Thiago de Aragão
A imposição da política de Covid zero na China gerou um caos social e sanitário, culminando com a morte de dez pessoas numa fábrica em Xinjiang e protestos contra Xi Jinping. Essa situação levou o líder chinês a determinar o fim de uma longa política em um dos últimos países a ainda sofrer de forma substancial com a pandemia que assolou o mundo em 2020 e 2021.
Com o fim da política de Covid zero, a China vivia um sentimento generalizado de alívio. No entanto, a falta de um elemento essencial está colocando o país em uma situação complicada que, como da última vez, acarreta em inúmeros problemas interligados: pressão nos hospitais, mortes, fechamento de fábricas, danos a cadeia de produção e impacto negativo na economia (que é a principal base de sustentação do Partido Comunista Chinês perante a sociedade). Esse elemento primordial para superar a crise é a vacina.
A China foi um dos primeiros países do mundo a desenvolver imunizantes anticovid-19. Tanto a Coronavac como a Sinovac são de fabricação chinesa, apesar de o governo chinês também estar envolvido no financiamento da vacina da AstraZeneca e, via a BioNTech, indiretamente ligado à vacina da Pfizer.
Como podemos ver ao longo dos últimos anos, a vacina da Pfizer (e Moderna), com a tecnologia RNA mensageiro, se mostrou mais eficaz na neutralização do vírus, fazendo com que esse imunizante se tornasse o predominante em vários países. A China, por outro lado, por conta da propaganda "necessária" ao partido, resolveu não comprar as vacinas mRNA (e tentar desenvolver a própria).
SITUAÇÃO CAÓTICA
A falta de vacinação eficiente na população fez com que uma situação caótica se estabelecesse no país. No momento, quase um terço da população de Pequim (22 milhões) está com suspeitas de estar com o coronavírus. O caos começa a se disseminar na mesma proporção de contaminação do vírus.
Caminhoneiros não conseguem levar cargas e suprimentos de um lugar para outro, alimentos não estão chegando nos supermercados e a população, começando a se desesperar, acumula o máximo de produtos não perecíveis.
Além do temor de que o vírus se espalhe ainda mais, o Partido Comunista Chinês também lida com a hipótese de que o alto volume de contaminações e possíveis usos indiscriminados de remédios não relacionados gerem um novo ciclo de mutações no vírus, que poderia resultar em uma variante mais agressiva que a ômicron.
Claro que isso é um problema futuro, e é difícil o governo chinês lidar com eventualidades quando problemas atuais estão prejudicando num ritmo acelerado a percepção da população em relação ao partido.
Assim, as próximas semanas serão críticas em relação a estratégia adotada para conter esse avanço avassalador da Covid-19. Não podemos excluir a hipótese do retorno da política de Covid zero com o intuito de ganhar tempo para acelerar o processo de vacinação dos mais idosos e, quem sabe, produzir a própria vacina mRNA.
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