, esses nomes pouco ou nada significam. Mas, no Rio de Janeiro dos anos 1920, eles formavam uma constelação de escritores, que traduziam com perfeição a ebulição e a modernidade vivida pela cidade. Uma geração que registrou desde fatos mundanos, como festas regadas a álcool e cocaína, até conflitos sociais e políticos. A partir da década de 1930, porém, iniciou-se um gradual e bem sucedido processo de esquecimento desses autores.

“Um dos motivos é que eles eram jornalistas e escritores profissionais, não playboys e diletantes, membros de uma ação entre amigos”, critica o autor e biógrafo Ruy Castro, que lança agora As Vozes da Metrópole (Companhia das Letras), em que lista 41 desses nomes que estão fora do catálogo. “Além disso, não tiveram seus nomes martelados diariamente desde os anos 1950 pela indústria acadêmica da USP.”

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Ruy Castro
Para Ruy Castro, estudos da USP desqualificaram a geração dos primeiros 20 anos do século passado  Foto: Wilton Junior/Estadão

Castro acredita que muitos desses autores banidos das prateleiras já praticavam uma literatura modernista antes mesmo da eclosão da Semana de Arte de 1922, mas, mesmo assim, foram tachados de “pré-modernistas”, o que também ajudou em seu processo de esquecimento. Sobre o assunto, ele respondeu por e-mail as seguintes perguntas. 

Quais motivos explicariam o esquecimento hoje da literatura desses autores?

Um dos motivos é que eles eram jornalistas e escritores profissionais, não playboys e diletantes, membros de uma ação entre amigos. Trabalhavam no mercado, e o mercado é dinâmico. Além disso, não tiveram seus nomes martelados diariamente desde os anos 1950 pela indústria acadêmica da USP. Mas o principal motivo foi a criminosa divisão da literatura brasileira, que desqualificou a geração dos primeiros 20 anos do século 20 como “pré-modernista” – como se ela só tivesse existido para fazer a preliminar do jogo principal, que seria a Semana de Arte Moderna. É uma piada, não? Alguns deles eram Euclides da Cunha, Edgar Roquette-Pinto, Lima Barreto, João do Rio, Augusto dos Anjos, Manuel Bandeira, Julia Lopes de Almeida, Gilka Machado, Carmen Dolores, Orestes Barbosa, Alvaro Moreyra, Agrippino Grieco, Elysio de Carvalho, Adelino Magalhães. Esse pessoal pode fazer a preliminar de alguém no Brasil? 

Qual a força do movimento modernista nesse esquecimento, uma vez que aqueles autores não se enquadram perfeitamente nas propostas da turma da Semana de 22?

Foi a força da propaganda e das frases feitas, uma delas a de que a Semana foi um rompimento. Mas rompimento com quê? O verso livre e sem rima já era praticado por Mario Pederneiras desde 1910 e depois por Manuel Bandeira. Os contos de Adelino Magalhães, todos em livro antes de 1920, já tinham fluxo da consciência, ações simultâneas e até palavrões. Orestes Barbosa já escrevia naquele estilo telegráfico, picotado, que depois seria copiado por Oswald de Andrade. A Academia já não era levada a sério no Rio desde a morte de Machado de Assis, em 1908. E os poetas parnasianos já estavam desprestigiados muito antes da morte de Olavo Bilac em 1918. Nas artes plásticas, em 1922, já existiam Vicente do Rego Monteiro e Ismael Nery. Em música, Villa-Lobos, Luciano Gallet, Pixinguinha, Sinhô, sem falar em Ernesto Nazareth. A Semana, portanto, arrombou uma porta aberta. Quando se diz que o Brasil de 1922 era um atraso, que precisava ser “atualizado”, e que Mario e Oswald de Andrade, Menotti del Picchia, Guilherme de Almeida, Sergio Milliet, Candido Motta Filho e outros vieram para nos salvar, leia-se: quem precisava ser atualizado eram eles, que até pouco antes eram parnasianos – e alguns continuaram sendo... 

Os autores relacionados no livro sofreram igual esquecimento? O caso de Chrysanthéme foi o mais acentuado?

