quarta-feira, 29 de janeiro de 2025

'Hoje, filho do mestre de obras é engenheiro e não quer ir para a obra', diz CEO de construtora, FSP

 Júlia Moura

São Paulo

Com as mudanças geracionais e expansão do ensino superior, o setor de construção civil já enfrenta escassez na mão de obra e constrói alternativas, aponta executivo da área.

"Hoje, o filho do mestre de obras é engenheiro e ele não quer ir para a obra, então estamos industrializado o processo", disse Ubirajara Freitas, CEO da Tegra Incorporadora, em evento do UBS BB nesta quarta-feira (29).

Segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 23,2 milhões de brasileiros tinham ensino superior completo em 2023, o equivalente a 23% dos trabalhadores brasileiros, recorde da série histórica iniciada em 2012.

Canteiro de obras.
Segundo construtoras, a mão de obra para o setor está cada vez mais escassa - Rivaldo Gomes/Folhapress

Para driblar o crescente problema de falta de profissionais, o executivo afirma que, além da pré-fabricação de construções em indústria, a Tegra, braço da Brookfield voltado à alta renda, tem internalizado os prestadores de serviço que, em sua maioria, ainda são terceirizados.

"Quando a mão de obra aperta, fica mais fácil de reter. O lapso de mão de obra vai acontecer", afirmou Freitas.

Outra estratégia da companhia é o treinamento dos trabalhadores e maior integração junto à empresa, com distribuição de smartphones e tablets.

Segundo Ricardo Valadares Gontijo, CEO da Direcional, construtora voltada ao Minha Casa, Minha Vida, muitos dos seus trabalhadores são o próprio público-alvo da companhia.

"Quando a renda da população tem ganho real é bom para o nosso público e é bom para nós, desde que não comprometa o preço da matéria-prima", disse Gontijo em painel junto a Freitas.

Segundo os CEOs, a atual inflação nos produtos do setor está sob controle e não preocupa, ao contrário da desaceleração da economia.

"Claro que nós poderíamos estar com taxa de juros com um dígito só, com inflação de 3%, 3,5%, e uma taxa de juros de 7,5%, 8%, Estaria bom, mas vamos conviver com inflação da ordem de 6% vamos conviver com juntos da ordem de 13%, 14%. E essa a realidade e em cima disso temos que nos planejar, sem perder de vista o longo prazo", disse Freitas.

Gontijo, da Direcional disse que depende do orçamento do Minha Casa Minha Vida e do financiamento do FGTS e espera um crescimento em relação a 2024, mas não tão grande quanto no ano passado, dada a escassez de recursos do Fundo Garantidor.

"Quando eu comecei a trabalhar, em 1980, a gente tinha uma margem de 30%. Hoje, se ganharmos 16% está bom demais. Ou seja, em 45 anos a margem caiu pela metade, mas no varejo é 2,5%. Lá, se você errar é prejuízo", afirmou Freitas, da Tegra.

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