quarta-feira, 29 de janeiro de 2025

Brizola tomou empresa de luz americana no RS e pagou um cruzeiro, conta biógrafa, FSP

 

Não é de hoje que presidentes dos EUA entram em conflito com autoridades latino-americanas. Na biografia de Leonel Brizola que está escrevendo, a jornalista Karla Monteiro vai lembrar da crise provocada pelo então governador gaúcho quando, no início dos anos 1960, ele tomou as companhias de luz e telefone do Rio Grande do Sul —subsidiárias das gigantes americanas Bond & Share e IT&T.

"Brizola nacionalizou as duas empresas após fazer um levantamento contábil e descobrir que elas não investiam o mínimo necessário. O Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul autorizou e ele fez", diz Monteiro, autora da biografia "Samuel Wainer – O Homem que Estava Lá", finalista do prêmio Jabuti 2021.

O então governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, fala em rádio montada no porão do Palácio do Piratini, em Porto Alegre - Museu da Comunicação Hipólito José da Costa

As apropriações geraram conflito com o governo John Kennedy e, depois da morte deste, em 1963, a crise se aprofundou com Lyndon Johnson. "Kennedy, inclusive, declarou publicamente que Brizola ‘não era amigo dos Estados Unidos’", conta a jornalista, que é ex-colunista da Folha.

De fato, Brizola, que foi governador do Rio Grande do Sul entre 1959 e 1963, foi ao banco e depositou um cruzeiro na conta da Bond & Share. A isso se seguiu uma briga com o governo americano, para que houvesse indenização justa para as empresas, o que só aconteceria durante a ditadura.

Segundo a biógrafa, a crise acabou interferindo nas relações dos EUA com o governo de João Goulart, um dos motivos para o apoio norte-americano ao golpe de 1964. Ainda sem nome, o livro está programado para sair pela Companhia das Letras no final deste ano.

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