terça-feira, 21 de janeiro de 2025

Trump, mais forte, assume com agenda agressiva, editorial FSP

 Donald John Trump tomou posse nesta segunda (20) como o 47º presidente dos Estados Unidos com um discurso incendiário que, mesmo previsível, suscita temores acerca dos próximos quatro anos em que o magnata mercurial estará à frente da mais poderosa nação da Terra.

E, a depender dele e de Elon Musk, seu mais novo escudeiro, talvez até de Marte —nem o planeta vermelho escapou das promessas grandiloquentes alinhadas pelo republicano.

Dezenas delas deverão se materializar na forma de ordens executivas, parentes dos antigos decretos-leis brasileiros que, diferentemente das atuais medidas provisórias, não precisam ser submetidas ao Congresso.

A cornucópia trumpista foi aberta ante um Joe Biden em silêncio obsequioso, algo que Trump não fez quando faltou à posse do democrata que o havia derrotado em 2020. Tudo sob o teto do mesmo Capitólio vilipendiado pelos seguidores do republicano no 6 de janeiro de 2021, que agora devem ser perdoados.

Falou sobre estado de emergência nas fronteiras e decretos contra imigração ilegal, com base em mentiras acerca de uma invasão de criminosos de outros países, e mirou políticas identitárias.

Aos 78 anos, o mais velho a assumir o posto, Trump exalou o messianismo que marcou sua campanha eleitoral. Em bravata populista, afirmou que Deus o havia poupado no atentado de julho passado para que fizesse seu país "grandioso novamente" —o mote de sua ascensão à Casa Branca no pleito de 2016.

Insistiu em bufonarias como restrição a gêneros e renomear o golfo do México como "da América". Deu ares oficiais ao intento de retomar o canal do Panamá.

Foi a rara referência à maior rival dos EUA, a China, acusada falsamente de controlar o local. De resto, Trump tocou violinos para os ouvidos de Xi Jinping, agraciado com afagos antes da posse.

À inédita injúria de assistir um presidente ameaçar a soberania alheia na posse foi adicionado o insulto de ouvi-lo prometer ser um "pacificador e unificador".

Gabou-se do cessar-fogo em Gaza, que de fato só andou por sua insistência. Sem citar a Ucrânia, para deleite de Vladimir Putin, prometeu acabar com guerras e não entrar em nenhuma.

Enquanto Los Angeles combate uma onda inaudita de incêndios, sua posição em favor dos combustíveis fósseis foi ratificada, assim como a saída do Acordo de Paris, um dos aspectos mais nefastos de sua extensa pauta.

Haverá resistência a ela. Contudo o Trump de 2025 tem ativos que o de 2017 não tinha: controle total sobre seu partido, que comanda o Congresso, um gabinete de fiéis fanáticos, uma Suprema Corte conservadora e a nova elite tecnológica aliada a indústrias do passado para apoiá-lo.

Tal cenário tem guiado a cautela mundial ante Trump, por ora adotada até por vocais críticos com muito a perder, como Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

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