terça-feira, 27 de dezembro de 2022

RMVale tem primeira fábrica de plástico 100% biodegradável da América Latina, Meon

 Imagine se ao invés de se preocupar em reciclar um plástico, você pudesse cavar um pedacinho de terra, enterrá-lo e saber que ele iria se dissolver e se decompor sem causar nenhum prejuízo ao meio ambiente.

É isso que pode ser feito com o bioplástico produzido pela Bioreset, startup instalada no Centro de Inovação e Empreendedorismo (CIEJ), em Jacareí, a 80 km da capital paulista. A iniciativa é única em produção na América Latina e tem investimento de mais de R$ 2 milhões

Depois de testarem em laboratório, os empreendedores Fernando Piovesana, Carlos Sassano e Giovanni Bortolansa decidiram colocar em prática a metodologia que promete revolucionar a forma como se produz plástico na América Latina.

A primeira etapa de produção começou em Jacareí com incentivo de empresas e organizações como Senai, Sebrae e Embrapii.

Como o novo plástico é feito e porquê é diferente dos que existem no mercado:

O plástico biodegradável da Bioreset é produzido a partir de um processo patenteado que coloca bactérias para fermentar resíduos industriais orgânicos, produzindo o bioplástico.

Ou seja, é como se as bactérias “consumissem” os descartes da indústria de bebidas ou alimentos e devolvessem nesse processo o material orgânico que é transformado no bioplástico. O diferencial dessa tecnologia é que o bioplástico resultante dessa fermentação microbiana é um plástico que se desfaz completamente quando em contato com o meio ambiente.

"Muitos dos ditos plásticos biodegradáveis que temos no mercado usam aditivos e, se deixados na natureza, vão se esfarelar em pequenas partículas de plástico, que se infiltram nos oceanos, nas águas e pode ser ingerido por peixes e, consequentemente, por nós", explica Fernando Piovesana, CEO e fundador da Bioreset.

Tanto é que existem estudos que indicam que as pessoas estão hoje ingerindo em média 5g de microplásticos por semana, o equivalente a comer um cartão de crédito a cada sete dias. "Já o bioplástico da Bioreset pode tanto ser reutilizado por meio da reciclagem, transformando-se em novos produtos bioplásticos, quanto descartado diretamente em aterros sanitários, onde se decompõe totalmente em cerca de 6 a 12 meses", reforça Piovesana.

Bioreset/Divulgação
Bioreset/Divulgação
Laboratório da Bioreset, parte da fábrica-piloto de Jacareí (SP)


A versatilidade do bioplástico produzido pela Bioreset, além de interessante para o mercado, é uma tecnologia pioneira na América Latina, que também se conecta fortemente com o conceito da economia circular. Em sua produção, é possível transformar resíduos industriais em matéria prima para a produção de embalagens e peças plásticas 100% biodegradáveis. E, com isso, gerar uma dupla redução de resíduos no meio ambiente.

O aproveitamento do que, para a indústria, seria lixo, para a produção de um polímero 100% biodegradável torna o processo mais barato, assim competitivo com o plástico poluente, e se conecta com as práticas de ESG que as indústrias do mundo todo têm se dedicado em adotar.

"O bioplástico que oferecemos é uma grande avanço para a indústria, já que é processado com menor consumo de energia e permite reutilizar resíduos orgânicos, que são utilizados como insumos para a fermentação microbiana que produz nosso plástico", descreve Giovanni Bortolansa, co-fundador e COO da Bioreset.

Fábrica pioneira na América Latina

A Bioreset está em operação desde 2020 em instalações dentro da incubadora de startups "Inova Jacareí", projeto da prefeitura que estimula o empreendedorismo na cidade. A partir de um aporte de mais de R$ 2 milhões advindo de investidores anjo, suporte do SEBRAE e do Embrapii, além do apoio de pesquisa do SENAI Mário Amato, a Bioreset montou uma fábrica piloto que já produziu as primeiras amostras para testes no mercado, em parceria com grandes empresas, e se prepara para implantar uma fábrica com capacidade produtiva de mais de 100 toneladas de pellets do bioplástico orgânico, a partir do próximo ano.

"Essa produção vai nos auxiliar a testar o processo de injeção do nosso bioplástico em escala industrial, refinando uma tecnologia inovadora que está sendo criada aqui no Vale do Paraíba e pode ser ampliada para o mundo. A expectativa é que dentro de 3 a 5 anos possamos aumentar essa produção para 5 mil toneladas", prevê Piovesana.

Hoje, existem apenas cerca de 12 empresas que produzem polímeros biodegradáveis como o que está sendo desenvolvido pela Bioreset, e todas elas se concentram nos Estados Unidos, Europa e Ásia, o que faz da startup uma pioneira na América Latina. Tanto é que a startup chamou a atenção de gigantes do mercado, tendo participado em 2021 do programa Aceleradora 100+ da Ambev e, mais recentemente, da Braskem, multinacional e líder no mercado de plástico no país, que os convidou para fazer parte do Braskem Labs, programa de inovação aberta da companhia para a aceleração de projetos.

"Uma das grandes dificuldades de se livrar do uso de plástico na produção é o preço, já que versões mais ecológicas tendem a ser mais caras. A nossa formulação permite produzir um plástico não apenas mais sustentável, mas também bastante competitivo no mercado", celebra Bortolansa. No longo prazo, a expectativa dos fundadores é que o desenvolvimento da tecnologia venha a gerar novos postos de trabalho na região, especialmente de profissionais da área bioquímica e industrial, que poderão atuar tanto no desenvolvimento laboratorial quanto na fábrica.

Sobre a Bioreset

Criada em 2019, a Bioreset é uma startup que possui uma tecnologia patenteada de produção de plástico orgânico e 100% biodegradável, que se desfaz na natureza sem se fragmentar em microplásticos. A tecnologia, desenvolvida em uma planta piloto em Jacareí, no interior de São Paulo, é capaz de fabricar um bioplástico mais ecológico do que o atual "plástico verde", já que pode ser compostado diretamente nos aterros sanitários ou reciclado para reutilização posterior. Parte do programa de aceleração Braskem Labs, da multinacional Braskem, a Bioreset também conta com apoio do Embrapii, SEBRAE e SENAI Mario Amato.


Nenhum comentário: