Deu na Folha que aliados de Jorge Messias pretendem abarrotar o Senado de pastores para pressionar os parlamentares a aprovarem seu nome para o STF.
Messias é evangélico e seus apoiadores imaginam que a assembleia de clérigos poderá amainar a resistência de senadores a seu nome, que é muito mais política do que religiosa, curricular ou pessoal.
Misturar religião com política é uma combinação complicada. O ideal, na democracia, seria separar inteiramente as duas esferas. Mas é impossível fazer isso pela simples razão de que ambas as atividades são exercidas por humanos. E todo humano tem uma identidade religiosa. Mesmo eu, ateu irredutível e desprovido de qualquer traço identificável de espiritualidade, ocupo um lugar no espectro da religiosidade, que vai da descrença absoluta à devoção compulsiva.
A relação entre fé e política no contexto da democracia é bastante assimétrica. Os direitos fundamentais fazem bem às religiões, desde que estas renunciem a eventuais pretensões hegemônicas. É só quando a liberdade de culto está assegurada que crenças minoritárias podem existir e prosperar.
Já a inversa não é verdadeira. A lógica religiosa não faz muito bem à política. A ideia básica por trás da política é pacificar conflitos por meio de negociações e concessões recíprocas.
Religiões, porém, costumam operar com absolutos morais. Se foi Deus que definiu desde o começo dos tempos o que é certo e o que é errado e não cabe a nenhum mortal questionar a autoridade divina, não sobra muito espaço para negociação.
A situação só não é impossível porque são poucos os fiéis que conduzem suas ações com total zelo religioso. Quando o fazem, se convertem nos Torquemadas que tanto sofrimento infligiram à humanidade. Paradoxalmente, para a religião funcionar para o bem, precisa ser abraçada sem convicção absoluta.
O Congresso tomado por pastores não é uma imagem que me tranquilize muito.

Nenhum comentário:
Postar um comentário