segunda-feira, 12 de dezembro de 2022

Walter Casagrande Jr. Democracia Corintiana comemorou primeiro título há 40 anos, FSP

 Nesta segunda-feira (12) faz exatamente 40 anos do primeiro título da Democracia Corintiana.

1982 foi um ano mágico, difícil, mas muito perigoso para os componentes daquele movimento.

O grupo final foi sendo montado após o Campeonato Brasileiro, em que saímos da Taça de Prata e fomos até a semifinal, quando fomos eliminados pelo Grêmio.

Foram jogadores e cidadãos escolhidos a dedo, porque a maioria já estava no clube.

Fizemos um Campeonato Paulista espetacular, em todos os sentidos, e quase ganhamos o título direto, vencendo os dois turnos.

Éramos hiperfocados, porque sabíamos da imensa responsabilidade de defendermos a democracia num país com uma ditadura militar que ainda era muito violenta.

Só para lembrar que o atentado do Riocentro foi executado, sem sucesso, pelos próprios militares, no dia 30 de abril de 1981.

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Todos os jogadores, mesmo aqueles que pouco participaram externamente da luta política, foram imensamente importantes no processo todo. Nós tínhamos a mesma importância naquela luta.

Claro que os mais expostos foram eu, o Magrão e o Wladimir, porque fomos para luta pela democracia social, e não só a corintiana. Fomos perseguidos e fichados no Dops exatamente pelas nossas ideias e movimentos daquele ano.

Fizemos partidas brilhantes no campeonato, gols incríveis de velocidade com meu irmão de bairro, de colégio e de fé, Ataliba.

Lançamentos e batidas de faltas geniais do Zenon.

Tabelas mágicas de uma dupla, um casal, dois amigos que eram unidos através do amor.

Sócrates e Casagrande surgiu naquele ano de 1982, e ficou para a eternidade. Nada mais consegue separar a nossa alma e a nossa paixão.

Na semana da grande final do Paulista, chegou até a direção do clube, por meio de um informante, que estavam preparando uma armadilha para mim.

Eu era o mais frágil, porque era um adolescente de 18 anos e que estava tendo uma influência comportamental na juventude daquele momento (isso está na minha ficha do Dops). Queriam brecar isso e acabar com o nosso movimento.

Decidimos juntos que eu iria ficar no hotel a semana toda, mas todos os jogadores solteiros e o ponta "coringa" Eduardo Amorim, casado, resolveu que iria também ficar. E assim foi.

Vencemos o primeiro jogo da final, dia 8 de dezembro de 1982, quarta-feira à noite, por 1 a 0, com gol de Sócrates. E fomos para o dia 12 de dezembro só precisando do empate.

Domingo de sol, às 16 horas, com o Morumbi lotado para assistir à final dos dois grandes times do estado naquele momento: Corinthians x São Paulo.

Uma tarde inesquecível por tudo que fizemos e passamos naquele ano.

Time posado para foto no gramado
O time do Corinthians campeão paulista de 1982, primeiro troféu da Democracia Corintiana - José Maria da Silva/Folhapress

Lembro-me do nosso time, já no túnel para entrar em campo. Percebemos que no sistema de som do estádio estava tocando a música "Andar com Fé, do Gilberto Gil. Naturalmente, todos nós começamos a cantar. Entramos em campo com "Andar com fé eu vou, que a fé não costuma falhar".

Arrepia e me vêm lágrimas nos olhos até hoje quando me lembro desse momento. Foi uma das coisas mais lindas de que participei e presenciei na vida.

Vencemos por 3 a 1, com dois gols do Biro-Biro —o terceiro foi meu—, com o Dario Pereira fazendo para o tricolor.

Uma cena marcante foi eu e o Magrão atravessando o campo, correndo de mãos dadas. Aquilo foi um final feliz, como se fosse consumada uma paixão inesgotável.

À noite, antes de encontrar com todos para comemorarmos, passei no extinto restaurante Spazio Pirandello, na rua Augusta, que era um ponto de encontro cultural e político de esquerda da época. Todos os domingos eu passava por lá. O saudoso Antônio Maschio, dono do restaurante, já trouxe uma champanhe para comemorarmos o título.

Foi assim o dia 12 de dezembro de 1982.


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