terça-feira, 7 de janeiro de 2025

Conclusão de ligação nacional do sistema elétrico é prevista para setembro, FSP

 André Borges

Brasília

Passados 14 anos desde que foi leiloado, um dos projetos mais atrasados de todo o setor elétrico deve entrar em operação comercial neste ano. Em reunião realizada em novembro do ano passado entre a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) e a diretoria da Transnorte Energia, formada pela Alupar (51%) e Eletronorte (49%), a concessionária afirmou que tudo caminha para concluir e acionar o traçado do "Linhão de Tucuruí " em setembro deste ano.

A linha de transmissão de 721 km de extensão, que liga Manaus (AM) a Boa Vista (RR), foi leiloada em setembro de 2011. A obra previa, já naquela época, fazer a interligação elétrica da capital de Roraima, a única que ainda estava desplugada do SIN (Sistema Interligado Nacional).

A previsão contratual era de executar a obra em apenas três anos, mas o projeto acabou mergulhado, nos anos seguintes, em um imbróglio socioambiental sem fim, devido aos impactos que seriam causados à terra indígena Waimiri Atroari, que é cortada por 144,7 km da linha de transmissão.

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Uma das aldeias do povo Waimiri Atroari, em Presidente Figueiredo (AM), onde indígenas já foram impactados pela construção do reservatório da hidrelétrica de Balbina e da BR-174 - Lalo de Almeida 17.set.2022/Folhapress

Conforme informações levantadas pela Folha, das 1.390 torres de transmissão do projeto, 237 passam dentro da terra indígena, em uma área paralela ao traçado da BR-174, rodovia que leva até Boa Vista. Cerca de 2.300 indígenas vivem na região.

No processo de licenciamento da obra, a Transnorte Energia passou anos em negociação com a ACWA (Associação do povo Kinja), até chegar a uma proposta final de indenização. O acordo incluiu exigências como a construção do Centro de Gestão Ambiental Kinja-CGAK, já entregue, além do fornecimento e instalação de sistema de rádio comunicação e internet para as aldeias.

Segundo o governo de Roraima, o acordo judicial para compensação ambiental do projeto soma cerca de R$ 90 milhões.

Ao detalhar o andamento da obra, a concessionária chama a atenção para as "limitação da quantidade de frentes de trabalho" nos canteiros que ficam na terra indígena, além da "adequação à rotina dos povos originários".

Entre os sete lotes de obras do projeto, aquele que passa pela terra demarcada é o que segue em marcha mais lenta.

Os indígenas, conforme previamente acordado, controlam os acessos, horários e monitoram cada uma das etapas de construção, exigindo limitações de cortes de vegetação e retirada de materiais usados nas obras, entre outras determinações.

O acompanhamento da obra é feito com lupa pelos técnicos da agência reguladora, devido à sucessão de prazos e atrasos que marcam o histórico de um dos projetos mais polêmicos do setor elétrico nos últimos anos.

Neste caminho, a Transnorte chegou a apresentar, inclusive, um pedido de desistência de tocar o projeto, pedindo uma indenização bilionária à União.

A Funai (Fundação Nacional do Índio), durante o governo do então presidente Jair Bolsonaro, chegou a autorizar o avanço da obra mesmo sem o entendimento prévio com os indígenas. O caso, porém, foi travado na Justiça. Em 2021, houve, finalmente, a assinatura de um termo aditivo, prevendo um acordo com os Waimiri Atroari e a entrega da linha em setembro de 2024.

Esse novo prazo, porém, seria mais uma vez frustrado, segundo a empresa, devido à dificuldade de execução de obras dentro do canteiro localizado no território indígena. Por isso, foi solicitado mais um ano para entregar a obra, em setembro de 2025.

A Transnorte Energia tenta se livrar de eventuais punições pelo mais recente atraso e argumenta que não pode ser responsabilizada por situações que não teria dado causa. Seu pedido ainda é analisado pela agência reguladora.

"A data prevista para setembro de 2025 considera a impossibilidade de início das obras até setembro de 2022 (um ano de atraso em relação ao aditivo contratual) e as condicionantes definidas a partir da consulta aos Waimiri Atroari, ressaltada a maior lentidão da evolução das obras na terra indígena", afirma a concessionária.

No fim do ano passado, o MME (Ministério de Minas e Energia) informou que o sistema nacional elétrico chegou a 187,8 mil quilômetros de linhas de transmissão. Em 2024, 2.600 quilômetros de novas linhas entraram em operação. Para 2025, a pasta projeta a implantação de mais 1.500 km de redes.

A preocupação em interligar Roraima à malha nacional passa pela possibilidade de enviar energia de outras regiões para o estado e, assim, reduzir o consumo de óleo diesel, que hoje é a principal fonte de produção de energia na região. Ao todo, cerca de 1.000 litros de óleo são queimados todos os dias para garantir o abastecimento de Boa Vista.

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