sexta-feira, 26 de abril de 2024

Falta de prensado, maconha mais barata, preocupa usuários em São Paulo, FSP

 

SÃO PAULO

Falta maconha em São Paulo. Mais especificamente, a modalidade conhecida como prensado –produto processado, geralmente misturado a outras substâncias, fazendo dele mais barato. Por isso, é também o tipo mais consumido da droga.

A situação vem sendo relatada há duas semanas por usuários e traficantes. Um delegado confirmou a situação à Folha.

Os motivos da escassez seriam grandes apreensões, a entressafra da planta e um suposto problema de distribuição gerado por um racha na facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital).

Homem acende baseado durante Marcha da Maconha, em 2023 - Ronny Santos - 24.mar.2023/Folhapress

A venda e o porte de maconha são proibidos pela lei brasileira, incluindo para consumo próprio.

Aos usuários, o artigo 28 da Lei de Drogas prevê advertência sobre os efeitos dos entorpecentes, prestação de serviços à comunidade e medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo. Já quem trafica a droga pode pegar de 5 a 15 anos de prisão, além de pagar multa de R$ 500 a R$ 1.500.

Após queimar seu estoque de prensado na última sexta-feira (19), a estudante Clara, 24 —que, como os demais ouvidos pela reportagem, pediu para ter seu sobrenome omitido—, enviou mensagem a um traficante. Ele respondeu que recebera pouca maconha, por isso, os preços haviam subido.

Normalmente, o grama da erva é vendido a R$ 10. Estava a R$ 19. O homem também limitou a quantidade por comprador.

Clara, moradora de Perdizes, na zona oeste da capital, optou pelo skunk, variedade mais cara e potente da Cannabis, e tem até experimentado novos entorpecentes, como cogumelos e LSD (ambas drogas psicodélicas).

O traficante da jovem, Gean, 33, diz que o prensado é hoje um artigo de luxo devido à dificuldade em encontrá-lo. Ele explica que o produto tem origem no Paraguai e chega a São Paulo em carros e caminhões —modalidade bastante suscetível a apreensões.

Há ainda outras questões que afetam a disponibilidade da droga na cidade. Neste mês, a maconha está em seu período entressafra, e qualquer interceptação de carga pode prejudicar o fornecimento, afirma ele.

Com clientela nas regiões oeste e central, ele cita como exemplo uma ação da Força Integrada de Combate ao Crime Organizado em São Paulo, há uma semana, terminada com mais de 300 quilos da droga aprendidos num carro na rodovia Comandante João Ribeiro de Barros (SP-225), em Bauru, interior do estado.

"Essa viagem da maconha do Paraguai até São Paulo é tosca. Ela é feito geralmente por mulas, motoristas de caminho, caminhoneiros ou motoristas de carro", afirma o jornalista Allan de Abreu, autor de "Cocaína: A Rota Caipira" (editora Record), sobre a história do narcotráfico no Brasil.

"Ocorre dessa forma porque a mercadoria é mais barata. Se o transportador for pego, é possível que ela seja reposta com uma certa facilidade", afirma. "Já a cocaína, mais cara, vem de avião."

O delegado de uma unidade especializada em investigação de entorpecentes na capital confirmou o atraso na distribuição de prensado para pontos de tráfico.

Para ele, isso pode estar associado à entressafra, como citado por Gean, mas há outra suposição: um recente racha entre lideranças do PCC, responsável pelo tráfico na cidade, pode estar afetando o segmento.

Como mostrou a Folha, um grupo liderado por Roberto Soriano, o Tiriça, passou a disputar o controle da facção com a ala de Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, chefe máximo do grupo.

Tiriça é apontado como o responsável por gerenciar o tráfico de maconha dentro do PCC. Por isso, a distribuição da droga teria sido afetada pela disputa.

Já outro delegado que também se dedica a essas investigações vê a entressafra e o aumento das ações de apreensão como mais determinantes para uma possível falta da droga no mercado. Na avaliação dele, o negócio da facção é predominantemente o tráfico de drogas, mas o tráfico é maior do que a facção.

Enquanto isso, Jonathan, 29, em seu apartamento no Campo Limpo, zona sul, realiza encontros quase diários com amigos para uma espécie de feira de troca. Quem chegar com 10 gramas de prensado pode exigir o triplo de qualquer outra droga.

A escassez do produto, diz o gerente de vendas, motivou a iniciativa.

Usuário de maconha há anos, Jonathan só fuma o prensado, porque acha outros tipos muito fortes.

Quando alertado sobre a baixa disponibilidade da variedade, juntou amigos na mesma situação e firmou uma aliança. Quem conseguir a erva, compartilha. Em troca, recebe outras drogas.

Também foram ouvidos relatos da ausência da maconha barata em pontos de drogas nas regiões do Sacomã e do Jabaquara, ambas na zona sul.

Tarcísio anuncia R$ 2,4 bi em nova contratação privada para requalificação do centro de SP, FSP

 

SÃO PAULO

O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) apresenta nesta sexta-feira (26) um pacote bilionário para habitação, reforma e restauro de imóveis, além da requalificação de espaços públicos degradados na região central da cidade de São Paulo.

O projeto é tratado como complementar a outra iniciativa estadual para a revitalização do centro paulistano, que é a transferência da estrutura administrativa do estado para o bairro Campos Elíseos.

A nova intervenção prevê R$ 2,4 bilhões de investimentos por meio de uma PPP (Parceria Público Privada), sendo R$ 1,9 bilhão aplicados pelo setor privado e R$ 500 milhões pelo governo. Isso significa que os empreendedores contratados devem inicialmente custear a maior parte das obras e, posteriormente, serão pagos pelo estado, com juros, ao longo de 15 anos.

