domingo, 25 de dezembro de 2022

Ontem e amanhã, Editorial FSP

 A nomeação do petista Aloizio Mercadante para o comando do BNDES causou previsível apreensão.

O ex-ministro de Dilma Rousseff foi também coordenador dos planos de governo do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Essas diretrizes reafirmavam o compromisso com políticas adotadas entre 2008 e 2014, que não surtiram resultado ou contribuíram para um colapso econômico prestes a completar uma década.

O aumento de gastos proposto para o Orçamento de 2023, a composição da equipe econômica até agora, a indisposição quanto a reformas e a falta de clareza sobre o futuro da política fiscal completam um quadro de incertezas.

No caso do BNDES, uma volta ao passado não muito distante significaria refazer do banco um instrumento de subsídios para o setor privado, em especial para grandes empresas, com despesa bancada por endividamento do governo.

Entre as gestões de Lula e Dilma, a participação do BNDES no total de crédito bancário do país subiu até 21%. Hoje está em 8,5%.

Sob a ex-presidente petista, o crescimento econômico passou a diminuir, as pressões inflacionárias se intensificaram, a participação da indústria de transformação no PIB caiu —e as empresas beneficiadas, que não padeciam de restrição de acesso a crédito, mais baratearam seu capital do que aumentaram seus investimentos.

Em encontro com dirigentes de companhias, Mercadante sustentou que temores sobre sua indicação seriam infundados. O "BNDES do futuro", disse, será um complemento do mercado de crédito e de capitais, dedicado a parcerias, à inovação, à preocupação ambiental e a pequenas empresas.

Não seriam recriadas taxas de empréstimos subsidiados. O banco, segundo seu futuro presidente, não pode contar com repasses do exaurido Tesouro Nacional. Anunciou-se, além disso, uma equipe que inclui nomes com carreira no setor financeiro privado.

O BNDES ainda pode ter um papel a cumprir. Empresas pequenas ou inovadoras têm dificuldade para obter crédito. A instituição pode servir de garantidor em esquemas de financiamento maiores, sem comprometer muito capital. Outra possibilidade é atuar na área de estruturação de projetos.

Terá papel tanto mais útil quanto mais forem removidas distorções tributárias e regulatórias que impedem um emprego eficiente dos recursos no país. Logo, sua atuação não depende apenas das boas intenções de sua direção, mas do programa maior de governo.

Espera-se, pois, que as palavras de Mercadante ganhem sentido prático —e que o BNDES do passado permaneça enterrado sob os escombros das políticas de Dilma.

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