Bernardo Guimarães
Em várias ocasiões, o presidente da República manifestou seu desagrado com o Banco Central e as altas taxas de juros. A frase se aplica a Lula, mas também a Donald Trump. Na semana passada, ele chegou a dizer que demandaria uma redução imediata nos juros.
Como vai se comportar o banco central dos Estados Unidos? A questão é importante para a economia mundial. Uma perda de credibilidade aumentaria a inflação nos Estados Unidos e reduziria o protagonismo do dólar nos mercados internacionais.
Estamos acostumados a pensar que, em países como os Estados Unidos, a independência do banco central não está em xeque. Creio, porém, que haja motivos para dúvidas.
Autoridades monetárias precisam de credibilidade: se pessoas e empresas acham que o banco central tem medo de aumentar juros e vai ser leniente com inflação, elas passam a esperar inflação mais alta, e essas expectativas alimentam a inflação corrente.
Um banco central que se mostra suscetível a pressões políticas perde credibilidade. Argumenta-se que foi o caso, por exemplo, do Brasil no governo de Dilma Rousseff e dos Estados Unidos no governo de Richard Nixon. Juros mais baixos estimulam a economia a curto prazo, mas levam a inflação e piora nas expectativas a médio prazo.
Seguindo essa lógica, bancos centrais deveriam se esforçar para se mostrar independentes quando há dúvidas sobre interferência política.
Parece ser o caso aqui no Brasil. Lula pressionou o Banco Central por juros mais baixos e nomeou Gabriel Galípolo para liderar a autoridade monetária. Galípolo tomou posse sob desconfiança. Precisa conter a inflação e ganhar credibilidade e está mostrando que não tem medo de aumentar juros. A taxa Selic, já muito alta, vai aumentar bastante.
Donald Trump pressiona o Federal Reserve por juros mais baixos. O banco central americano sente a necessidade de se mostrar independente a essas pressões?
Não parece.
No dia 17, logo antes de Trump tomar posse, o Fed anunciou que estava saindo da Network for Greening the Financial System (NGFS), uma rede de bancos centrais do mundo todo com objetivos como estimular investimentos sustentáveis e incluir riscos climáticos no rol de ameaças à estabilidade do sistema financeiro.
Não sei quais são os impactos de pertencer a essa rede. Instituições com frequência têm diretrizes desse tipo com pouco ou nenhum efeito em suas ações. Mas isso não importa.
Sair dessa rede logo antes de Trump tomar posse sinaliza susceptibilidade a pressões políticas. Poderia ser coincidência? Em princípio, sim, mas, se o objetivo fosse mostrar independência, o banco central não faria esse anúncio neste momento. Seria fácil ignorar a rede por alguns meses e anunciar a saída depois.
O objetivo parece ser apaziguar o novo presidente. Não deve funcionar e mostra vulnerabilidade. Ao que parece, imagina-se que a credibilidade do Fed ainda não está em jogo, então essa demonstração de preocupação com pressão política não seria um problema.
Quem tomou essas decisões deve saber o que está fazendo. Se assim fizeram, deve ser porque a credibilidade do Fed não deve ser abalada. Mas eu acho estranho. Um banco central não deveria emitir sinais de vulnerabilidade quando um presidente toma posse.
Nenhum comentário:
Postar um comentário