Não, Chrysanthéme foi apenas uma. Exceto Euclydes, toda aquela geração foi cancelada pela USP. O próprio Lima Barreto, que Mario de Andrade chamava de “escritor de bairro”, só foi redescoberto nos anos 50. Gilka Machado está tendo o reconhecimento que merece? E João do Rio? A poesia modernista resume-se hoje nos poemas-piada do Oswald. Se não for poema-piada não é “moderno”. Mas Fernando Pessoa, T. S. Eliot, Paul Valéry, Federico Garcia Lorca e o próprio Pound, todos daquela época, nunca fizeram poema-piada. Será que não eram modernos?

João do Rio
O jornalista e escritor Paulo Barreto, mais conhecido como João do Rio Foto: Acervo da Biblioteca Nacional

É possível dizer que a literatura daqueles autores só foi possível existir na década de 20, quando o entusiasmo pela modernização alimentava a ideia da decadência dos costumes?

Os autores cariocas dos anos 20 não precisavam se deslumbrar com a modernização. Já estavam acostumados a ela. Em 1922, o Rio tinha prédios de 10 andares com elevador, 20 jornais diários, farta iluminação elétrica, sexo, drogas, praia, Carnaval. A cidade não dormia. Os modernistas, à luz dos lampiões a gás, é que viam tudo isso como novidade – e, para eles, era mesmo... Vide a revista Klaxon, de 1922. O título Klaxon, que significa buzina, refere-se ao culto do automóvel e da velocidade, não? Eles ainda se empolgavam com isso em 1922. O Rio tinha a Fon-Fon, também uma referência aos carros. Só que a Fon-Fon era de 1905 e era uma revista comercial, que disputava nas ruas com dezenas de outras – não era lida somente pelos que escreviam nela, como a Klaxon. E todo mundo pode achar a capa da Klaxon bonitinha, mas tente ler hoje os artigos dela, naquelas coleções fac-símile que vivem sendo reeditadas.

Finalmente, a Revolução de 30 foi a pá de cal nesse tipo de escrita, entre outras coisas?

Foi uma pá de cal, sim. Principalmente na escrita modernista. Quando Graciliano Ramos, Jorge Amado, José Lins do Rego, Rachel de Queiroz, Lúcio Cardoso, Marques Rebelo, Dyonelio Machado e Erico Verissimo apareceram a partir de 1930, tudo mudou por aqui. Aliás, assim como a Semana condenou os autores pré-22 ao “pré-modernismo”, a Revolução de 30 instituiu um “pós-modernismo” que despachou a Semana de forma fulminante para o passado. E com razão, porque Oswald, Menotti, Guilherme, Candido Motta Filho e os outros eram produtos típicos da República Velha. Eram cama e mesa com Washington Luiz, Julio Prestes e a elite quatrocentona, à qual vários deles pertenciam. Representavam tudo que a Revolução de 30 veio derrubar. Enfim, o Modernismo só tinha sentido na República do Café com Leite e, quando esta acabou, os poemas-piada, pau-brasis e antropofagias foram enterrados junto. Até, claro, serem ressuscitados e entronizados pela USP. 

As Vozes da Metrópole

Autor: Ruy Castro

Editora: Companhia das Letras (464 págs.; R$ 79,90; R$ 39,90 o e-book)

Rosewood São Paulo quer mostrar a exuberância do Brasil com toque francês, FSP

 


BRASÍLIA e SÃO PAULO

"É de uso comum, no Brasil, luxo significar produtos de importação. Os artesãos locais que encontramos não conheciam muitos mármores brasileiros. Então fizemos muitas viagens ao sul do país para encontrar esses produtos. Esse país tem recursos naturais incríveis".

O depoimento de Sebastien Le Pezennec dá o tom da proposta do do hotel Rosewood São Paulo —mostrar o Brasil para os brasileiros (e estrangeiros), em todo o seu esplendor.

Ele é executivo da EDM Brasil, marmoraria francesa de alto padrão que trabalhou no projeto do hotel, parte do complexo de luxo Cidade Matarazzo, desenvolvido pelo francês Alexandre Allard na capital paulista.

