O hipódromo de São Paulo deixou definitivamente a Mooca em 1941, com a inauguração de um novo, na Cidade Jardim, em 25 de janeiro daquele ano.
Entretanto, até hoje, o bairro da zona leste paulistana possui lembranças e símbolos do passado de corridas e competições que marcaram a região, tanto pelo Club de Corridas Paulistano e posteriormente pelo Jockey Club de São Paulo.
Vamos conhecê-las ?
A história do hipódromo de São Paulo começa em 1876, quando o local foi inaugurado oficialmente. O acontecimento marcaria uma profunda evolução nas corridas de cavalo na capital paulista, até então marcadas por eventos amadores e sem uma praça esportiva específica.
Um grande área na Mooca foi escolhida para receber o nosso primeiro hipódromo. Estet erreno de boa localização era próximo da linha férrea da Central do Brasil (hoje CPTM).
O mapa abaixo mostra onde foi erguido o hipódromo:
O hipódromo trouxe muita movimentação e desenvolvimento para a até então tranquila Mooca. A cada evento ocorrido ali, a sociedade paulistana se deslocava até o bairro para manhãs e tardes agradáveis de competições de cavalos.
Chegavam de trem, carruagens, carros ou bondes (dependendo da época), homens trajando ternos elegantes e usando cartolas, além de mulheres com vestidos finos e charmosos. Cada corrida era um evento único da sociedade paulistana para ver e ser visto.
O auge do hipódromo da Mooca chegaria na primeira metade da década de 1930, quando as corridas de cavalo atingiram seu ápice e o local das competições passou a ser considerado pequeno para as atividades cada vez mais crescentes do Jockey Club de São Paulo.
Nesta época começou a ser discuta a construção de um novo hipódromo, onde seria aplicado o projeto desenhado por Fábio Prado. A área escolhida inicialmente foi o Ibirapuera, porém a doação de uma área de 600 mil metros quadrados pela Companhia Cidade Jardim, mudou os rumos do novo local.
Em 25 de janeiro de 1941 o novo hipódromo foi inaugurado, colocando um ponto final na velha arena de cavalos da Mooca.
Com a demolição do antigo hipódromo e tendo passado mais de 70 anos da inauguração do novo, em outro bairro da cidade, seria natural que não existissem mais rastros das atividades hípicas naquela região da Mooca. Entretanto, um breve passeio pelos arredores da área onde estava o primeiro hipódromo paulistano pode revelar descobertas interessantes, especialmente relacionadas a nomenclatura de ruas. Vamos conhecê-las ?
RUA DO HIPÓDROMO:
Quando pensamos numa rua que lembra o passado hípico do bairro, a primeira que vem a cabeça de todos é a rua do Hipódromo. Elo entre o Brás e a Mooca a rua é a de mais fácil assimilação a história.
Apesar do nome, ao contrário do que muitos pensam, a rua não terminava no hipódromo, mas sim a um quarteirão de distância. A via que dava acesso as dependências do antigo hipódromo de São Paulo era a rua Bresser.
Peca muito o poder público por não colocar alguma identificação sobre o que foi ali no passado, seja na rua do Hipódromo ou mesmo na rua Bresser
RUA MARCIAL
Quando lembramos da Mooca, lembramos de Juventus e do Cotonifício Crespi. Esses dois ícones do bairro foram fundados pela mesma pessoa, o Conde Rodolfo Crespi.
Mas engana-se quem pensar que a principal paixão do conde era o futebol. O que o conde amava mesmo eram as corridas de cavalo. E dois de seus cavalos estão imortalizados em ruas do bairro. Um deles, nesta aqui.
Elo entre a rua dos Trilhos e avenida Cassandoca, a rua Marcial foi batizada com este nome após 1915 (observe que no mapa do início do texto, de 1913, ela ainda não existia) e faz homenagem a Marcial, um dos famosos cavalos do Conde Rodolfo Crespi.
Marcial(*) foi um dos mais importantes cavalos paulistanos da última década do século 19 e teve seu auge na pista entre os anos de 1894 e 1896. Em 1897 foi aposentado das corridas e levado para a cidade de Santos.
A rua Marcial além de ser batizada com o nome de um dos mais importantes cavalos do conde, era bastante conhecida por ser uma rua para compra e venda de equinos de puro sangue. Não era raro encontrar anúncios nos jornais paulistanos vendendo os animais naquela rua, que na época estava a apenas um quarteirão de distância do hipódromo.
Os cavalos se foram, mas o nome da rua foi perpetuado.
(*) Na década de 1940 outro cavalo com este nome fez sucesso no hipódromo, mas sem relação com esta rua ou com o Conde Crespi.
RUA ITAJAÍ
Esta rua não tem nenhum nome ligado a cavalos, mas é nela que está a mais viva lembrança do extinto hipódromo da Mooca.
Na foto acima é possível ver as antigas cocheiras do hipódromo. O local que por décadas abrigou inúmeros cavalos e éguas, hoje pertence à Prefeitura de São Paulo. Ali funciona a Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social.
Apesar de tantos anos já terem passado, o local permanece muito parecido ao que era quando a cocheira funcionava.
RUA JAVARI
É na rua Javari, famosa por ser o endereço do estádio do Clube Atlético Juventus, que está a mais bela e pouco conhecida lembrança do passado hípico da Mooca.
Observando a imagem abaixo, de uma das antigas entradas do Cotonifício Crespi, parece que não há nada de mais, correto ?
Porém basta observar mais de perto, entre os galhos da árvore, que uma espécie de brasão surge entre as folhagens. Veja mais de perto:
Fixado sobre o portão de entrada, o que parece ser um brasão é na verdade um medalhão. Ignorado pela grande maioria das pessoas que passam diariamente pela rua Javari, está ali a mais bela homenagem a um cavalo que correu no antigo hipódromo da Mooca.
Instalado em meados da década de 1920, o medalhão é uma homenagem ao cavalo Mehmet Ali. Em 1925 este cavalo protagonizou uma corrida emocionante no hipódromo contra um de seus mais importantes adversários. A peleja entre ambos foi muito disputada e acabou com um incrível e raro empate entre dois cavalos.
O feito foi bastante comentado pelos espectadores do turfe e também nos jornais da época pelo seu ineditismo. Maravilhado com o desempenho do cavalo, o Conde Rodolfo Crespi mandou colocar o medalhão na entrada da fábrica, onde está até os dias de hoje.
RUA HÍPIA
Esta rua não ia ser citada aqui, mas resolvemos colocá-la porque muitos escrevem perguntando sobre o real significado do nome dela.
Há quem costume dizer que a rua Hípia tem este nome devido a alguma relação com o extinto hipódromo. Falam, inclusive, que o nome homenageia um outro cavalo famoso. Aqui vamos desfazer este mal entendido.
Apesar de estar muito próximo as antigas cocheiras e também do extinto hipódromo, esta rua recebeu este nomenclatura da prefeitura paulistana em novembro de 1920. O nome faz homenagem ao pensador grego Hípias de Elidas, que viveu no século V a.c.
Passado tanto tempo que o hipódromo deixou a Mooca, podemos dizer que a Mooca nunca deixou o hipódromo. Todas estas ruas com nomes em referência ao hipódromo, a antiga cocheira, e o medalhão de Mehmet Ali são resquícios importantes da história do bairro e que devem ser preservados.
Seu bairro tem alguma rua de nome curioso que te deixa intrigado ? Mande aqui para nós fazer uma pesquisa.
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