Imagem aérea da região central de São Paulo mostra diversos prédios e um, mais alto, em destaque
Imagem aérea da região central de São Paulo, com destaque para o edifício Altino Arantes; programa de requalificação do governo paulista prevê R$ 2,4 bilhões para o centro histórico da capital - Eduardo Knapp/Folhapress

Programado para ser entregue em etapas, o projeto tem previsão de conclusão em aproximadamente seis anos. A intenção da gestão Tarcísio é que a requalificação acompanhe o tempo de construção do novo centro administrativo, também tocado por uma PPP e que prevê investimento de R$ 3,9 bilhões. O concurso de arquitetura para a nova sede do governo foi lançado no final de março.

Carro-chefe da nova proposta, a oferta de residências responde por pelo menos 53% da área construída do projeto –dos 719 mil metros quadrados de edificações previstas, 382 mil serão habitações novas ou recuperadas. Isso se traduz em 6.135 unidades, sendo 5.046 novas e 1.089 retrofits (prédios antigos modernizados).

Outros 337,5 mil metros quadrados em construções serão distribuídos entre equipamentos públicos (2%); calçadas, passarelas e ciclovias (8,1%); estacionamentos (8%); serviços e comércio (21,2%) e restauro de imóveis tombados (7,52%).

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As empresas participantes da concorrência disputarão áreas da cidade divididas em quatro lotes espalhados sobre os distritos Sé e República. Existe ainda uma extensão de um desses lotes sobre grande parte do distrito Santa Cecília, onde estão as quadras que receberão a sede do governo.

Ao concentrar seu projeto no centro histórico e adjacências, a gestão Tarcísio de Freitas também busca os estímulos econômicos oferecidos ao mercado imobiliário pela lei municipal de 2022 que criou o AIU (Área de Intervenção Urbana) do Setor Central.

Incentivos da AIU Setor Central, como descontos em taxas e impostos municipais, e outros, como a injeção direta de R$ 1 bilhão em projetos de retrofit, estão entre as principais apostas do prefeito Ricardo Nunes (MDB) para atrair moradores e empresas para o centro paulistano.

Nunes disputará a reeleição neste ano e conta com apoio de Tarcísio e de seu padrinho político, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Retrofits e restauros de bens tombados terão papel importante na PPP, já que parte dos edifícios previstos para o programa de requalificação são públicos, alguns abandonados ou subutilizados. Além disso, muitos poderão ficar vagos com a mudança de área do governo para os Campos Elíseos. É o caso do conjunto de edifícios que abriga secretarias e outros órgãos estaduais na rua Boa Vista, no centro histórico.

Outro imóvel a integrar a lista de renovações é o Quartel do 2º Batalhão de Guardas, no Parque Dom Pedro 2º. O edifício com mais de 180 anos e tombado como patrimônio histórico estadual está em ruínas e sem uso desde o final dos anos 1990, quando deixou de ser a sede do 3º Batalhão do Choque da Polícia Militar. No local, a área construída terá de ser restaurada e o restante do terreno poderá receber edifícios.

Após estudos realizados no ano passado, a PPP da requalificação do centro entrará agora na fase de consulta pública, momento em que a sociedade pode apresentar sugestões e contestações à proposta. A publicação do edital está prevista para maio deste ano, e a assinatura do contrato, para agosto.

Na porção do projeto destinada a moradias, os 6.135 apartamentos deverão ser distribuídos entre diferentes grupos econômicos, sendo 55% destinados a famílias que se enquadram nas categorias de HIS (Habitação de Interesse Social) 1 e 2, com renda familiar mensal de até três salários mínimos (até R$ 4.236 atualmente) e de três a seis salários mínimos (até R$ 8.472), respectivamente.

Os 45% restantes serão enquadrados como HMP (Habitação de Mercado Popular), cuja renda familiar dos beneficiários varia de seis a dez salários mínimos (até R$ 14.120).

Esses grupos de renda para acesso a políticas públicas habitacionais são definidos por uma lei federal de 2005 que busca destinar moradia à população de menor renda.

Embora o déficit habitacional esteja majoritariamente concentrado no grupo HIS 1, sobretudo devido à dificuldade desse grupo para acessar crédito imobiliário, o secretário estadual de Desenvolvimento Urbano e Habitação, Marcelo Cardinale Branco, defende a distribuição do investimento para diferentes públicos como forma de estimular a economia local e, assim, favorecer a mobilidade social dos mais pobres.

Branco também explica que o estuda criar regras para estimular a ocupação das novas moradias por famílias, alinhando assim a política habitacional estadual ao atual planejamento urbano da capital, o Plano Diretor de 2014.

Um dos desafios é evitar a ocupação das unidades apenas por pessoas que moram sozinhas, o que distorceria os critérios de renda para acesso aos programas habitacionais, ou compradores interessados em investir em imóveis para depois utilizá-los para locação de curta temporada por aplicativos como o Airbnb.

O governo também anuncia nesta sexta-feira o lançamento de 22.954 novas unidades da CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano) em todo o estado de São Paulo, além de 1.355 casas destinadas a idosos.

Ainda serão anunciadas emissões de 13.312 cartas de crédito para beneficiários de programas habitacionais que utilizam o FGTS, que basicamente são famílias atendidas pelo Minha Casa Minha Vida.

Considerando também as unidades da PPP do centro da capital, o governo paulista considera, entre entregas diretas ou apoio financeiro, facilitar o acesso à habitação para 43.756 famílias nesta etapa de anúncios.

Com meta de viabilizar 200 mil moradias até o fim do governo, a gestão Tarcísio vem retomando o papel da CDHU na política habitacional, depois de a empresa estatal quase ter sido desativada na gestão do ex-governador João Doria. Do total de unidades previstas, 65 mil serão contratadas pela companhia.