quarta-feira, 8 de janeiro de 2025

Entenda o que são as notas de contexto que a Meta quer implementar, FSP

 Daxia Rojas

Tom Barfield
Paris | AFP

Meta anunciou nesta terça-feira (7) que encerrará seu programa de checagem de fatos para substituí-lo por um sistema de notas de contexto, semelhante ao utilizado pela rede social X (ex-Twitter).

As notas de contexto são uma ferramenta de moderação coletiva de conteúdos. Elas aparecem abaixo de algumas publicações potencialmente enganosas.

Em 2022, elas foram amplamente implementadas na rede social após a aquisição pelo bilionário Elon Musk.

Logo da Meta - Dado Ruvic/Reuters

As notas são propostas e redigidas por usuários voluntários, que precisam se inscrever previamente, e não são editadas pelas equipes do X.

Depois, "outros usuários avaliam se a nota é útil ou não, com base em critérios como a pertinência das fontes e a clareza das informações", explicou à AFP Lionel Kaplan, presidente da agência de criação de conteúdos em redes sociais Dicenda.

"Se houver avaliações positivas suficientes, a nota aparecerá abaixo do post, fornecendo informações adicionais", detalhou.

As avaliações "levam em conta não apenas o número de colaboradores que classificaram uma publicação como útil ou inútil, mas também se as pessoas que a avaliaram parecem pertencer a diferentes esferas", explica o X em seu site oficial.

O princípio é semelhante ao da Wikipédia. "Nós nos baseamos nos usuários mais ativos de uma rede social ou plataforma para melhorar a qualidade dos conteúdos", disse Kaplan.

A Meta, que anunciou que seu programa de notas será similar ao do X, considera o sistema menos parcial do que o fact-checking.

Quais são os riscos?

Facebook possui um programa de checagem de fatos em mais de 26 idiomas que remunera mais de 80 organizações de mídia em todo o mundo, incluindo a AFP, para usar suas verificações de fatos em suas plataformas, como WhatsApp e Instagram.

Com as avaliações, "o problema é que a verificação depende da multidão", aponta Christine Balagué, professora do Instituto Mines-Télécom e fundadora da rede de pesquisa "Good in Tech", que trabalha com desinformação.

"A multidão pode dizer o certo, mas também pode haver pessoas mal-intencionadas que estão ali para disseminar informações erradas", alerta.

"Essa decisão afetará os usuários que buscam informações precisas e confiáveis", comentou no X Angie Drobnic Holan, diretora americana da Rede Internacional de Fact-Checking (IFCN, na sigla em inglês).

"Os checadores nunca demonstraram parcialidade em seu trabalho, e essas críticas vêm de pessoas que acreditam que podem exagerar os fatos e mentir sem serem refutadas ou contraditadas", acrescentou, destacando o clima de pressão política nos Estados Unidos às vésperas da posse do presidente eleito Donald Trump.

Bill Adair, cofundador da IFCN, afirmou que é "preocupante ver Mark Zuckerberg ecoar os ataques políticos aos checadores, já que ele sabe que os participantes de seu programa assinaram uma carta de princípios que exige transparência e imparcialidade".

Trump, que foi especialmente crítico em relação à Meta e ao seu CEO nos últimos anos, acusando a empresa de viés progressista, declarou que "provavelmente" influenciou a decisão.

As avaliações são eficazes contra a desinformação?

Pesquisadores mostraram que as notas de contexto "reduzem a disseminação de desinformação em cerca de 20%" no X, disse Balagué.

E, embora esse sistema "não seja 100% confiável", Kaplan acredita que as notas de contexto sejam eficazes.

Ele considera que permitem processar um maior volume de informações do que o fact-checking, que é "complicado de aplicar". Também destaca o funcionamento "democrático", que permite "ter e confrontar diferentes pontos de vista".

O X, no entanto, é frequentemente acusado de permitir a difusão de informações falsas desde que Musk reduziu drasticamente as equipes de moderação.

Mas, segundo o especialista, isso se deve principalmente ao fato de que "o X incentiva o radicalismo", tornando os conteúdos falsos mais visíveis do que em outras plataformas.

A Meta informou que os usuários poderão começar a se inscrever a partir de segunda-feira para escrever notas assim que o programa for lançado, mas não forneceu detalhes sobre os critérios de participação.

A empresa também anunciou que dará aos usuários mais controle sobre a quantidade de conteúdo político que desejam ver no Facebook, Instagram ou Threads.

Resta saber se esse sistema aumentará a disseminação de informações falsas. De acordo com Kaplan, a Meta não tem necessariamente interesse em destacar conteúdos controversos, pois isso poderia desagradar os anunciantes.

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