sexta-feira, 31 de janeiro de 2025

Antonieta Marilia de Oswald de Andrade (1945 - 2025) Mortes: Com a dança, sobreviveu às tragédias familiares, FSP

 

Tânia Bernucci
São Paulo

Marilia de Andrade era uma ilha solitária na família de Oswald, um dos idealizadores da Semana de Arte Moderna de 1922. O pai, genial e amoroso, como ela o definia, se foi (pobre e doente) quando ela tinha nove anos, a mãe partiu de forma trágica quando ela estava grávida da primeira filha. Seu irmão Paulo Marcos morreu precocemente num acidente. Restou ela e sua dança de sobrevivência às tragédias familiares.

Uma dança vigorosa e criativa que ela inventou desde os quatro anos de idade. Como bailarina e coreógrafa, participou de "Kuarup", do balé Stagium, tendo dançado para os indígenas do Xingu, e montou espetáculos como "Sarará", "Pedro e o Lobo", "Impressões Brasileiras" e "Villa em Movimento", que representou o ano do Brasil na França em 2005.

Estagiou na escola de Pina Bausch, foi talvez a melhor representante de Isadora Duncan, com carreira internacional, tendo recebido o prêmio do instituto pelo conjunto da obra.

A imagem mostra uma mulher de cabelos castanhos e ondulados, vestindo uma blusa colorida com padrões circulares e formas. Ela está com a mão sobre o peito, em uma pose que sugere expressão de emoção ou reflexão. Ao fundo, há uma pintura abstrata com tons de vermelho e laranja.
Antonieta Marilia de Oswald de Andrade (1945 - 2025) - Tânia Bernucci/Leitora

Apresentou-se na Europa e nos Estados Unidos, tendo sido reconhecida pelo crítico de dança Don McDonagh, do The New York Times, que admirou "a técnica e a força da expressão emocional da dançarina" e elogiou sua "criatividade como coreógrafa e fidelidade ao ideal de Isadora em revelar paixão nas interpretações".

Criou o Estúdio XXI, um espaço de dança integrado à natureza em Campinas, no interior paulista. PhD em psicologia pela Universidade Columbia, roteirizou filmes sobre as questões de gênero e o papel social da mulher, com Irene Ravache, Susana Faini e Sadi Cabral.

Trabalhou com Ruth Cardoso, escrevendo e produzindo 25 documentários sobre o artesanato brasileiro.

Lançou o livro "Maria Antonieta d'Alkmin e Oswald de Andrade: Marco Zero", a partir do manuscrito deixado por sua mãe, a última esposa de Oswald.

Casou-se com o economista Paulo Sergio Graciano (filho do pintor Clovis Graciano), com quem teve três filhas: Mariana, Daniela e Cristiana. Depois de se separar, conheceu seu segundo marido, o antropólogo Antonio Augusto Arantes Neto, professor emérito e pesquisador da Unicamp, como ela, e presidente do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) de 2004 a 2006.

Na universidade, Marilia implantou o Daco (Departamento de Artes Corporais) e o primeiro curso de formação em dança. Enfim, uma vida rica e cheia de histórias que ela adorava contar e estão no site mariliadeandrade.com.br.

Era parecida com o pai fisicamente e tinha traços de sua genialidade. Também era geniosa, mas, acima de tudo, amorosa. Seus passos se encerraram no dia 24 de janeiro, depois de 79 anos de belas e desafiadoras coreografias no mundo particular e das artes.

Deixa o companheiro, as três filhas, a enteada Violeta e as netas Maria Luiza, Maria Gabriela, Clara, Stella, Catarina, Marina e Helena.

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