domingo, 25 de dezembro de 2022

Saudades da transição de FHC para Lula, Elio Gaspari, FSP

 Há 20 anos, Fernando Henrique Cardoso passou a faixa a Lula numa transição que podia sinalizar um processo civilizado para o futuro.

FHC levou caneladas antes, durante e depois da eleição. Passou o governo a Lula com a marca da elegância durante um período de incerteza econômica.

Convidou Lula e Marisa Letícia, sua mulher, para um encontro no Alvorada e, dias depois, FHC e Ruth Cardoso jantaram na Granja do Torto, colocada à disposição do presidente eleito.

Está nas livrarias "Eles Não São Loucos", do repórter João Borges. Ele conta os bastidores das iniciativas que garantiram a paz nacional.

Agora, sem maiores piripacos na economia, a transição civilizada revelou-se uma ilusão. Ninguém sabe como Jair Bolsonaro se comportará. Restará apenas a amargura de uma tensão inútil.

Cinco pessoas brancas aparecem na imagem. Um home de cabelos grisalhos e terno azul coloca a faixa verde e amarela em outro homem de cabelos grisalhos, barba e terno escuro. Atrás deles, um homem calvo observa sorrindo. No canto, uma mulher com cabelos curtos e loiros, com um vestido vermelho de manga na altura dos cotovelos, sorri. Ao lado dela, outro homem calvo, cabelos e bigode branco, observa a passagem da faixa
Fernando Henrique Cardoso passa a faixa presidencial para o presidente Lula, em Brasília. Da esquerda para a direita: Marisa Letícia, primeira-dama, José Alencar, vice de Lula, e Marco Maciel, vice de Fernando Henrique - Moacyr Lopes Junior - 01.Jan.2003/Folhapress

MINISTÉRIO DE LULA

Até agora, o ministério de Lula parece-se com um automóvel que sai da oficina depois que o mecânico desmontou o motor, fez alguns acertos e trocou peças. Parece-se também com a salada de frutas de centro-direita que na política de Portugal denominou-se de "geringonça".

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Lá, só se conseguiu avaliar a máquina quando ela começou a funcionar, e funcionou por quatro anos. Cá, só se vai saber se o carro com 37 ministros funciona direito quando ele estiver na estrada.

RECONCILIAÇÃO A IRREDUTIBILIDADE

Enquanto existirem presos e carcereiros alguém se lembrará da história de Nelson Mandela com Christo Brand, que vigiava a cela onde ele passou 18 dos 27 anos de encarceramento. O preso tornou-se presidente da África do Sul e o carcereiro continuou sua vida de humilde servidor público.

Ao encontrá-lo numa sessão do Congresso, Mandela o abraçou e pediu que sentasse ao seu lado para serem fotografados.

Mandiba, como era conhecido Nelson Mandela, queria reconciliar a África do Sul depois de décadas de segregação racial.

Depois de Bolsonaro, em menor medida, o Brasil precisa de paz.


O futuro ministro Flávio Dino desconvidou o futuro chefe da Polícia Rodoviária Federal porque ele exaltava o juiz Sergio Moro e comemorou a prisão de Lula. Se não devia tê-lo convidado, não deveria tê-lo desconvidado.

Dino escolheu o coronel da PM paulista Nivaldo Cesar Restivo para a Secretaria Nacional de Políticas Penais. Há 31 anos, como tenente, ele estava na logística da operação policial que resultou no massacre de presos do Carandiru, onde foram mortos 111 presidiários. Nunca foi acusado de nada. Incriminá-lo por "estar presente" é um exagero.

Atribui-se a Restivo a afirmação, feita em 2017, de que o desfecho da operação foi "legítimo e necessário’’.
O coronel é um servidor respeitado no sistema penal. Acusado, recusou o convite. Poupou Dino de um constrangimento. Christo Brand nunca maltratou o preso Mandela.

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