O que fazer com nossas heranças? Visto que, como destaquei em colunas anteriores desta série que tenho feito sobre legado, nossa linha de sucessão vai acabar em um futuro próximo e a transmissão de recursos afeta a trajetória dos herdeiros e o desenvolvimento coletivo.
Veja... Devemos reconhecer que, mais do que o que deixamos, importa como aquilo que deixamos moldará o futuro. O legado é sobre como escolhemos fazer a diferença enquanto ainda estamos aqui. A doação de recursos e de parte de nosso tempo para causas sociais amplifica o impacto que deixamos no mundo quando partimos e, ao mesmo tempo, pode contribuir para fortalecer vínculos familiares e sociais.
Do lado familiar, tem-se que, quando falecemos, é comum haver intensas disputas em torno da herança deixada frequentemente marcadas pela ganância e pelo ressentimento. Não é raro presenciarmos situações em que os filhos e os parentes iniciam verdadeiras batalhas pela divisão de bens antes mesmo de nossos corpos começarem a se decompor no caixão. Há ainda casos extremos de eles torcerem pela morte dos pais para herdar os recursos do trabalho de terceiros.
Tal comportamento, além de desrespeitar a memória de quem partiu, revela como os vínculos familiares podem ser fragilizados quando os bens materiais assumem o protagonismo nas relações. Essa canibalização em torno dos recursos acaba quebrando laços de afeto, perpetuando conflitos que poderiam ser evitados.
Planejar o destino dos recursos em vida é um importante meio não só de evitar conflitos familiares mas também de gerar um relevante impacto na sociedade. Com isso, podemos ver de perto os frutos de nosso legado, acompanhando as mudanças que estamos proporcionando. Ao direcionarmos recursos para o benefício de causas maiores, estamos, ao mesmo tempo, dizendo ao mundo que reconhecemos que a vida não se limita ao indivíduo ou seu núcleo familiar.
Esse gesto pode até ajudar a fortalecer os vínculos familiares, pois desloca o foco da posse individual para a contribuição coletiva, promovendo um senso de propósito compartilhado entre seus membros. Além disso, uma herança que busca transformar vidas não só honra a memória daqueles que a construíram ao longo das sucessivas gerações mas também inspira gerações futuras a perpetuar esses ideais.
Os casos de doação em vida têm crescido expressivamente nos últimos anos. Eles têm sido impulsionados por indivíduos com grandes fortunas, mas também por pessoas menos abastadas que reconhecem o impacto dessas ações. Exemplos como o Giving Pledge, liderado por figuras como Warren Buffett e Bill Gates, têm servido de inspiração global para uma nova forma de atitude em relação à transmissão de riqueza.
Esse movimento reflete mudanças nos valores de algumas famílias, onde a filantropia se tornou um meio para elas ajudarem a reduzir desigualdades e deixar legados. Na próxima coluna, aprofundarei a discussão em torno dos exemplos de pessoas que doaram suas fortunas.
Caso tenha interesse, leia as colunas anteriores para acompanhar toda a discussão desta série sobre legado, algumas estão disponíveis somente no site da Folha. Por fim, como de costume, o texto é uma homenagem a uma música. Desta vez, a escolhida foi "Canção Para Você Viver Mais", interpretada por Pato Fu.
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