Por causa do frio, a posse de Donald Trump aconteceu na Rotunda do Capitólio. Má ideia. De certa maneira, foi uma revanche. No 6 de janeiro de 2021 aquele lugar foi invadido pela turma que queria melar a vitória eleitoral de Joe Biden. Cenograficamente, é um lugar bonito. Fica embaixo da cúpula dos cartões postais. No seu espaço circular estão estátuas de notáveis da história americana.
Em 1876, d. Pedro 2º lá esteve e definiu-o: "Fui ver o Capitólio. Aspecto majestosíssimo. Agradou-me muito o todo da arquitetura. Tudo o que é escultura é medíocre".
O mundo teve que aturar a mediocridade das esculturas da Rotunda.
Trump assumiu resgatando a memória de William McKinley (1897-1901) e devolveu-lhe a denominação da montanha mais alta dos Estados Unidos, cassada em 2015.
Não é retórica. Trump promete o início de tempos dourados. McKinley governou no auge de uma era folheada a ouro. No seu primeiro mandato o PIB americano cresceu a taxas inéditas. Àquela época, a U.S. Steel era maior que o governo federal. (Em 2025, faltou pouco para que a U.S. Steel fosse absorvida pela japonesa Nippon Steel.)
Trump quer retomar o canal do Panamá, McKinley anexou o Havaí e, depois de expulsar os espanhóis, transformou Cuba, Porto Rico e as Filipinas em protetorados americanos. Trump promete protecionismo, McKinley elevou as tarifas de importação.
Passado mais de um século, a presidência de McKinley é vista como o apogeu dos endinheirados. Os homens mais ricos dos Estados Unidos, John D. Rockefeller e Andrew Carnegie, cacifavam-no. (Ambos haviam saído do nada.) Nenhum dos dois foi à posse de McKinley, mas Elon Musk, o homem mais rico do mundo, não só estava em Washington como faz parte do governo e quer um cantinho na Casa Branca.
Quando Trump diz que o Golfo do México vai se chamar Golfo da América, replica a rainha Victoria (1819-1901), que se desentendeu com o ditador da Bolívia e mandou tirar o país do mapa que tinha no palácio. Botar uma bandeira em Marte? Tudo bem, melhor ainda se ela for levada num foguete de Elon Musk.
Noves fora o teatro, Trump saiu do Acordo de Paris, apertou o ferrolho da imigração e certamente elevará as tarifas das importações. Assumiu com uma vitalidade que faltava a Joe Biden e antecipou uma presidência menos sonolenta, mas McKinley ele nunca será.
Trump disse que a América Latina e o Brasil "precisam mais de nós do que nós precisamos deles". Até aí, ele pode até estar certo. Os regimes de Cuba e da Venezuela viverão anos amargos, mas o Brasil e a América Latina não precisam dos Estados Unidos tanto quanto ele pensa.
Em 1896, quando McKinley tinha um pé na Casa Branca, o Barão do Rio Branco escrevia a um amigo: "Eu prefiro que o Brasil estreite as suas relações com a Europa a vê-lo lançar-se nos braços dos Estados Unidos".
Em 1896 a China estava humilhada e subjugada pelas potências da época. Conta a lenda que num parque de Xangai havia uma placa informando que estava proibida a entrada de "cachorros e chineses". Em 2025, o ano pode fechar com Pequim chegando a um superávit comercial de US$ 1 trilhão.
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