A cidade de milhões não comporta uma retrospectiva só. Escolhi falar das ações que afetam os espaços públicos —os lugares onde nos encontramos e como nos movemos. Elas mostram que estamos estagnados, como em compasso de espera por melhorias, nesse primeiro ano de gestão municipal.
Na mobilidade, um grande retrocesso: pela primeira vez em 15 anos, constatamos que há mais gente se deslocando em motos e automóveis do que em transporte coletivo.
Ao contrário de grandes cidades pelo mundo, São Paulo está estimulando o uso do transporte individual: asfaltamos ruas, mas ignoramos as calçadas; construiremos o túnel da Sena Madureira, mas não fazemos corredores de ônibus; sofreremos com a nova Raposo em vez de acelerar a linha de metrô que vai até Cotia.
O número de passageiros nos ônibus diminuiu, gerando um possível círculo vicioso: menos passageiros –menor qualidade– menos passageiros –diminuição da frequência e pontualidade– pressão para aumento do preço da passagem. Isso mesmo com o prefeito Ricardo Nunes tendo implantado a tarifa zero aos domingos há dois anos. No ano que vem, o governo federal estuda lançar uma política de financiamento à tarifa zero para o país todo.
O aumento do transporte individual aumenta a emissão média de CO2, gera congestionamentos e causa insegurança: devemos fechar 2025 com cerca de mil mortes no trânsito, principalmente de motociclistas e pedestres, patamar que reflete a falta de investimento em educação, redesenho viário e fiscalização.
No ano que vem, isso talvez piore ainda mais com o serviço de mototáxi. A regulamentação, aprovada na Câmara, parece ter sido feita para coibir o novo modal, sem organizar o seu papel no acesso a favelas e periferias, subordinado à rede de transporte público.
ESPAÇOS PÚBLICOS E RESILIÊNCIA CLIMÁTICA
No centro da cidade, muita coisa foi discutida em 2025: a lei do Retrofit, o VLT, o projeto urbano no parque Dom Pedro II. O governo estadual planeja o novo centro administrativo nos Campos Elíseos. Todas essas iniciativas podem realmente gerar transformação no centro, desde que sejam coordenadas e que incluam o Minhocão –e não custava nada caprichar mais no projeto dos novos calçadões.
As áreas verdes mostram nossa contradição. Grande parte do município está na zona rural e tem verde abundante. Na região urbanizada, porém, vemos uma míriade de ideias que poderiam ajudar, como jardins de chuva e parques lineares, mas sem coordenação e sem metas. Enquanto isso, construtoras destroem grandes áreas arborizadas e replantam mudas que vão demorar 20 anos para chegar ao tamanho das árvores cortadas.
O colapso após um dia de ventos comprova a falta de resiliência urbana. Como tudo pode piorar, os reservatórios de água estão quase tão baixos quanto durante a crise hídrica de 2013. Torceremos para que a chuva encha os reservatórios mas que não inunde as ruas.
REDUÇÃO DE DESIGUALDADES
Pela primeira vez na história, a população parou de crescer. Seria o momento ideal para aproveitar o caixa e investir em redução de desigualdades de quem mora aqui.
Em 2025, descobriu-se que apartamentos construídos para serem HIS foram comercializados como estúdio para a classe média e investidores. Em 2026, espera-se que pelo menos os culpados sejam punidos, mas a janela temporal e espacial vai diminuindo a cada ano.
Fora das áreas centrais, pelo menos, há sinais de melhorias. Os bons projetos de reurbanização de favelas estão gerando mudanças importantes em áreas carentes e os novos parques lineares podem ser o ponto de partida para novas mudanças urbanísticas nas periferias.
Pensando num símbolo de mudança, lembrei do novo teatro em Heliópolis, construído pela fundação Baccarelli. Não é uma iniciativa pública, mas, assim como os públicos CEU´s, são equipamentos que dão esperança nos espaços coletivos das regiões periféricas da cidade.

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