O estabelecimento recém-inaugurado pertence a Allard —dono de 51%— e à Rosewood Hotels & Resorts, cadeia internacional de hotéis e resorts de luxo que opera 28 propriedades em 15 países.

Quarto de hotel com revestimento amadeirado nas paredes, com uma cama de casal com lençóis claros, com um violão aos pés da cama.
Quarto Delux, do hotel Rosewood São Paulo, na Cidade Matarazzo. No local, funcionava antiga maternidade Condessa Filomena Matarazzo, inaugurada em 1943. - Eduardo Knapp/Folhapress

A ideia é aliar o conceito de "sense of place" ("espírito do lugar", numa tradução livre) que permeia alguns dos principais hotéis da rede, como o Carlyle em Nova York, o Crillon em Paris ou o Las Ventanas no México, à "utopia" de Allard, como ele mesmo já definiu a sua epopeia desde que comprou, em 2008, por R$ 117 milhões, o antigo complexo hospitalar Umberto Primo, na Bela Vista, na região central.

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Allard reformou a antiga maternidade Condessa Filomena Matarazzo, criada em 1943 como parte do complexo hospitalar, onde cerca de meio milhão de paulistanos nasceram, para transformá-la em um dos espaços do Rosewood São Paulo.

No lugar das salas de parto, suítes cujas diárias começam em R$ 2.800 e chegam perto de R$ 7.000, adornadas por uma coleção com mais de 450 obras de 57 artistas brasileiros contemporâneos.

A utopia de que fala Allard é provar que é possível construir algo novo respeitando a história do lugar e, de quebra, valorizar a natureza, realçando os remanescentes de mata atlântica no terreno.

"Para atingir o ‘sense of place’, era preciso a renovação do patrimônio cultural e histórico do lugar, especialmente da maternidade, um símbolo da vida", disse à Folha o diretor geral do Rosewood São Paulo, Edouard Grosmangin.

O desafio, afirma Grosmangin, era trazer inovação e modernidade ao projeto, com a torre desenhada pelo arquiteto Jean Nouvel, vencedor do Pritzker, prêmio conhecido como o Nobel da arquitetura.

O projeto de Nouvel —que se soma ao espaço da antiga maternidade, inaugurado no último dia 15— tem um jardim vertical com espécies da mata atlântica.

"Era muito importante para a rede trazer mais verde e natureza para a cidade", diz Grosmangin sobre a torre, que será inaugurada no final do segundo semestre.

Somando os dois espaços, o Rosewood São Paulo terá 160 quartos e 100 suítes. A direção artística do hotel, o primeiro da rede na América do Sul, tem a assinatura do também francês Philippe Starck, um dos designers mais reconhecidos do planeta.

O hotel tem ainda duas piscinas, cinema, estúdio de música, espaços para eventos, o spa Asaya, e seis restaurantes.

Grosmangin estima que o Rosewood tenha consumido cerca de 80% do investimento feito no complexo Cidade Matarazzo, que no total representa perto de R$ 3 bilhões.

O projeto incluiu o restauro da capela Santa Luzia. A ideia é que a igreja quase centenária, reconsagrada em novembro, sirva de palco a casamentos memoráveis, com respectiva festas organizadas nos espaços de eventos ou restaurantes do Cidade Matarazzo.

Nos ambientes projetados por Starck para o hotel, chamam atenção de imediato as madeiras e pedras brasileiras —um tipo diferente para cada quarto e cada banheiro.

Todo o trabalho foi feito com matérias-primas e mão de obra local. Nos quartos, jatobá, nogueira, itaúba e sucupira estão entre as madeiras certificadas que revestem as paredes. Nos banheiros, ônix, quartzito palomino, amazonita vindos de jazidas também certificadas conformam pisos, banheiras e cubas.

Mas a ideia de luxo que se quer transmitir vai além da nobreza dos materiais.

Talvez, aliás, a diferença entre um hotel cinco estrelas e um Rosewood, que se classifica como seis estrelas, esteja no tratamento dado à matéria-prima. É, mais ou menos, como a diferença entre o "plus" e o "surplus".

