O que fizeram com a esquerda? Terá ela sido abduzida por alienígenas?
Antes que os autoproclamados progressistas comecem a me xingar, reitero que votei em Lula no último pleito. Contra a anti-institucionalidade de Bolsonaro, repetiria esse voto mil vezes. Mas, convenhamos, não ser golpista é obrigação, não virtude a celebrar.
Quando analisamos as pautas concretas e como cada grupamento político se comporta diante delas, o quadro que emerge é bem desolador. O projeto de lei que reduz drasticamente a saída temporária de presos foi aprovado no Senado com apoio maciço da bancada de esquerda. Só 2 dos 81 senadores foram contra.
Algo parecido vai ocorrer agora na votação da PEC que amplia a imunidade tributária de igrejas, já que a proposta tem o apoio do governo Lula —embora vá na contramão do princípio da solidariedade tributária que a esquerda sempre defendeu.
E essa lista pode ser ampliada. A política de apaziguamento dos militares vem sendo conduzida com esmero pelo presidente petista, apesar da participação de generais e oficiais superiores na trama golpista. Outras pautas históricas da esquerda, como a legalização do aborto e a descriminalização das drogas, foram completamente esquecidas. Se há uma chance de avançarem, é por ação do STF, não dos políticos.
Não ignoro que a esquerda seja minoritária no Congresso e que fazer política implica saber ceder. Mas será que não dá para pelo menos sinalizar que as ideias mais universalistas e mais generosas da esquerda liberal e iluminista não morreram? Onde ainda observamos algum ativismo esquerdista é em pautas corporativistas —volta da contribuição sindical— ou economicamente erradas —estaleiros.
É triste dizê-lo, mas o que mais marca Lula hoje como um governante "de esquerda" é que ele ganha elogios do Hamas. Não é por ser judeu, mas não penso que receber o selo de aprovação de uma organização terrorista conte como ponto positivo.