A melhor fase da Copa, a da profusão de jogos que frequentemente opõem seleções campeãs às de países fora do mapa futebolístico, acabou. Não teremos mais muitas oportunidades de ver uma Arábia Saudita derrotando a Argentina, entre outras zebras. O fenômeno interessante a analisar aqui é por que, quando o escrete de nossa preferência não joga, invariavelmente nos pegamos torcendo pelo selecionado mais fraco.
Há precedentes bíblicos para a predileção. Pensem em Davi e Golias. E há evidências empíricas de que essa preferência se manifesta em campos tão distintos como negócios, política, artes e, é claro, esportes. A coisa é tão saliente que podemos classificá-la como um viés cognitivo. Em inglês, ele leva o nome de "underdog effect" (efeito azarão ou efeito zebra).
Num experimento dos anos 90, J. Frazier e E. Snyder, mostraram que 80% dos estudantes testados preferiam, entre dois times hipotéticos, torcer pelo que tinha menos chance de conquistar o campeonato. Mas, quando informados de que o azarão vencera as primeiras três partidas de uma melhor de sete, metade deles virou casaca e passou a apoiar o favorito.
Há várias explicações para o fenômeno. Por uma delas, temos prazer intrínseco no "Schadenfreude", a alegria em ver terceiros, em especial os poderosos, quebrando a cara. Um outro viés, a falácia do mundo justo (a ideia de que o Universo busca sempre o equilíbrio), complementa essa explicação. Numa linha mais individualista, pode-se dizer que, quando não temos um claro envolvimento emocional, procuramos maximizar nosso prazer. E resultados inesperados tendem a ser mais hedônicos do que os já precificados.
Basicamente, adoramos ser surpreendidos por narrativas em que o mais fraco vence o mais forte. Isso, é claro, desde que não tenhamos envolvimento direto. Se tivermos, vale o meu pirão primeiro.
PS – Dou dez dias de férias ao leitor.
Nenhum comentário:
Postar um comentário