26.jan.2025 às 8h00
Ao ler a coluna de Alvaro Costa e Silva ["Lilian Ross deu lições de jornalismo", 15/1] sobre a americana Lillian Ross, a respeito de seu livro "Sempre Repórter", pela Editora Carambaia, pensei ouvir um eco distante. Certa fala, dela ou minha, pareceu repercutir em algum lugar, não com as mesmas palavras, mas com as mesmas ideias. Lillian (1918-2017) foi grande repórter, trabalhou a vida inteira na revista The New Yorker e demarcou os parâmetros da entrevista moderna. Um exemplo disso, sua entrevista com Ernest Hemingway, em 1947, está nesse livro.
Lillian, segundo Alvaro, não usava gravador. Escutava o entrevistado com atenção e tomava discretas notas num bloco. Observava seus movimentos, gestos, tiques, jeito de andar, falar, se vestir, e os reproduzia em detalhes. Ao fazer isto, seu encontro com o entrevistado desfilava fisicamente aos olhos do leitor, como se ele também estivesse presente. E nada de a repórter se meter na narrativa nem "adivinhar" o que o personagem estaria pensando ou sentindo, muito menos passar julgamento sobre ele —o leitor é que deverá julgá-lo. Nas entrevistas de Lillian, o leitor é quase o coautor.
Pensei estar escutando um eco porque, por acaso, é exatamente o que acho a respeito. Nos últimos 35 anos, saí à rua alguns milhares de vezes para fazer as entrevistas em que se basearam minhas biografias de Nelson Rodrigues, Garrincha e Carmen Miranda, além de livros sobre a bossa nova, o samba-canção e outros. Nunca usei um gravador. Como os melhores entrevistados são as pessoas mais simples, um gravador as intimidaria. Tomava notas por baixo da mesa usando uma taquigrafia pessoal.
O segredo de uma entrevista sem gravador é o entrevistador estar bem preparado, saber muito sobre o entrevistado. Lilian fala de um "envolvimento químico". Concordo. Um macete para ganhar de saída o entrevistado é falar de um amigo comum, contar uma história engraçada sobre ele.
O entrevistado relaxa, se abre e, sem que ele saiba, a entrevista já começou.
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