"Deste momento em diante, o declínio da América acabou." Para mim, esta frase encapsula o sentimento do novo governo Trump. Um líder como Trump é o sintoma de uma potência em declínio; de um país que não tem mais o domínio mundial que já teve e que reage a isso se fechando e adotando uma postura hostil para o resto do mundo. Os EUA não são mais os campeões autoconfiantes da ordem mundial que ajudaram a criar no pós-guerra; são os primeiros a querer desmontá-la porque ela custa caro demais.
Como de praxe, não se ouviu, nas palavras de Trump, qualquer menção a nações aliadas. O mundo é um imenso cada-um-por-si. Nas relações comerciais, um lado perde e o outro ganha. No comando do Estado mais poderoso do mundo, ele sabe que pode ameaçar nações menores com tarifas, sanções ou mesmo ações militares, e haverá muito pouco que qualquer país ameaçado poderá fazer.
Mesmo que não consiga tudo o que pediu inicialmente (lembrando que exigir muito é o primeiro passo para conseguir algo), ele sai com a vitória: direitos de exploração mineral da Groenlândia; tarifa zero para navios americanos no Panamá; alguma concessão do Canadá. Não sabemos bem como nem quando mas, em algum momento, a chantagem chegará no Brasil.
Algumas de suas promessas são danosas para o crescimento, como tarifas para importações, que encarecerão a vida do consumidor, e redução da imigração, que encarecerá a mão de obra. Mas têm o efeito desejado de beneficiar relativamente trabalhadores industriais e jovens pouco escolarizados. Diga-se com todas as letras: é legítimo um país votar para colocar fim à imigração ilegal e mesmo para reduzir a imigração legal. Mas ilude-se quem acha que os imigrantes são um problema econômico do país.
Ao mesmo tempo, um conjunto de medidas internas pode compensar o fechamento econômico: a desregulamentação da produção —especialmente ambiental— e o corte de impostos, que deve seguir a todo vapor.
Não duvido nada que o saldo final deste governo seja crescimento econômico, melhora da posição relativa da classe trabalhadora industrial, mais produtos sendo produzidos internamente e inúmeras vantagens ganhas na relação com outros países. Em cada caso, Trump sairá vencedor.
Antes de colocar o bonezinho Maga, contudo, cabe notar que tudo isso cobra uma conta, que será paga por aquele sócio que a gente não consegue ver e, por isso, esquece que existe: o futuro.
Os EUA poluirão como nunca, acelerando as mudanças climáticas e os eventos climáticos extremos para todos nós. Com os cortes de impostos, piora também um problema —esse sim real— da economia americana: a dívida pública, que continuará subindo e acelerando. O mundo mais fechado com os EUA na figura de valentão do parquinho que rouba a merenda dos colegas, por sua vez, terá corroído gradativamente a cooperação entre os países e a boa-fé de todo o mundo democrático com os EUA.
Não quero que me acusem de pessimista. Vá lá: se os bilionários que agora cercam o governo inventarem uma nova tecnologia de baixo custo que resolva a questão climática, ou se o Doge de Elon Musk encontrar gastos trilionários que possam ser cortados sem serem sentidos pela população, os EUA estarão salvos. Na falta desses milagres, contudo, não creio que arroubos de orgulho nacional impedirão o declínio.
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