No Rosewood São Paulo, esse tratamento veio do grupo Ateliers de France, rede de restauro que inclui a EDM e que tinha a qualificação requerida para executar o que Starck queria.

No caso, não banheiras revestidas de placas de mármore, mas esculpidas em blocos inteiros da pedra, com maquinário especial importado para este fim; não lambris ripados, mas lâminas lustrosas que permitem ver os veios de cada tipo de madeira.

Banheiro da suíte Matarazzo, revestido com mármore brasileiro: diárias partem de R$ 2,8 mil e podem chegar a quase R$ 7 mil - Eduardo Knapp/ Folhapress

O conceito de "cor local" se expande para as obras de arte encomendadas. Os hóspedes são recepcionados por espessos tapetes de Regina Silveira, conhecida por suas figuras de efeito "op". Em cada andar, um artista diferente se encarregou dos corredores.

Mobiliário de design brasileiro, assinado por nomes como Sergio Rodrigues (1927-2014), o criador da poltrona Mole, completa os ambientes.

Em mesas de cabeceira e de centro, livros que procuram proporcionar ao visitante essa imersão no que seria o espírito nacional —em um dos quartos, por exemplo, havia uma antologia de poemas brasileiros selecionados pela escritora americana Elizabeth Bishop (1911-1979), que viveu no país por 15 anos.

Sob tantas camadas de informação, texturas e cores, mal dá para lembrar que o edifício que em parte abriga o hotel foi uma maternidade. O único rastro mais evidente desse passado é o letreiro na fachada que dá para o Jardim das Oliveiras, atrás da capela.

RESTAURANTES EVOCAM PASSADO DE FAUSTO INDUSTRIAL

Por sua localização, o Rosewood São Paulo se vincula ao rico passado industrial da cidade. O fato de que a inauguração do hotel se dê às vésperas do centenário da Semana de Arte Moderna, materialização cultural desse fausto, não passa em branco.

De seus seis espaços gastronômicos, dois remetem diretamente àquele momento.

Um deles é o Taraz, nome evocativo do sobrenome do conde Francesco, ou Francisco Matarazzo (1854-1937), industrial e banqueiro que foi o principal contribuinte da sociedade italiana responsável por manter o complexo hospitalar onde hoje funciona o empreendimento.

salão de restaurante com piano ao centro, teto azul escuro adornado com detalhes dourados; parede com garrafas ao fundo
Detalhe do bar Rabo Di Galo, um dos seis restaurantes do complexo gastronômico do Hotel Rosewood São Paulo - Eduardo Knapp/ Folhapress

O outro é o Blaise, batizado em homenagem ao poeta franco-suíço Blaise Cendrars, figura ligada ao grupo modernista de Tarsila do Amaral e Oswald de Andrade.

O Blaise, o Rabo di Galo —um bar para pocket shows— e o Le Jardin já estão funcionando. O Emerald Garden Pool & Bar, o Belavista Rooftop Pool & Bar e o Taraz só abrem as portas no ano que vem.

"Temos seis restaurantes e as pessoas acham muito, porque um grande hotel tem um ou dois", afirma Edouard Grosmangin. "Mas são espaços pequenos, cada um com a sua identidade."

O Blaise é uma mistura de cozinha francesa e suíça e funciona no prédio da antiga maternidade. Em espaço íntimo, o restaurante exibe azulejos desenhados à mão e trabalhos originais em madeira.

Contíguo a ele, o Le Jardin, de culinária moderna, vai do lobby aos jardins do hotel.

"Nós acreditamos que temos que ensinar as pessoas em São Paulo a frequentar restaurantes de hotéis", diz Grosmangin. "Não são restaurantes para ir uma ou duas vezes ao ano, para uma refeição cara, mas no dia a dia."

O executivo acredita que o Cidade Matarazzo vai ajudar o viajante estrangeiro —e mesmo o brasileiro— a ver a cidade com outros olhos.

"São Paulo é muito mais do que uma cidade de negócios, é um centro efervescente de arte". Para os franceses, é a hora de redescobrir a terra da garoa.